sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Juros americanos - A história de uma bolha

A bolha de consumo norte-americana é efeito e não causa de um problema. O excesso de gastos das famílias foi estimulado pelas taxas de juros artificialmente baixas e por condições de empréstimos muito lenientes, ou seja, os bancos foram pressionados a expandir crédito. As taxas de desconto do Federal Reserve (Fed Funds) davam guarida a essa estratégia se mantendo abaixo do que ocorreria em equilíbrio natural de mercado.

Conforme se pode notar, após 2006 as taxas foram sendo pressionadas para baixo, na realidade em uma tentativa do governo por meio do Fed de manter o ciclo de prosperidade e de não deixar a bolha de consumo, que já havia sido criada, explodir. Atualmente, essas taxas também se mantém muito baixas, porém a história de consumo das famílias nos últimos anos é muito diferente daquela que ocorreu entre 2000 e 2005 ou 2006. Após o estouro da crise imobiliária, marcada com a quebra do Lehman Brother, em setembro de 2008, a estratégia de juros baixos foi fortalecida. Vale ressaltar que de fato é uma boa estratégia quando a economia está fraca, porém foi a manutenção dessas taxas muito baixas ao longo de quase duas décadas que geraram a bolha em si.
Abaixo, segue um quadro com as efetivas taxas de juros americanas, as de curto prazo que hoje são mantidas praticamente em 0% para não aprofundar a crise e as de longo prazo que mostram sinais de aumento desde o final de 2008, justamente após a crise. Toda essa estrutura de juros baixos no período da década de 1990 e 2000 tem a marca da tentativa de resolver um problema criando outro maior, ou seja, quando o mercado dava sinais de que o processo estava se exaurindo, achava-se uma forma de estimular a economia mais um pouco. Nenhum presidente de Banco Central ou governo quer esse problema estourando no seu colo. Próximo a 2006 e 2007 o risco foi percebido por todos, inclusive não especialistas e as taxas de curto prazo explodiram antes do estouro da bolha, mas foi justamente esse “recolhimento” de crédito dos bancos cada um tentando salvar o seu interesse que de fato acabou por estourar esse ciclo no final de 2008. A partir dali, o governo foi obrigado a confeccionar pacotes de injeção de capital enormes e manter as taxas próximas de zero sob risco de um travamento ainda maior no setor de crédito. Em azul, as menores taxas da série e, em vermelho, as maiores para facilitar a análise.

Ao contrário do que ocorre com as taxas de curto prazo, atualmente “manipuladas” para ficarem abaixo do equilíbrio normal, as taxas de longo prazo subiram desde o epicentro da crise. Os títulos de 30 anos nos Estados Unidos mostram taxas elevadas se comparadas ao curto prazo, confirmando a hipótese de que atualmente os juros de curto prazo e a desvalorização da moeda não estão sendo capazes de estimular o consumo, mas podem gerar pressões inflacionárias no médio prazo.
Esse cenário não deve se alterar no curto prazo: dólar fraco, juros baixos no mundo e economia ainda com dificuldades. Mas é uma boa oportunidade para a aquisição de títulos de longo prazo que, de modo geral, estão pagando boas taxas relativamente ao curto prazo.

Assessoria Técnica

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