segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Explorando um pouco o mercado de crédito no Brasil - 2

No texto anterior nossa tese é de que não há risco de bolha de crédito no sistema de consumo brasileiro e também vemos a inadimplência em trajetória controlada. Para mais detalhes e um aprofundamento realmente necessário, este segundo texto recorre a um quadro simplificado, mas bastante explicativo do mercado de crédito no Brasil. De forma genérica, hoje, o volume de crédito está dividido em 2/3 de recursos livres (os bancos escolhem o funding e como vão alocá-lo ) e 1/3 de recursos direcionados (obrigatoriedades de empréstimos segundo normas, como por exemplo recursos do FGTS).

Dos recursos livres, metade está alocada à pessoa física e metade à pessoa jurídica. O volume total de crédito em nossa economia é de pouco mais de R$ 1,7 trilhão, ou, menos de 50% do PIB. Essa é uma primeira relação que pode nos dar uma dica do grau de endividamento de nosso País. Países europeus, Japão e Estados Unidos têm hoje um nível de endividamento de mais de 100% do PIB. Claro, o dado não pode ser tomado isoladamente, já que as nossas taxas de juros são maiores e os prazos menores do que nessas economias, mas a distância é tão grande, que mesmo descontando-se essas peculiaridades ainda estamos iniciando a jornada nesse mercado. Abaixo uma tabela com mais detalhes de como esse volume de recursos está dividido em suas principais carteiras:

Como se pode verificar, o mercado não tem nenhum indício de super exposição. Se observarmos o volume de financiamento imobiliário em relação ao PIB vamos notar que essa proporção é um pouco superior a 4%, contando-se aí os financiamentos feitos com recursos direcionados como FGTS e Poupança. Com recursos livres esse volume gira em torno de 1% do PIB. Nos Estados Unidos, por exemplo, à época da crise do subprime, o financiamento imobiliário superava 60% do PIB. Mas para fazermos comparações mais próximas, no Chile, México e Argentina, esse financiamento beira os 20% do PIB.
Mais importante do que tudo isso é que, aumentar a proporção desse tipo de financiamento, dentro das regras tradicionais, sem o delírio de derivar de uma operação vários títulos, pacotes e instrumentos financeiros (o que não ocorre no Brasil) é muito saudável. Isso porque alonga prazos, garante maior grau de cidadania, compromete sistema financeiro e cliente no longo prazo e estimula um dos setores econômicos que mais gera emprego: a construção civil. Só não podemos passar do tradicional para um mundo de fantasia onde, a partir de um financiamento imobiliário, geravam-se inúmeros derivativos e multiplicava-se o crédito, sem o lastro adequado. No Brasil, o financiamento imobiliário se presta apenas para quem quer comprar casa e a garantia é exatamente o imóvel em questão, que não pode ser alienado, derivado ou vendido sem anuência do financiador.

Terminando essa sequência de textos, vamos notar que há um bom equilíbrio no mercado de crédito, não há risco iminente de crash ou sistêmico. Os riscos das operações estão bem balanceados, e existem como em todos os mercados e negócios. Também é bom notar que existe grande espaço para mais crescimento do crédito, mas seria bom que direcionássemos de forma a que seja vinculado ao fomento da produção no caso da PJ e ao mercado imobiliário no caso da PF. Isso somente vai ocorrer quando e se as taxas de juros voltarem a cair e até mesmo por consequência, os prazos se alongarem mais em média. Sem exageros, o mercado financeiro está aí justamente para intermediar poupança com investimento e consumo.
Assessoria Técnica

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