Uma das regras mais claras da economia se refere à relação de oferta e demanda. Há uma disputa conceitual quase ideológica sobre quem vem primeiro: a demanda gera a oferta ou a oferta gera a demanda. A pergunta em si parece um pouco fora de propósito até conceitualmente, pois provavelmente demanda e oferta andam muito próximas e uma “puxa” a outra. É verdade que um potencial mercado atrai investidores, mas também é verdade que o investimento cria uma demanda potencial.
Independentemente dessa discussão, mais retórica do que prática, os mercados funcionam sempre se retroalimentando de informações. Os consumidores tendem a ser mais pródigos quando percebem que a economia está crescendo, e mais ainda se esse movimento positivo estiver perdurando há algum tempo, o que aumenta a confiança na manutenção da renda e do emprego. Do outro lado, empresários investem com base em uma série de fatores como juros, capital disponível, impostos etc., porém nada mais importante do que a expectativa de terem uma demanda robusta, duradoura e consistente. Dá para entender por que demanda e oferta são interdependentes da situação efetiva e mais ainda dos prognósticos de cada um.
Estando acordado que é assim – ou mais ou menos assim – que o mercado funciona, podemos então concluir também que existem negócios que se adaptam a qualquer momento econômico (chamados de “resilientes”), alguns que nunca deslancham qualquer que seja o ambiente de negócios e os que são viáveis apenas em janelas de oportunidade. Existem negócios que reagem mais ou menos às variações dos ciclos econômicos, e é sob esse prisma que devemos avaliar oportunidades de investimento. Os riscos são maiores quanto maior for a sensibilidade dos negócios ao ciclo. Porém, os retornos em alguns momentos são, por sua vez, maiores do que a média. O segredo está em escolher a hora de entrar e a hora de sair, quando necessário. O empresário não pode se sentir “pai” de seu negócio e tem que praticar o desapego em determinadas circunstâncias. O sucesso financeiro não é só de quem ganha muito dinheiro, mas também de quem não perde muito.
Em tempos de forte atividade econômica, como os que o Brasil viveu nos últimos dois anos, muitos negócios e empreendimentos “pipocam”. Alguns observam certo sucesso mesmo com uma administração não tão boa assim, e às vezes até ideias um pouco estapafúrdias ganham status de negócios nos momentos em que o consumidor é fugaz e muito confiante, com emprego, renda e crédito abundantes.
Se no Brasil tivemos um pouco desse sabor entre 1994 e 1997, e depois entre 2009 e 2010, nos Estados Unidos essa realidade se alongou (demais) e os mais bizarros negócios prosperavam. Neste ambiente, muitos negócios verdadeiramente supérfluos avançam e produtos basicamente inúteis são vendidos. O consumidor mais fugaz do mundo, nessa última década, talvez seja o americano, que consumiu tudo o que a criatividade dos empresários (principalmente chineses) pôde sugerir.
Em tempos “bicudos”, o cenário muda muito e um ataque de racionalidade se abate sobre os consumidores. A avaliação se torna mais realista e, o indivíduo, marginalista (aquele que, segundo os economistas, calcula a utilidade de cada aquisição frente ao dinheiro que terá que desembolsar). Surge esse ser frio e calculista que é o homus economicus, versão oposta à do consumidor voraz que existia dentro dele quando o mundo era um parque de diversões. Esse novo consumidor, muito severo, uma versão da história de Jeckyl e Hyde, causa sérios danos aos setores e produtos considerados supérfluos. Nesse ambiente mais hostil, nem todo negócio e nem todo produto serve. E nem toda administração é tolerada.
Esse ambiente mais hostil se desenha agora no Brasil de 2011, mais especificamente a partir do segundo semestre. O emprego não evolui como ocorria no passado recente, os juros dos empréstimos estão crescendo e alguns setores dão sinais de que por enquanto o ritmo de crescimento não será mais o de 2010. Nesse ambiente, o profissionalismo e a percepção correta de necessidades, mais do que desejos frívolos, levam vantagens significativas. Consideramos que, setores vinculados ao lazer, serviços de tecnologia e comunicação, alimentação fora do domicílio, lojas de produtos muito supérfluos (o conceito é pouco preciso, mas todos temos nossa estrutura de prioridades) vão atravessar momentos mais difíceis nos próximos meses.
Queremos alertar que o consumidor será levado a ser mais severo, austero e a sedução fácil está suspensa até um novo ciclo de expansão mais vigorosa. A tendência é de que esse ajuste possa perdurar até meados de 2012, se tudo correr bem, o que significa que os empresários destes segmentos devem ficar atentos e estabelecer metas mais factíveis. Também queremos lembrar que há a hora de entrar e a hora de sair dos negócios. Esse é um bom momento para se avaliar as hipóteses, antes que seja tarde para quem quer sair ou para quem quer investir agora para colher no momento mais fértil.
Assessoria Técnica
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