quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O terror funciona no mercado financeiro

Os mercados amanheceram ameaçando Bancos Centrais e autoridades com a potencial quebra de um banco franco-belga (Dexia). A chantagem, que visa sempre obter condições privilegiadas de negociação, consiste em mostrar os riscos que uma quebra de banco pode trazer a todo o sistema. O pior é que essa chantagem tende a funcionar, e também é verdade que os riscos de uma quebra bancária ou de empresa do sistema financeiro neste exato momento não podem ser assumidos. Poderíamos presenciar uma tragédia de proporções bíblicas. Poxa, os bancos não poderiam escolher outro momento para quebrar? Pois é, esse é o problema das crises: empresas mais frágeis e sistema financeiro na corda bamba, de forma geral.

Essa chantagem em momentos de crescimento econômico com o sistema financeiro bem regulado e com balanços equilibrados, seria apenas uma menção, uma tentativa vã de resguardar benefícios e valores. Mas agora, nestas condições, com países quebrando literalmente, fica difícil não se sensibilizar com essas gritarias. Tanto que, logo pela manhã no Brasil, metade ou mais do pregão corrido na Europa, os bancos centrais estavam reunidos com autoridades europeias para resolver os problemas e não deixar nenhuma dúvida quanto a capacidade de resgate ainda existente no continente. Valeu a pena gritar, pelo menos por enquanto.
Se isso vale para um mísero banco, imaginem o que não se faria para resgatar um país inteiro da beira do precipício. No caso, o país é a Grécia. O problema, é que, justamente por ser uma crise de grandes proporções, atingindo a vários países, não adianta salvar apenas a Grécia. A operação, que é estimada em ao menos $1 trilhão de euros, teria que resgatar Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália, em maior ou menor escala cada um. São muitos suicidas ameaçando pular ao mesmo tempo para o corpo de bombeiros hoje pouco equipado. Na realidade, os organismos financeiros multilaterais europeus dispõem de algo como 25% desse valor, ou seja, precisariam se capitalizar, emitir títulos e dar garantias soberanas (novamente) para essas emissões, ironicamente. O risco dessa chantagem é exatamente a falta de condições físicas de atender às reivindicações, ainda que o desfecho seja ruim.

A FecomercioSP vem alertando para esses movimentos. Continuamos a apostar em uma solução negociada, e sequer aventamos a hipótese de que a Europa deixe a Grécia quebrar primeiro, para depois iniciar um processo de resgate. Essa opção, em 2008, redundou na quebra do Lehman Brothers e provavelmente acabou por aprofundar a crise além do que seria necessário. Naquele momento, a opinião pública contrária aos resgates de empresas privadas – de um setor pouco apreciado de forma geral - com dinheiro do contribuinte pautou ações das autoridades. O Federal Reserve e o Tesouro correram esse risco ao se render à opinião pública, e provavelmente se pudessem voltar no tempo fariam o resgate. Justamente por isso acreditamos que a Grécia será resgatada, não sem um pouco ação teatral de todos.
Tanto isso é verdade que quem acompanhou os mercados hoje, viu as taxas de câmbio enlouquecerem, as bolsas derreterem, ao menos até o Fed, por meio de Ben Bernanke, divulgar que ainda tem munição forte para reestabelecer o crescimento econômico, e mais: não terá medo de usar essa munição. O claro recado surtiu efeito rapidamente nos mercados que estavam ainda abertos e, por exemplo, reverteram uma terrível queda do Ibovespa, proporcionaram um excelente desempenho do Nasdaq e Dow Jones e, adicionado a isso, a intervenção do BC no câmbio redundou em queda da moeda americana após quatro dias de alta. Exatamente como o Economix antecipava, essa semana será de grandes emoções. Nada está definido, mas é reconfortante lembrar que nada está perdido. Ainda.

Assessoria Técnica

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