O mau humor do mercado continua nesses dias. Na realidade, não existe um indicador oficial de “mau humor”, mas, geralmente, o mercado financeiro, através dos resultados do Ibovespa e do câmbio, espelha muito bem como os analistas e investidores estão interpretando a situação econômica. De uns tempos para cá, houve uma pequena piora de percepção. Essa piora também é captada junto ao consumidor por meio de indicadores como os que a Fecomercio produz: o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) e a Intenção de Consumo das Famílias (ICF). Em todos os casos, os indicadores apontam para um cenário menos positivo do que o que era previsto no início do ano.
Uma parte disso se deve efetivamente ao efeito retardado das políticas monetárias restritivas adotadas ainda no final de 2010, e outra parte está muito vinculada à percepção de que as primeiras atuações do novo governo no cenário econômico não foram boas, seja nos episódios já citados das medidas de controle inflacionário, seja no movimento de intervenção extraoficial na Vale, por exemplo. Mas, o que mais preocupa no momento é que, o lado real da economia também começa a dar sinais de que o desempenho do ano pode ser pior do que o que se imaginava.
Com relação ao mal estar causado pelo relativo descompasso inicial da equipe econômica, a preocupação é até menor porque sabemos que se a economia andar bem, esses pequenos desatinos são perdoados e até esquecidos, minimizados. Mas, se a economia começar a dar sinais de que está patinando, uma lente de aumento será colocada sobre esses eventos do início do ano, e certamente essa mesma equipe vai sofrer muito. É assimétrico e até injusto, mas é assim.
O nome do jogo é inflação, com o sobrenome crescimento da atividade econômica. Corremos o risco de ter um primeiro semestre marcado negativamente pelos impactos da inflação e, no segundo semestre, quando provavelmente os preços começarem a se ajustar, teremos o impacto do mau desempenho do setor produtivo (indústria e varejo).
Esse não é um início propriamente fácil para a presidente Dilma. E por onde devemos começar? O combate a inflação é primordial, mas não pode cegar a equipe a ponto de, em ritmo de desespero, cometerem-se erros que coloquem em risco o crescimento do PIB. Do lado real estão lojas, indústrias, consumidores e empregados que temem a inflação, mas temem mais ainda uma recessão. Os dois juntos então seria o pior dos mundos.
Para a Fecomercio, apesar de todos os problemas, a inflação será controlada no segundo semestre, após atingir seu pico em algum momento próximo do meio do ano. Mesmo sem as condições ideais, o Banco Central tende a corrigir os rumos e recolocar o IPCA abaixo de 5,5% ao final de 2011. Por outro lado, um manejo exagerado das políticas restritivas, combinado com um início inadequado de gestão de imagem e de política econômica, podem ser fatais.
Estamos muito atentos a alguns dados que podem oferecer essa dica aos nossos gestores – e temos quase certeza de que tanto a Fazenda quanto o BC estão de olho nos mesmos dados, mas não custa apontar. Fazem parte desse grupo de informações o desempenho de produção e de vendas (licenciamento) de veículos e os lançamentos e vendas de imóveis. Acompanhar dados do Secovi e da Anfavea, com a devida análise, tem sido primordial para entendermos os efeitos das políticas sobre o lado real da economia. Mais do que isso, é certo que, de dentro para fora, esses segmentos contaminam (para bem ou para mal) os resto da economia. Uma dica: amanhã saem os dados da Anfavea e na semana que vem de vendas de imóveis do Secovi. Temos a impressão de que os resultados vão confirmar uma desaceleração econômica.
Assessoria Técnica
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