quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sinais da redução do consumo

Lentamente os mercados começam a dar sinais de que a política restritiva de juros altos e outras amarras no setor de crédito estão funcionando para reduzir o consumo. Evidentemente não é só isso, mas o fato de termos uma base de comparação elevada e de parte da demanda de duráveis ter sido saciada, também pode explicar resultados que começam a caminhar para o vermelho, principalmente no setor de automóveis e de imóveis. É justamente nos segmentos onde o crédito tem mais impacto que se percebe o primeiro arrefecimento da demanda. Ainda é cedo para cravar essa tendência, mas aparentemente, ainda com poucas observações, o trajeto será mesmo o de redução gradual da atividade.
De uma forma geral, o varejo depende intensamente do crédito, seja para parcelar em prazos curtos, seja para efetuar uma venda mais robusta ou ainda para estimular o consumidor, como estratégia de marketing. Nas atividades relacionadas à venda de bens duráveis, essa dependência é ainda maior. Os produtos eletrônicos, os eletrodomésticos, automóveis e no topo da cadeia os imóveis, dificilmente são vendidos à vista. Nesses segmentos as vendas a prazo vão de 80% a 100% dos negócios. São os efeitos da restrição monetária e creditícia adotados pelo Banco Central desde novembro de 2010 que dão os primeiros sinais. Agora resta saber qual a reação dos preços, e torcer para que comecem a cair ou deixem de subir, caso contrário o remédio além de amargo não vai cumprir seu papel.
Uma variável deve ser levada em conta: parte da redução da demanda também se deve ao fato de que quando há acesso rápido com esses tipos de bens, em algum momento o mercado se “empanturra” dos produtos, não por acaso são chamados de duráveis: sua troca se dará depois de muitos meses ou até anos. No caso dos imóveis, em média as famílias compram uma residência a cada 30 ou 40 anos no Brasil. A frota de veículos se renovou nos últimos dois anos, mas em média tem quase 10 anos, ou seja, o período de nova aquisição ou troca de veículos também é longo.
O aquecimento desses setores nos últimos anos se deu basicamente pelo acesso ao crédito de camadas da população que eram tradicionalmente alijadas do mercado. Em algum momento existe a saciedade dessa demanda reprimida. Especificamente para imóveis, o próprio aquecimento exagerado da demanda entre 2007 e o ano passado, elevou muito os preços de terrenos e residências, o que em determinado momento, por si só, tende a equilibrar o mercado, reduzindo a propensão a comprar. Tudo isso para dizer que é difícil separar o efeito da restrição creditícia de um fenômeno que naturalmente viria. Vamos esperar para que seja mais um efeito das políticas monetárias do que um fenômeno natural, caso contrário o remédio amargo seria desnecessário e os efeitos sobre a inflação podem ser menores do que o esperado. Vamos aguardar.
Crédito
Dados do Banco Central mostram que o volume de crédito parou de acelerar, os prazos não estão mais se dilatando e as taxas de juros continuam crescendo. De novembro de 2010 até o momento as taxas efetivas cobradas das pessoas físicas subiram de 38,9% para 45%. Os volumes de crédito em comparação ao ano passado ainda estão crescendo, mas justamente por conta da inércia, ou seja, porque como vinham crescendo até o final do ano, mesmo com taxas de crescimento mensal menores. O saldo total é muito superior ao do mesmo período de 2010. Em março (último dado do Banco Central) o volume total de crédito chegou a R$ 1.752 bilhões, sendo que R$ 1.146 bilhões são de recursos livres e R$ 606 bilhões direcionados. O volume de crédito para o setor imobiliário atingiu R$ 142,3 bilhões, 49% maior do que em março de 2010, mas por conta do que já havia sido contratado para o setor antes do aperto monetário. Além disso, em termos relativos o crédito habitacional é muito pequeno em relação ao PIB do Brasil. Por enquanto, a inadimplência está controlada, não mostrando sinais claros de crescimento.

Assessoria Técnica

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