terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mercado típico de aula de macroeconomia aplicada

Para quem gosta de economia, a semana que passou foi uma excepcional aula de macroeconomia aplicada. O exercício fica mais fácil quando se olha para o gráfico de câmbio X Ibovespa. O andamento foi simetricamente oposto: o Ibovespa subia e o dólar se desvalorizava no começo da semana – até quarta-feira. Depois ocorreu exatamente o oposto. Vale mesmo a pena dar uma olhada no gráfico, justamente pela simetria em termos de variação espelhada.

A parte chata do texto é a explicação, dado que nada de novo ocorreu, a não ser aquilo que estamos alertando desde o começo de 2011: seria mesmo um ano complicado, com pressões sobre o mercado acionário e ritmo de crescimento mais fraco. Além disso, a tendência de desvalorização do mercado acionário global, por conta de ajustes severos que são requeridos nas principais economias do mundo, iria contaminar nosso ambiente. Ou seja, nada de novo mesmo.

O problema novo tem sido o câmbio. O mercado já esteve pior, é fato, mas basta o BC se afastar um pouco e a pressão contra o real retorna. Esse fenômeno pode ser em parte atribuído ao pouco caso inicial do governo com relação ao mercado de câmbio e às trapalhadas do início de setembro. Já se vai um mês de nervosismo, e a tendência é de que esse período se prolongue um pouco mais principalmente, com o horizonte turvo na Europa. Em agosto, na última semana especificamente, o Ibovespa tinha se recuperado um pouco, e o câmbio rondava a casa dos R$ 1,60. Da última semana de agosto para cá o Ibovespa perdeu mais 6% ou 7% e o câmbio fechou o mês a R$ 1,88, tendo atingido R$ 1,95 em alguns momentos mais nervosos.

Nossas projeções não serão alteradas, justamente por contabilizarem essas dificuldades que as grandes economias estão enfrentando. Para a Fecomercio, o ano vai fechar com a inflação ao redor do teto da meta (6,5%), o PIB crescerá entre 2,5% e 3% e o varejo algo entre 0% e 2% em São Paulo e mais próximo de 5% no Brasil. O Ibovespa tem tendência de andar mais um pouco no patamar 50 mil a 55 mil pontos, com momentos mais nervosos no decorrer do período. O ponto focal desses cenários é a Europa e a solução que será dada às dívidas soberanas.

Continuamos apostando em uma solução orquestrada e que emerja um plano de alongamento de prazo e reescalonamento das dívidas, hoje impagáveis dentro das condições contratuais vigentes. Qualquer solução que não seja essa, ou um perdão unilateral das dívidas pelos credores (claro, isso é uma ironia), teremos que rever o cenário para baixo. No caso de caminharmos como estamos nestes últimos dias, teremos mais emoções, porém nada que mude definitivamente o rumo das coisas, somente o trepidar do terreno muito arenoso que as grandes economias atravessam.

Assessoria Técnica

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