O processo de desqualificação política de alguns membros da equipe econômica parece ter começado. São vários analistas e várias mídias de certa forma colocando em dúvida o trabalho do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Não vamos entrar no mérito de quem é competente ou quem não é (até porque, de forma geral, nossa percepção é a de que a equipe é boa sim), mas vamos tentar entender o porquê dessa depreciação neste momento: a inflação.
Nada mais desgastante para um governo e principalmente para a equipe econômica do que elevação de preços. Esse fenômeno mexe direto com o bolso dos consumidores, que são, em última análise, também eleitores. Já dizia Machiavel que “pior do que mexer com a família de uma pessoa, é mexer no bolso e nos bens”. Em outro momento histórico, mais recente, a vitória de Bill Clinton sobre George Bush (pai) teve como slogan não oficial a frase: “É a economia, estúpido!”. São lições que o governo deve aprender rapidamente.
O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, ontem, mostra bem que existe preocupação no governo sobre a inflação. Também houve o momento de dizer que a equipe econômica está coesa e que os esforços são coordenados. Muito bom que haja essa preocupação, mas, com relação à equipe econômica, é impossível não estabelecer paralelamente a metáfora com os técnicos de futebol após uma derrota: quando o presidente do clube vem a público dizer que o técnico está prestigiado, todos sabemos o que está para acontecer... E quais são os problemas?
1. No caso do ministro, o maior foi a salada de medidas adotadas, quase todas vinculadas aos aumentos de IOF, adotadas em pouco menos de cinco meses. Para coroar esses episódios, dois pronunciamentos em apenas dois dias, com dois anúncios de medidas que, entre si, eram conflitantes: aumento de IOF para financiamentos e aumento de IOF para compras externas. Uma medida para conter preços via demanda e outra para desvalorizar o real. Esses episódios marcaram muito negativamente a atuação do Ministério – e do ministro, em particular – perante o mercado, principalmente no setor financeiro.
2. No caso do Banco Central – e de seu presidente – há ainda um forte atenuante: não adianta elevar juros e enxugar a liquidez via política monetária restritiva e aumentar gastos e encharcar de dinheiro o mercado via política fiscal frouxa. Ou o Tesouro ajuda o BC, ou caminharemos para o pior dos mundos: inflação resistente apesar da redução do ritmo econômico por conta de queda no consumo das famílias e dos investimentos privados. Não é boa a recordação dos momentos em que o Brasil tinha forte inflação e baixo crescimento. Conseguimos, lentamente e a duras penas, inverter essa equação.
Temos agora que lutarmos para manter o crescimento elevado, mais investimentos e emprego, com baixa inflação. Não devemos cair na tentação de adotar políticas heterodoxas que, no passado, foram muito utilizadas e pouco eficientes. O mundo e a natureza não mudaram tanto de lá para cá.
Na realidade, cabe a nós, de fora do governo, ter um pouco de paciência. Alguns números indicam que já há arrefecimento da demanda privada, principalmente se olharmos para os setores imobiliário e automobilístico. Nos dois segmentos, podemos ousar dizer que há uma combinação de restrições monetárias surtindo efeito e esgotamento momentâneo do mercado. Dentro dessa ótica, o Banco Central deve mesmo esperar para não exagerar na dose de juros, e ferir mais do que o necessário os alicerces econômicos. Mas isso de forma alguma faz o BC prescindir de uma política coordenada com o Tesouro no sentido de impor o menor custo social para a contenção dos preços, no menor prazo, sob a menor taxa de juros possível, dado que ainda mantemos o recorde de maior taxa de juros reais do mundo, e a inflação resiste: o Tesouro deve ter algum papel nesse jogo, pelo menos é o que achamos – e desejamos!
Assessoria Técnica