Existem algumas empresas de ponta, modelo de gestão e de lucratividade no Brasil. Dentre elas, duas são simbólicas, até mesmo pela atuação em setores estratégicos, pelo porte e também pela diferença das suas histórias recentes: a Petrobras e a Vale. Estão entre as maiores empresas do mundo em qualquer base de comparação.
O desempenho em termos de lucratividade dessas empresas vem crescendo assombrosamente, e a tendência é de mais crescimento, até mesmo porque está ficando cada dia mais claro que a economia mundial se expande impulsionada por economias emergentes que vão precisar de muito aço e energia (petróleo) na próxima década, como é o caso da China, da Índia e do próprio Brasil. A aposta em ações dessas duas empresas, portanto, é uma barbada, certo? Errado!
O quadro abaixo mostra os principais números dessas empresas entre 2009 e o atual momento – as cotações internacionais foram convertidas para reais com a taxa de câmbio do dia e os dados referentes ao mês de março são relativos ao fechamento do mês.
O quadro deixaria qualquer analista perplexo. O preço dos produtos que essas empresas vendem está subindo em reais e muito mais em dólares no mercado internacional. O lucro das companhias em 2010, muito maior do que em 2009, é a evidência de que aproveitaram esse momento de crescimento da demanda global por seus produtos. O valor das ações não tem nenhuma correlação com isso. Aliás, no caso da Petrobras, a queda das ações é bastante acentuada, no mesmo período em que a empresa não só bateu o recorde de lucro de sua história, mas também no mesmo período em que a empresa divulga ter reservas fantásticas no pré-sal. Para completar o quadro, a geração de energia em Usinas Termo-Nucleares está num momento crítico e os países árabes produtores de petróleo passam por seu pior momento político em décadas. Era para os acionistas estarem pulando de alegria...
No caso da Vale, o lucro cresceu 37% no ano passado, o preço do ferro 22%, a participação na produção global aumentou e as ações caíram 5%.
Como explicar esse desinteresse por ações de empresas em setores tão estratégicos no talvez no momento global mais propício da história para Vale e Petrobras? Segundo analistas, apesar de todos os pontos positivos, pesa contra essas empresas a interferência do governo. Na Petrobras, o governo é de fato o acionista majoritário, e também responsável por legislar sobre a exploração e distribuição de petróleo. Na realidade, o marco regulatório recente do setor tem sido considerado péssimo por quem entende do segmento. Na Vale, o governo não manda mais, em termos acionários, mas tem dado sinais de que continua a ingerir, inclusive no episódio recente da troca de presidentes.
O mercado teme que essa ingerência distorça os resultados ou pelo menos coloca uma incerteza sobre a gestão e distribuição de lucros e dividendos dessas empresas. Coloca em dúvida o direito de propriedade de quem é acionista (até para os majoritários).
O mercado até pode aceitar um balanço fraco com as devidas explicações e com boas perspectivas futuras, mas não aceita um balanço excelente com dúvidas quanto às garantias de propriedade.
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