Se nada mudou, porque o humor mudou? Bom, em primeiro lugar é sempre bom lembrar o que já foi dito nos boletins por mais de uma dúzia de vezes: as reações de curto prazo do mercado pouco têm correlação com a economia real. No longo prazo, aí sim, a correlação é total. Acontece que, a rigor, a percepção é mesmo de que a Europa (com as brigas e desencontros e chantagens que antecipamos aqui) vai encontrando o caminho, que passa exatamente por capitalizar organismos de crédito multilaterais. Provavelmente também alguns bancos serão nacionalizados e um episódio Lehman Brothes europeu não deve ocorrer. Por incrível que pareça, alguns bancos alemães querem deixar a Grécia quebrar, numa espécie de punição para o país gastão, mas o governo alemão não vai tratar esse assunto com a emoção que os perdedores e credores tendem a tratar. Para o governo alemão, a Alemanha está acima das disputas políticas e dos dissabores de um ou outro setor. Esse encontro de contas europeu foi o principal motivo dessa reação positiva, mas não é o único. Também não garante que não venham a ocorrer novos episódios de nervosismo – aliás, existem 110% de chances de novos episódios tensos na Europa.
Ocupem Wall Street: um movimento ressentido de hippies que chegaram com 41 anos de atraso ao festival de Woodstock. Alguns lugares comuns, repetidos pela mídia sem grande senso crítico chegam a irritar. Por exemplo, atribuir às redes sociais a capacidade de aglutinar pessoas. Podemos citar algumas revoluções bem mais importantes e bem mais organizadas que ocorreram sem convocação via Twitter ou Facebook: Independência americana em 1776, Revolução Francesa em 1789, a Revolução Russa de 1917 e as manifestações estudantis em Paris de 1968, entre muitas outras anteriores e posteriores a essas. Esse é um movimento ressentido, pouco inteligente, e certamente pouco efetivo. Podemos apostar que, daqui um ou dois anos, esses jovens (e nem tão jovens assim) estarão ainda cheios de ideais e ideias, mas com os bolsos muito mais vazios do que os executivos de Wall Street, e sabem por quê? Não é por conta da injustiça do sistema, e sim por conta do pragmatismo e do volume de trabalho e capacitação do pessoal daquela Rua em Manhattan. Se houve fraudes, que se apurem e se punam os culpados (e serão punidos), mas atribuir a Wall Street a responsabilidade de uma crise que derivou da irresponsabilidade de todos, inclusive de quem se empanturrou de consumir sem ter de fato condições, é um pouco demais, e demodê.
Assessoria Técnica
Nenhum comentário:
Postar um comentário