Certamente estamos no meio da crise dos países árabes do norte da África e do chamado Oriente Médio, principalmente na península arábica. Era esperado que a crise não fosse resolvida do dia para a noite, mesmo em países onde os ditadores renunciaram, como é o caso do Egito ou da Tunísia. Uma onda de revanchismo começa a pairar sobre essas nações, e, no Egito, por exemplo, se inicia um movimento para prender Hosni Mubarak, o antigo ditador. Essa iniciativa reaquece o debate interno no país e eleva a temperatura política de toda região. Não que isso seja uma grande surpresa, mas os efeitos para a economia local e global não são pequenos.
Esse tipo de reação contra antigas personalidades não é exatamente desconhecido de nós, sul-americanos. Ao final da década de 1970 e início da década de 1980, os regimes militares foram caindo na região e muitos antigos governantes passaram a ser perseguidos ou alvo de hostilidade. O problema é que isso recrudesce regimes autoritários ainda sobreviventes ao redor do epicentro. No Egito e na Tunísia os governos de mais de três décadas caíram, mas, na Líbia, na Síria e em algumas regiões da península arábica, as manifestações continuam e os governos, enfraquecidos. Se os ditadores vigentes estão atentos ao desenrolar da crise em outros países, tendem a perceber que, se e quando deixarem o poder, podem também ser alvos de perseguição. Essa tendência, real, faz com que estes se agarrem ainda mais ao poder.
E o Brasil com isso?
Além de toda a novidade geopolítica, que certamente modificará o equilíbrio regional de forças – e isso afeta o nosso País –, tem o problema do petróleo. Os preços tendem a ficar elevados enquanto a situação não se resolve e, pior, quando há o recrudescimento das tensões em alguns países (como na Líbia e provavelmente deve ocorrer na Síria) , vem acompanhado de aumentos e pressões sobre o preço do combustível mundial. Para completar, hoje o Brasil tem uma corrente de comércio bastante diversificada. Importa muito do mundo inteiro e exporta bastante para o mundo todo. Os cinco principais parceiros comerciais do Brasil, China, Estados Unidos, Argentina, Alemanha e Japão representam algo entre 40% e 45% do nosso fluxo de exportações e importações. Portanto, o resto do mundo detém quase 60% de nossos negócios, sendo que na região deflagrada temos parceiros relevantes, não apenas por conta do petróleo que importamos, mas também pela forte linha de exportação do Brasil para lá.
Esse não é um bom momento para o petróleo se manter elevado. A rigor, não há bom momento para uma crise internacional ou para pressão de preços externos que resultem em aumentos de preços por aqui. Pior ainda quando o País se vê às voltas com uma inflação próxima do teto da meta, atingindo mais de 6%. Quem tem automóvel está vivendo uma experiência muito prática disso. O preço do álcool subiu tanto que quase empatou com a gasolina. Estamos importando etanol, o que deveria ser considerado uma vergonha para o Brasil, dadas as nossas condições privilegiadíssimas de produção do insumo.
Como a eficiência dos motores a álcool é de cerca de 70% a 75% da dos motores à gasolina, os motoristas estão deixando de abastecer com etanol. Resultado: já não bastava a pressão sobre o álcool e a crise que está elevando o barril do petróleo para algo acima de US$ 120. Agora também internamente vamos dar uma forcinha para que a Petrobras decida elevar a gasolina nos postos. É questão de tempo.
Assessoria Técnica
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