O consumidor terá que arcar, mais uma vez, com o peso da alta de juros, e das restrições de crédito. Será a postergação do sonho do carro novo ou da casa própria que vai financiar o aumento de gastos do governo.
Convém não se enganar: o corte de R$ 50 bilhões no orçamento é, na verdade, um aumento de R$ 62 bilhões de gastos. Nossa contabilidade também seria difícil de ser entendida pelo marciano. A novidade é que não há novidade. Antecipamos com razoável precisão que o BC iria desistir de controlar a demanda via juros e iria passar a atuar sobre o mercado de crédito.
Nas entrelinhas, o BC deixou transparecer que quer reduzir o crescimento do crédito de 20% ou 25% ao ano para algo mais próximo de 10% ou 15%. O problema é que alguns setores muito importantes e ainda nascentes no Brasil dependem inteiramente do desempenho do sistema financeiro na cessão de créditos. É o caso do imobiliário, que tem sido uma vedete de nossas mudanças sociais e do crescimento – sem contar das fantasias do Minha Casa Minha Vida.
Já que o BC passou a tabelar o crescimento do crédito, sugerimos que seria melhor abandonar o sistema de metas de inflação e criarmos um sistema de metas para o crediário: crescimento de 12,5% com margem de mais ou menos 2,5 pontos porcentuais ao ano. Pronto! Pelo menos todos nós, consumidores e empresários, trabalharíamos com uma perspectiva de crescimento de mercado já desenhada pelas autoridades, e o mercado não precisaria se preocupar em ser o mercado, e agir como o mercado.
O grande problema não é a ação do Banco Central em si. Fora a anedota do caso, sabemos que o descontrole de gastos do governo tem que ser enfrentado e ajustado e também já sabíamos que a autoridade monetária ficaria quase sem alternativas. Veio tentando aumentar compulsório, elevar a Selic, elevar exigências para o mercado de automóveis, mas nada disso surtiu o efeito no prazo desejado. Com os dados de aquecimento acima do esperado nos primeiros dois meses de 2011, o BC decidiu fazer aquilo que já imaginávamos, e cerceou um pouco mais o mercado de crédito. E vai continuar nessa toada, podemos apostar. Mas ainda assim, estava na hora de começarmos a fazer o que deve ser feito e deixarmos de lado as improvisações, ou então nos conformarmos com a incapacidade de crescer e consumir de forma mais robusta como em 2010.
Assessoria Técnica
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