terça-feira, 12 de abril de 2011

Sinais incertos do governo geram desconfiança do mercado

Pode-se dizer que o Economix Express antecipou os resultados dos mercados financeiros na semana passada. Na realidade, pode-se dizer que acertamos, sim, mas por motivos errados. Na semana passada, aventou-se que, como as bolsas vinham subindo moderadamente em duas semanas seguidas, algo fora do padrão médio do ano, havia uma tendência de que houvesse também moderada realização de lucros e que, com isso, o Ibovespa poderia cair na semana, mas sem que isso significasse uma piora do cenário.
De fato, o Ibovespa caiu, mas não foi um movimento de realização de lucros. No início da semana, parecia que a realização iria ficar mais para o futuro e o aumento do otimismo com a economia brasileira ainda iria prevalecer. Seria muito fácil explicar se não houvesse queda nas bolsas, até porque o Economix Express não tenciona ser um boletim de futurologia, e sim trabalhar com tendências. O otimismo com a economia brasileira cresceu mesmo nas últimas semanas, a despeito de nossos gargalos, e o Ibovespa poderia e deveria ter refletido isso. A verdade é que acertamos, porém, não porque conseguimos antecipar os fatos, e sim porque o governo nos deu uma mãozinha. Esse é um dos raros momentos nos quais o erro teria maior correlação com o conceito da análise do Economix do que o próprio acerto.
Vamos aos motivos dessa digressão: preocupa bastante a tentativa do governo em conter a economia. Parece que as autoridades econômicas vão tentar de tudo para promover desaquecimento, mesmo que esse não seja o melhor caminho. A disputa entre mercado e autoridades econômicas começa a ter contornos infantis e o resultado por não ser o melhor para o País nesse tipo de disputa. É verdade que a inflação está acima do centro da meta, mas a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) foi extremamente feliz em lembrar que a política monetária leva meio ano ou mais para surtir efeito e que também parte da inflação era resultado de causas externas, sobre as quais a Selic pouco ou nenhum efeito teria, portanto o Banco Central (BC) disse que seria consistente, sereno e paciente.
A ata em si poderia ter sido escrita pela Fecomercio, pois está em total consonância com o que acreditamos. Incrível é que parece que o próprio governo não confia no que escreveu nesse documento. Pior, as autoridades econômicas estão demonstrando ao mercado uma certa fraqueza e um pouco de desconhecimento dos mecanismos da economia. A adoção de medidas diárias, a cada momento com uma desculpa diferente, deixa os mercados inseguros, o que dificulta o alcance das metas propostas. Grande parte do sucesso da política econômica se deve à confiança que a sociedade deposita nas autoridades e na capacidade destas em cumprirem metas estabelecidas. Se essa confiança for desconstruída, o custo para se atingir um objetivo subirá.
Quando o ministro vai duas ou três vezes por semana na televisão para fazer anúncios, cresce a sensação de desconforto. Nesta semana, inclusive, após o aumento do IOF nas aquisições internacionais, o mercado de câmbio pareceu zombar da medida no dia seguinte ao seu anúncio, com forte valorização do real, o contrário do que se pretendia. No dia seguinte, anúncio de novo aumento do IOF, desta vez sobre o crédito. Os efeitos dessas medidas só serão conhecidos, mesmo, em alguns dias, mas corremos o risco de assistirmos novos anúncios em breve. No caso específico do Ibovespa, além dessa confusão desnecessária, que mostra autoridades um pouco perdidas, as intervenções sobre a Vale e o marco regulatório considerado ruim para a Petrobras continua a segurar um mercado, que em outros casos estaria de fato deslanchando. Parece que alguém não quer que o Brasil enriqueça, pois sempre se consideram em primeiro lugar os riscos do crescimento, e em segundo plano, estão os benefícios. É falso o dilema: podemos sim crescer mais, com pouca inflação e mais produtividade, que tal umas reforminhas para isso?
 
Assessoria Técnica

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