quarta-feira, 16 de março de 2011

O peso das exportações, literalmente

O Brasil manteve em 2010 um forte superávit comercial. Foram mais de US$ 20 bilhões em superávit, decorrentes de US$ 202 bilhões exportados e US$ 182 bilhões importados. O saldo da década (de 2001 a 2010) foi mais de US$ 276 bilhões de superávit, sendo que o melhor resultado ocorreu em 2006, quando somente naquele ano as exportações superaram em mais de US$ 46 bilhões as importações. Ano passado o superávit não foi recorde, mas tanto exportações quanto importações tiveram seus maiores volumes históricos no período. Em termos gerais o Brasil tem avançado na globalização e no incremento de suas linhas de comércio e na diversificação de parceiros, o que é muito bom.

Muito se fala que o Brasil exporta ainda uma grande quantidade de produtos básicos e importa produtos de valor agregado maior. É verdade e, a despeito do bom desempenho do preço das commodities na última década, o País deveria adotar um programa para incrementar a competitividade, e reduzir ainda mais o risco de exposição exagerada a um tipo de produto (as commodities). Se o País teve um bom desempenho em reduzir o risco de concentração de linhas de comércio ao abrir frente em novos mercados e trabalhou para ampliar a pauta, está na hora de dar um salto maior de qualidade das exportações. Enquanto os preços de commodities estiverem altos, talvez esse salto de qualidade não esteja na lista de prioridades do governo.

Ao contrário do que alguns analistas crêem, a Fecomercio não vê um cenário de curto ou médio prazo em que os preços das commodities venham cair. Ainda que a China reduza o ritmo de crescimento, o consumo global vai continuar elevado para grãos, óleo, energia, e outros setores. Também existe a grande probabilidade de que os mercados americanos e europeus se recuperem no médio prazo – essa é nossa aposta para o biênio 2011/2012. Além desses fatores, imaginem se a Índia decidir que quer crescer também? Teremos outro fenômeno parecido com o chinês – a título de curiosidade, a renda per capita da china hoje é de US$ 4 mil dólares, um terço do Brasil, e a da Índia de US$ 1,4 mil, um terço da chinesa. Existe enorme espaço para a China crescer, mais ainda para a Índia, e, sem dúvida, também para o Brasil. Essa situação faz descartar uma hipótese pessimista com relação aos preços de produtos básicos como algo provável. O cenário básico ainda é de bom período de preços elevados de commodities, com alguma volatilidade. Nem mesmo o terremoto japonês deve arrefecer esse mercado. Ao contrário, esse deve ser um momento de maior consumo de energia e de reconstrução, o que eleva a demanda global.


Ainda que as nossas apostas indiquem que os preços de commodities devam se manter favoráveis aos brasileiros, não é motivo para não darmos um salto de produtividade e de competitividade.  Ao contrário, as boas práticas da economia mostram que em momentos favoráveis devemos nos preparar para os imprevistos negativos do futuro. Essa é uma regra quase bíblica. O País parece apenas fazer reformas e adotar ações enérgicas apenas à beira de crises.  O lado negativo dessa concentração das exportações em commodities não é evidente, nem explícito.

Uma avaliação interessante a se fazer é o peso total importado e exportado. Isso dá uma idéia de valor agregado por quilo. No caso brasileiro em 2010, cada quilo exportado valia US$ 0,39 e o importado US$ 1,31, ou 3,4 vezes mais. Na década, os produtos tiveram incremento de 72% no preço do quilo exportado e de 118% no quilo importado, em média. O superávit,  se deve muito mais ao espantoso volume consumido de commodities do que efetivamente ao ganho de preços, até porque os preços dos importados subiram mais.  Se pensarmos em termos de esforço e infraestrutura, vamos perceber que, para conseguir esse superávit o Brasil teve que produzir e transportar muito mais peso do que nossos fornecedores. Isso exige mais estradas, mais manutenção de máquinas, mais caminhões, trens e mais horas embarcando produtos no porto. Dá para imaginar que o volume exportado também é muito maior do que o importado, ou seja, carregamos mais peso e ocupamos mais espaço do que nossos fornecedores no processo do comércio mundial. Não está na hora de darmos mais um salto competitivo?

Assessoria Técnica 

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