terça-feira, 18 de outubro de 2011

Tudo dentro do planejado

Para resumir a semana, seria preciso apenas uma frase: o dólar caiu 2,3% e o Ibovespa subiu 7,4%. Por si só essa frase representa muito bem o clima, o humor dos mercados nesta semana. Não houve solução para a crise europeia, não acabou o problema fiscal americano nem mesmo melhorou definitivamente o ritmo da geração de emprego nas economias desenvolvidas (aliás, esse talvez seja o maior mal deste momento e a má notícia é que provavelmente as altas taxas de desemprego não sejam apenas efeitos da crise de 2008, mas isso é assunto para um boletim dedicado ao desemprego nos países desenvolvidos).

Se nada mudou, porque o humor mudou? Bom, em primeiro lugar é sempre bom lembrar o que já foi dito nos boletins por mais de uma dúzia de vezes: as reações de curto prazo do mercado pouco têm correlação com a economia real. No longo prazo, aí sim, a correlação é total. Acontece que, a rigor, a percepção é mesmo de que a Europa (com as brigas e desencontros e chantagens que antecipamos aqui) vai encontrando o caminho, que passa exatamente por capitalizar organismos de crédito multilaterais. Provavelmente também alguns bancos serão nacionalizados e um episódio Lehman Brothes europeu não deve ocorrer. Por incrível que pareça, alguns bancos alemães querem deixar a Grécia quebrar, numa espécie de punição para o país gastão, mas o governo alemão não vai tratar esse assunto com a emoção que os perdedores e credores tendem a tratar. Para o governo alemão, a Alemanha está acima das disputas políticas e dos dissabores de um ou outro setor. Esse encontro de contas europeu foi o principal motivo dessa reação positiva, mas não é o único. Também não garante que não venham a ocorrer novos episódios de nervosismo – aliás, existem 110% de chances de novos episódios tensos na Europa.
O que mais deu certo nesta semana? Ah, a economia americana, longe de seu auge, começa a dar sinais mais claros de recuperação. Vendas no varejo vieram fortes, o transporte de cargas ferroviárias interno está crescendo quase 8% neste ano e os números de geração de empregos foram melhores do que o esperado. Também nos Estados Unidos a recuperação não vai ser simples e sem novos percalços, mas se ela de fato vier, confirmada por mais dados como os das últimas semanas, será a certeza de que o mundo deixou para trás os riscos de uma depressão econômica. Vale lembrar que é dos Estados Unidos (além dos BRICs, claro) que se espera muito. Mesmo que a Europa e o Japão estejam em breve (dois anos) com as contas públicas equilibradas e com o sistema financeiro livre de riscos sistêmicos, as taxas de crescimento dessas economias será baixa, como tem sido nas três últimas décadas. O Welfare State não está dando respostas adequadas para o crescimento econômico hoje em dia, e é muito caro quando a população envelhece e deixa de buscar a competição estimulada pelo mercado.

Ocupem Wall Street: um movimento ressentido de hippies que chegaram com 41 anos de atraso ao festival de Woodstock. Alguns lugares comuns, repetidos pela mídia sem grande senso crítico chegam a irritar. Por exemplo, atribuir às redes sociais a capacidade de aglutinar pessoas. Podemos citar algumas revoluções bem mais importantes e bem mais organizadas que ocorreram sem convocação via Twitter ou Facebook: Independência americana em 1776, Revolução Francesa em 1789, a Revolução Russa de 1917 e as manifestações estudantis em Paris de 1968, entre muitas outras anteriores e posteriores a essas. Esse é um movimento ressentido, pouco inteligente, e certamente pouco efetivo. Podemos apostar que, daqui um ou dois anos, esses jovens (e nem tão jovens assim) estarão ainda cheios de ideais e ideias, mas com os bolsos muito mais vazios do que os executivos de Wall Street, e sabem por quê? Não é por conta da injustiça do sistema, e sim por conta do pragmatismo e do volume de trabalho e capacitação do pessoal daquela Rua em Manhattan. Se houve fraudes, que se apurem e se punam os culpados (e serão punidos), mas atribuir a Wall Street a responsabilidade de uma crise que derivou da irresponsabilidade de todos, inclusive de quem se empanturrou de consumir sem ter de fato condições, é um pouco demais, e demodê.
Assessoria Técnica

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