quarta-feira, 11 de maio de 2011

A trombada no segundo semestre

O desequilíbrio macroeconômico em nosso País, referente principalmente à solvência das contas públicas no longo prazo, faz manter uma taxa de juros muito elevada, mesmo em momentos de crescimento econômico baixo. Comemoramos, em 2010, pela primeira vez taxas de juros básicas de um dígito, e rapidamente voltamos a dois dígitos. No melhor momento de nossa história de juros, a Selic ficou próxima de 10%. Nesse mesmo período, as taxas europeias e americanas estavam rodando entre 0% e 2%.
Na realidade a economia da Europa e dos Estados Unidos afundava em 2009, e teve um ritmo de crescimento baixíssimo em 2010. Em parte isso explicaria o diferencial de juros, mas em outras regiões como o sudeste asiático, o crescimento foi semelhante ao do Brasil (em 2009 e 2010 foi em geral maior) e as taxas de juros vigentes são inferiores à metade da brasileira.
Não é a ideia central do texto de hoje discutir porque o Brasil não consegue reduzir a sua taxa de juros (tanto a taxa básica quanto à praticada no mercado consumidor), mas sim identificar quais efeitos colaterais esse fenômeno enseja. O principal efeito é o a necessidade de uma forte restrição de demanda para conter a pressão de preços. No Brasil, para conter um pouco de inflação, precisamos de muita restrição, ou seja, a política monetária não é muito eficiente em conter inflação sem antes gerar um desaquecimento exagerado. Esse é o cenário que começa a se desenhar para o segundo semestre deste ano: inflação alta e cedendo muito lentamente, e freada brusca no lado real da economia.
Alguns dados começam a ajudar nessa análise. O início de 2011 foi até um pouco mais aquecido do que era esperado, com boas vendas no varejo e forte aquecimento do setor de autos, exatamente no mesmo ritmo de 2010, um ano recorde para o segmento. A partir de fevereiro e março o cenário começou a mudar, e o que impressiona é a velocidade desse ajuste. Os principais segmentos a apontar essa desaceleração são o automobilístico e o imobiliário. No setor de automóveis, 2011 começou com vendas e produção crescendo de 15% a 20% e a partir de abril as taxas caíram muito. Tanto que, até abril a produção acumula crescimento de 3,8% e as vendas 4,6%, muito abaixo do desempenho de 2009 e 2010, e mesmo dos dois primeiros meses do ano. No setor imobiliário as vendas já mostravam desaquecimento desde janeiro, e com dados acumulados até março, o desempenho mostra queda de vendas na capital paulista de mais de 20% neste ano.
Pode ser que esses dados sejam apenas pontos fora da curva, mas algo indica que a probabilidade de que esses resultados sejam um indicador efetivo de desaquecimento é grande. Grande porque não só esses setores se mostram em desaquecimento, mas o IBGE divulgou na semana passada dados mostrando que a indústria brasileira em março, pela primeira vez em muitos meses, mostrou queda em relação ao mesmo período do ano anterior. Esses sinais combinados combinam bem com o arrocho que foi dado sobre o setor de crédito. No consumo os segmentos mais dependentes de crédito são justamente o de autos e o imobiliário e para o fomento industrial a disponibilidade de crédito é muito importante. Vamos nos manter atentos para que, se a freada for forte, que pelo menos se evite a trombada.

Assessoria Técnica

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