quinta-feira, 5 de maio de 2011

Em breve, teremos aumento de combustíveis

Aprendemos bem cedo a traduzir frases de autoridades para o português corrente. Em 1983, em uma das memórias jornalísticas e políticas, o então ministro da Economia, Delfim Netto, garantia que não haveria maxidesvalorização do cruzeiro. Imaginávamos que o que o ministro estava dizendo era que o dólar não iria disparar. O problema é que não eram poucos os que alertavam imediatamente após a notícia: “pronto, vai disparar o dólar!”.
Ninguém se defende de algo que não é acusado. Nenhum ministro diz que não vai haver mudança cambial se o assunto não está posto à mesa. Com o passar dos anos, aprendemos que, quando autoridades econômicas falam de algum assunto como câmbio, preços, inflação ou impostos, normalmente é porque estão sendo forçados a isso. Se estão sendo forçados a falar, é porque há rumores, e se há rumores é porque existe risco.
Quando o ministro Lobão deu a declaração essa semana sobre resistir ao aumento da gasolina, a reação foi imediata a muitas pessoas, praticamente um reflexo condicionado. Foi espontânea a obviedade da futura alta de preços. Não há nenhum motivo para que o ministro Lobão venha a público dizer que iria resistir contra a alta de preços se não houvesse uma forte pressão para que a gasolina fosse reajustada.
A mudança de humor que se abateu sobre os mercados, com relação ao desempenho econômico geral do Brasil, não tem efeitos restritos apenas à bolsa. O câmbio, nos últimos dias, voltou a se desvalorizar um pouco. Claro, ainda está extremamente valorizado, mas o movimento dá sinais de que nesses dias será de desvalorização, ao menos enquanto pairarem algumas dúvidas sobre dados importantes, principalmente inflação e desempenho da demanda agregada.
De qualquer forma, nesse momento, o ciclo, que foi extremamente virtuoso para o Brasil nos dois ou três últimos anos, não está sendo favorável agora. Mais inflação alimenta dúvidas, que podem pressionar maior desvalorização marginal do câmbio, pior desempenho nas bolsas, e o ciclo se realimenta, com mais inflação, via cambial (irônico também, não?) e assim por diante.
O governo e a equipe econômica não estão cometendo nenhum erro fatal. Não há um pecado capital na condução da política econômica. Ocorre que a sorte não pode ser tida como eterna e em momentos de turbulência, algo a mais do que o normal, do que o apenas razoável é o que diferencia os grandes.
Também é fato que a exposição exagerada do ministro Mantega não ajudou nas últimas semanas. Esse é o momento de ser ousado, de usar além da política monetária e creditícia, inovações, novas soluções para novos problemas. O governo tem que criar uma agenda positiva crível, e a Fecomercio dá algumas sugestões:
1. Iniciar um processo de discussão sobre a desindexação de preços, contratos e salários;
2. Iniciar um processo de troca da dívida atual vinculada a taxas de juros flutuantes por uma dívida com taxas de juros fixas, e de mais longo prazo;
3. Ousar no orçamento, propondo um pacto para estabilizar o crescimento dos gastos públicos em patamares inferiores ao crescimento do PIB por uma década;
Não são projetos fáceis, mas são factíveis, e seus resultados certamente compensam qualquer esforço. Além disso, se essa agenda for bem articulada e crível, com a sociedade apoiando de fato, os benefícios podem se materializar bem antes de sua implementação completa.

Assessoria Técnica

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