No primeiro caso, os estudantes de economia, ainda no primeiro ano, são normalmente levados a estudar a teoria dos jogos aplicada à sua área. Um dos exemplos clássicos é o do cartel de produtores de petróleo, a OPEP. Neste exemplo, o professor diz para os alunos que o grupo com cerca de 10 países membros realmente relevantes, decide, em uma de suas reuniões, cortar a produção em, digamos, 30% cada um. Isso faria com que a falta de oferta gerasse uma pressão de preços muito forte. Acontece que esse namoro tem tudo para acabar em baixaria. Muitos desses países são economias cronicamente pobres e pouco dinâmicas. Quando o preço começa a subir, surge uma enorme vontade de namorar algum outro país, neste caso um comprador. O compromisso, solene, claro, de cortar a produção, é posto à prova. Um país com problemas sociais, com governos normalmente corruptos autoritários (populistas) tem enorme estímulo para romper o acordo, e vender mais petróleo a um preço mais elevado. Acontece que, quando todos fazem a mesma coisa (e fazem), a oferta volta a subir, e os preços voltam a cair. Nunca deu muito certo por muito tempo manter os cortes de produção de fato.
Namoro nos blocos econômicos O caso do Mercosul é especial para nós, não por conta de sua importância econômica para o mundo, mas justamente porque o Brasil é membro do Bloco e a maior economia do continente. Aqui o problema está na definição do que é um produto do Mercosul – que não paga nenhuma tarifa aduaneira no seu trânsito na região. Para que os produtos sejam considerados do Mercosul a proporção do valor agregado nos países do Bloco tem de ser algo entre 60% ou 65%. Mas aí começam os problemas: como saber qual o valor de cada etapa? Como confiar nas certificações? O Paraguai e o Uruguai, com sua indústria claramente sucateada, somente podem se interessar por este Bloco se conseguirem acordos com terceiros países e passarem a maquiar produtos para que entrem no Brasil e Argentina como se fossem do Bloco, sem pagar impostos aduaneiros. O Brasil deveria tomar mais cuidado ainda, porque a Argentina está caminhando para uma forte desindustrialização, e será mais um foco de produtos maquiados ou apenas montados em suas fronteiras. Triste, mas é assim mesmo. Pensando bem, como alguém poderia imaginar que um namoro entre brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios poderia dar certo? O IPI dos carros importados vem aí, vamos ver se esses mesmos carros não começam a ser estranhamente produzidos aqui do lado...
O caso da Eurolândia é o mais importante para o mundo, dado o tamanho da economia do Bloco. Também é um caso interessante onde esse namoro infiel está levando a Europa toda a um caos financeiro e do sistema bancário nunca visto após 1929. O que aconteceu na Europa também é um exemplo típico de sala de aula. O professor explica Teoria dos Jogos, e dá o exemplo do Moral Hazard. Basicamente, quando os bancos e/ou países estão emprestando dinheiro sem bons critérios de análise, é porque os gestores fazem o seguinte cálculo: se meus credores pagarem, ótimo, porque as taxas de juros são exorbitantes, em média. Se não pagarem, excelente, pois os governos terão de nos resgatar sob o risco de gerarem um problema sistêmico de proporções olímpicas. Ou seja, a Grécia achou extremamente interessante gastar muito, emitir títulos para financiar suas festas e gastanças, e o mercado financiou irresponsavelmente essa festa. Agora os contribuintes da Alemanha, França e outros países não querem pagar essa conta, com certa razão, mas os governos sabem que o jogo favorece os maus pagadores, pois não resgatar, que seria em tese o correto, pode acarretar em um mal maior. Pior, internamente cada setor político faz sua chantagem ao governo quando a situação exige que todos colaborem para resgatar bancos estrangeiros e mesmo outros países. Novamente um namoro entre latinos e germânicos teria que dar seus probleminhas de infidelidade enquanto a Alemanha não estivesse olhando!
Assessoria Técnica
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