segunda-feira, 11 de abril de 2011

Não funcionou

O aumento do IOF para 6% nas operações de financiamento externo com prazos inferiores a 720 dias (dois anos) já foi testado no primeiro dia de vigência. Ontem a taxa de câmbio voltou a se valorizar e o dólar caiu ao patamar de R$ 1,58. Parecia ser uma provocação, uma brincadeira dos mercados mostrando a ineficiência da medida menos de 24 horas depois de sua adoção.
A preocupação do governo com a valorização do real e com a inflação ao mesmo tempo, parece um pouco esquizofrênica. Principalmente porque as medidas tradicionais para forçar uma desvalorização cambial são antagônicas àquelas de controle inflacionário. A rigor, o governo tem agido no mercado cambial na tentativa de conter a queda do dólar comprando a moeda e aumentando as reservas desde a metade do ano passado. O principal efeito disso, além do acúmulo de dólares nas reservas, foi a perda do bônus com a alta dos preços de commodities.
O Brasil é um grande produtor internacional das principais commodities, e ao exportar essas mercadorias traz dólares para o País. Esse movimento de entrada de dólares valorizava o real, compensando a alta internacional de commodities, que tanto beneficiou o Brasil nesses últimos anos. Um estudo do economista Alexandre Schwartsman (http://maovisivel.blogspot.com/) mostra que o crescimento dos preços de commodities trouxeram US$ 60 bilhões a mais para o Brasil somente nos 12 últimos meses. Nada desprezível e o País deveria  estar comemorando. Essa magnitude do bônus que o mundo tem dado em termos de preços dos produtos teria que pressionar o dólar para baixo.  Ou seja, no melhor dos mundos: vendendo produtos cada vez mais caros e mantendo a inflação controlada por conta da dinâmica cambial. Com a intervenção do governo no mercado de câmbio, o País passou a “importar” um pouco mais de alta de preços, porque não deixou o dólar cair o quanto o mercado indicava.
A preocupação com a valorização cambial veio da pressão do setor industrial, por conta da perda de competitividade e do aumento da importação. A despeito do direito que todos têm de defender seus interesses, a indústria nacional está longe de sofrer um processo de desindustrialização. No ano passado o setor cresceu 10%, o investimento mais de 20% e os últimos dados do IBGE mostram a produção industrial crescendo quase 7% em relação ao ano passado. Mesmo competindo fortemente com os importados, o segmento estava com bom desempenho. A Fecomercio concorda que o País impede de chegar à plenitude da competitividade com uma carga tributária superior a 40% (para quem paga). Há necessidade de se rebelar com as estradas, aeroportos e a infraestrutura em condições inadequadas e com a crescente burocracia e complexidade do marco regulatório e contra a insegurança jurídica. Não adianta adotar medidas pontuais e muito peculiares para atender a um setor, muitas vezes com efeitos colaterais nefastos ou, no mais, ineficientes. É sobre esses temas que deve haver uma cobrança com providências e não sobre o efeito, que a rigor é o câmbio valorizado. E aguardem, vem mais, provavelmente para conter o crédito, com medidas que devem ter efeito econômico contrário à adotada para conter a valorização cambial.
PS. A Fecomercio vem alertando para esse modus operandi do governo que vai adotando medidas para essa finalidade. Parece um cachorro correndo atrás do rabo, e começa a transmitir certa insegurança aos mercados, quanto à capacidade da equipe.
Assessoria Técnica

Nenhum comentário:

Postar um comentário