segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Analistas e o câmbio

O Dr. José Roberto Mendonça de Barros deu algumas entrevistas sobre as medidas adotadas nesta semana que visam conter a valorização do real: “provavelmente o efeito dessas medidas será restrito, pouco eficiente. Será pequeno porque não ataca o problema e sim o efeito”. Essa é exatamente nossa posição, da forma com que tem sido divulgada.

A taxa de câmbio não é causa e sim efeito de uma série de coisas. A taxa de câmbio é o termômetro, não a febre, e não adianta trocar de termômetro ou mudar a graduação, que a febre não irá desaparecer. Vamos analisar ponto a ponto o problema.
1.         Câmbio valorizado por conta da entrada excessiva de dólares: a rigor, não há entrada excessiva de dólares. Há um volume de dólares entrando que é compatível com o risco Brasil e o prêmio (taxa de juros) que pagamos. De outra forma, se o risco Brasil é baixo, e estamos pagando uma taxa de juros maior do que a média mundial (muito maior) é natural que capitais financeiros migrem para cá e aproveitem a oportunidade;

2.         Atividade econômica aquecida: é um fato que o País  hoje cresce mais do que a média mundial. E isso é bom. Só falta decidirmos desaquecer a economia para que entrem menos recursos. Ao contrário do que se tenta provar, até o momento não há processo de desindustrialização (a indústria continua a crescer e isso por definição) e o consumo das famílias cresce;
3.         Exportações aquecidas pelos preços de commodities: é verdade, e novamente, não há o que fazer a não ser agradecer a situação mundial. O fato é que o Brasil, por conta dos preços de commodities está exportando R$ 20 ou R$ 30 bilhões a mais do que em outras condições, e esse dinheiro vem na forma de dólares. Qual a solução? Reduzir o embarque e não aceitar aumento de preços que nos favoreçam?

4.         Parte da valorização do real é desvalorização do dólar: esse é outro fato. O real está mesmo valorizado frente a várias moedas, mas relativamente sobre o dólar a valorização é maior, mais evidente. Isso se deve ao fato de que o dólar está muito fraco, ou seja, não podemos avaliar a força do real apenas olhando para o dólar, e sim para uma cesta de moedas. Aí o problema é um pouco menor;
5.         A produtividade nacional perde com a valorização: é fato que um real mais caro eleva o preço dos nossos produtos. Mas ao invés de tentar ganhar produtividade cambial (que é importante também, claro) o Brasil deveria pensar em atacar o foco do problema: reduzir tributos, melhorar a infra-estrutura, modernizar o sistema de ensino e flexibilizar o contrato de trabalho. Já ajudaria bastante.

Não dá para dizer que exista uma ordem exata de importância para os fatos, as causas, que levam o real a se valorizar, mas é evidente que um dos pontos mais relevantes é o diferencial enorme de juros que o País paga hoje. Ou seja, grande parte do trabalho seria feito se a Selic e os juros finais fossem bem menores. Para que isso ocorra, há um passo anterior essencial: reduzir drasticamente o gasto público, e estamos fazendo o contrário. Apesar do superávit primário ter crescido, o resultado positivo se deu pelo aumento de arrecadação maior do que o aumento dos gastos. Mas o fato é que o governo mantém o pé no acelerador de gastos, e por isso não pode reduzir juros.
A eventual redução dos gastos ajudaria, a um só tempo, a reduzir juros, diminuindo a atração cambial, mudando o equilíbrio entre o real e outras moedas e também elevaria a poupança nacional que poderia reduzir o déficit em contas correntes e aumentar o investimento prioritário em infraestrutura, segurança e educação. Dá para entender quais são as prioridades de fato, apesar da tentação em mexer apenas na paridade cambial?

Assessoria Técnica

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