segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Namoro infiel

No mundo, existem vários tipos de namoros infiéis, que não são exatamente namoros tradicionais. Os mais conhecidos para os economistas são os namoros entre membros de um Cartel ou Oligopólio e um bastante interessante é o namoro entre países membros de um bloco econômico. Vamos analisar os dois casos  aqui, mas com ênfase para o problema dos blocos econômicos.

No primeiro caso, os estudantes de economia, ainda no primeiro ano, são normalmente levados a estudar a teoria dos jogos aplicada à sua área. Um dos exemplos clássicos é o do cartel de produtores de petróleo, a OPEP. Neste exemplo, o professor diz para os alunos que o grupo com cerca de 10 países membros realmente relevantes, decide, em uma de suas reuniões, cortar a produção em, digamos, 30% cada um. Isso faria com que a falta de oferta gerasse uma pressão de preços muito forte. Acontece que esse namoro tem tudo para acabar em baixaria. Muitos desses países são economias cronicamente pobres e pouco dinâmicas. Quando o preço começa a subir, surge uma enorme vontade de namorar algum outro país, neste caso um comprador. O compromisso, solene, claro, de cortar a produção, é posto à prova. Um país com problemas sociais, com governos normalmente corruptos autoritários (populistas) tem enorme estímulo para romper o acordo, e vender mais petróleo a um preço mais elevado. Acontece que, quando todos fazem a mesma coisa (e fazem), a oferta volta a subir, e os preços voltam a cair. Nunca deu muito certo por muito tempo manter os cortes de produção de fato.
Namoro nos blocos econômicos

O caso do Mercosul é especial para nós, não por conta de sua importância econômica para o mundo, mas justamente porque o Brasil é membro do Bloco e a maior economia do continente.  Aqui o problema está na definição do que é um produto do Mercosul – que não paga nenhuma tarifa aduaneira no seu trânsito na região. Para que os produtos sejam considerados do Mercosul a proporção do valor agregado nos países do Bloco tem de ser algo entre  60% ou 65%. Mas aí começam os problemas: como saber qual o valor de cada etapa? Como confiar nas certificações? O Paraguai e o Uruguai, com sua indústria claramente sucateada, somente podem se interessar por este Bloco se conseguirem acordos com terceiros países e passarem a maquiar produtos para que entrem no Brasil e Argentina como se fossem do Bloco, sem pagar impostos aduaneiros.  O Brasil deveria tomar mais cuidado ainda, porque a Argentina está caminhando para uma forte desindustrialização, e será mais um foco de produtos maquiados ou apenas montados em suas fronteiras. Triste, mas é assim mesmo. Pensando bem, como alguém poderia imaginar que um namoro entre brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios poderia dar certo? O IPI dos carros importados vem aí, vamos ver se esses mesmos carros não começam a ser estranhamente produzidos aqui do lado...

O caso da Eurolândia é o mais importante para o mundo, dado o tamanho da economia do Bloco. Também é um caso interessante onde esse namoro infiel está levando a Europa toda a um caos financeiro e do sistema bancário nunca visto após 1929. O que aconteceu na Europa também é um exemplo típico de sala de aula. O professor explica Teoria dos Jogos, e dá o exemplo do Moral Hazard. Basicamente, quando os bancos e/ou países estão emprestando dinheiro sem bons critérios de análise, é porque os gestores fazem o seguinte cálculo: se meus credores pagarem, ótimo, porque as taxas de juros são exorbitantes, em média. Se não pagarem, excelente, pois os governos terão de nos resgatar sob o risco de gerarem um problema sistêmico de proporções olímpicas. Ou seja, a Grécia achou extremamente interessante gastar muito, emitir títulos para financiar suas festas e gastanças, e o mercado financiou irresponsavelmente essa festa. Agora os contribuintes da Alemanha, França e outros países não querem pagar essa conta, com certa razão, mas os governos sabem que o jogo favorece os maus pagadores, pois não resgatar, que seria em tese o correto, pode acarretar em um mal maior. Pior, internamente cada setor político faz sua chantagem ao governo quando a situação exige que todos colaborem para resgatar bancos estrangeiros e mesmo outros países. Novamente um namoro entre latinos e germânicos teria que dar seus probleminhas de infidelidade enquanto a Alemanha não estivesse olhando!
Assessoria Técnica

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