segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Várias faces da Economia

Tantas coisas aconteceram em um curto espaço de tempo que não dá para falar de um assunto apenas. A Grécia e a sua dívida; o crescimento norte-americano; a geração de empregos no Brasil; tudo ao mesmo tempo, assusta, mas é assim mesmo, temos que viver ligados no 220 volts. Foram esses eventos, em nossa visão positivos, que fizeram o mercado reagir quase em êxtase nesta semana. Mas cuidado, pois haverá uma rodada de realização, ainda que não se deva encerrar o período de otimismo em breve.
Grécia negocia pacote de resgate

Os credores teriam que aceitar um deságio nos papéis da dívida grega, e ao mesmo tempo, pelo lado grego, haveria que se sinalizar um ajuste de contas públicas, que será doloroso. Todos perdem com o acordo, mas em relação ao que aconteceria sem esse negócio firmado entre as partes os danos são mínimos. Se nós, aqui da FecomercioSP, tivéssemos papéis da dívida grega, venderíamos rapidamente com 50% de desconto. Melhor um pássaro na mão, apesar do deságio, pois a dívida interna grega é enorme.
Do lado dos credores, houve necessidade da ampliação da linha de crédito emergencial do IIF (Instituto Internacional de Finanças) de € 440 bilhões para € 1 trilhão. A rigor, essa chamada de capital é apenas a primeira de algumas outras que virão.

Do lado grego, não será fácil contornar os distúrbios políticos. Certamente haverá mais greves, e, quase certo, que esse atual gabinete não se reelege. São os custos de uma festa com muita bebida: a ressaca. Com todo esse desconto e dívida grega ainda é superior a 100% do seu PIB.
PIB do terceiro trimestre dos Estados Unidos cresce 2,5% anualizado

Os Estados Unidos cresceram 2,5% no último trimestre terminado em setembro. Os analistas esperavam 2,7%, e estão de certa forma decepcionados. Na realidade, o que há é um excesso de preciosismo nas análises. O crescimento de 2,5% já é suficiente para estancar o desemprego e até para melhorar o risco de inadimplência no país. É também o melhor resultado desde 2009. Outro aspecto importante é que o crescimento ficou aquém do potencial pela variação de estoques, o que não deve ocorrer novamente. Sem o excesso de estoques que havia após um primeiro semestre muito fraco, a tendência da indústria é se aquecer e o prognóstico do potencial para o final de ano é bastante bom. Aqui, já vínhamos apontando para os indicadores que revelavam uma recuperação americana, principalmente as contas externas e a movimentação interna de cargas que estava e está crescendo a mais de 7% em relação ao ano passado.
Desemprego no Brasil se mantém estável

Cada analista lê de um jeito essa notícia. Para alguns é sinal de desaquecimento econômico, para outros de estabilidade em patamar aquecido de demanda por trabalhadores, o que indica a manutenção do forte consumo. Para alguns é um problema, pois estamos atingindo o limite da nossa capacidade de oferta de mão de obra qualificada Ou seja, o desemprego de 6% é considerado o menor possível dado a fraca capacitação de quem está ainda fora do mercado de trabalho. A FecomercioSP tende a concordar com essa hipótese, e alerta para o fato de que há vagas a serem preenchidas, e apesar do contingente de 6% de desempregados, não há qualificação para preencher essas vagas. O nível de desemprego já está baixo, mas para ficar menor ainda, teremos que pensar em maneiras fáceis, rápidas e baratas de treinamento e capacitação, ou vamos restringir o crescimento por pura falta de trabalhadores, quando não falta trabalho.
Assessoria Técnica

Unir para crescer, um desafio aos pequenos empresários

Na último dia 27, o Conselho da Pequena Empresa da FecomercioSP recebeu Francesco Paterno, diretor geral da Câmara de Comercio Brasil Itália, para falar sobre o protagonismo da pequena empresa na economia italiana.  Itália e Brasil têm praticamente o mesmo número de pequenas empresas, cerca de seis milhões. Mas lá elas alcançam desempenho imensamente mais significativo. Para Paterno a união dos pequenos é a grande diferença. “Na Itália há uma grande tradição de pequena e média empresa que nasce de séculos de história. No Brasil vai precisar um pouco de tempo”, explica Paterno.
Francesco Paterno mostra um caminho por onde a pequena empresa consiga expandir sua atuação no mercado brasileiro, a exemplo do que acontece na Itália. “A solução pode ser representada através de associações que permitam a pequena empresa enfrentar o mercado externo”.
Para o empresário italiano, o Brasil precisa ampliar seu cooperativismo. As empresas pequenas podem ter grande poder de negociação se estiverem unidas. “A solução (para a exportação da pequena empresa brasileira) pode ser representada pela realização de formas associativas que permitam uma pequena empresa de enfrentar o mundo”, conclui Paterno.
No país europeu, somente a exportação gerada pela pequena empresa representa 70% do PIB, enquanto no Brasil a pequena empresa exporta apenas o equivalente a 1% do PIB.
O presidente do Conselho da Pequena Empresa da FecomercioSP Paulo Feldman acredita que sem vantagens fiscais, financiamentos e outras medidas legais de incentivo, a pequena empresa brasileira não vai conseguir sua força da aproximar da italiana. “Nós não temos nada no Brasil que favoreça isso. Na Itália há consórcios para isso, só que no nosso caso não, o pequeno empresário no Brasil enxerga o concorrente como inimigo”, o que para Feldmann dificulta a junção de forças.
Assessoria Técnica

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Contas externas mostram vigor do País

O saldo em conta corrente apresentou déficit de US$ 2,2 bilhões em setembro, conforme divulgado pelo Banco Central. O resultado negativo verificado no mês anterior havia sido de US$ 4,8 bilhões. Em setembro, o período fechado de 12 meses totalizou déficit de US$ 48 bilhões, que representa cerca de 2% do PIB, em linha com as projeções da FecomercioSP. Para 2011, esperamos um déficit de US$ 55 bilhões, ou 2,2% do PIB, ainda bastante palatável, porém caminhando para uma situação menos benéfica no futuro que se aproxima. O bom momento do Brasil e o mau momento das grandes economias, facilita o financiamento de déficits em contas correntes, e talvez o País possa se valer disso para elevar a proporção de investimentos internos, captando poupança externa. Na realidade, o importante é a utilização dos recursos externo (usos e fontes de capitais) e não somente o volume absoluto ou proporcional desse déficit. Se usado para aumentar o investimento, será muito bom. Se usado para garantir o consumo de bens finais, não será tão bom assim.

Os capitais financeiros e de investimentos continuam a ser superavitários, e em setembro houve entrada de investimentos estrangeiros diretos (IED) de US$ 6,3 bilhões, bem maiores do que se viu em agosto: US$ 5,3 bilhões recebidos em agosto. O Investimento estrangeiro Direto (IED em português e FDI em inglês) soma US$ 76,3 bilhões em 12 meses. Dentre as outras grandes contas das transações correntes, o que caiu em setembro, de forma contundente, foram as remessas de lucros e dividendos, que passaram de um saldo negativo de US$ 5,1 bilhões em agosto para saída de US$ 2,0 bilhões. O saldo de serviços se manteve no mesmo patamar recente, com déficit de US$ 3,1 bilhões em setembro.  O saldo comercial passou de superávit de US$ 3,9 bilhões para US$ 3,1 bilhões em setembro, superior ao registrado no mesmo período do ano passado (US$ 1,1 bilhão).
A expectativa é de que, ao menos no curto e médio prazo (ao longo de 2012) o quadro se mantenha praticamente inalterado. O crescimento do mundo ainda estará centrado nos países emergentes e como as economias ricas vão se manter em compasso de espera, a tendência é de que a liquidez global continue privilegiando investimentos, diretos e financeiros, em economias como a brasileira. No ano que vem a tendência diferente está por conta do desempenho norte-americano, que pode ser um pouco melhor do que o que se previa e certamente melhor do que em 2011. Mesmo assim, as expectativas são de um crescimento de 2,5% a 3% para a maior economia do mundo, o que não deve alterar drasticamente esse cenário.

Observação: os investimentos externos favoráveis facilitam o financiamento do nosso déficit em contas correntes que deve ser um pouco maior do que 2,1% neste ano, mas que, por outro lado ainda é menor do que os mais de 3% do PIB que causaram forte danos ao país em meados da década de 1990. Também é verdade que com o mundo se movendo da forma atual, o país pode suportar déficits maiores por um período relativamente longo (não são déficits infinitos eternamente...). O país deveria aproveitar o bom momento externo, para fazer os ajustes internos que há muito são objetos de desejo de nossa sociedade e que, certamente alavancariam nosso crescimento para um patamar de 5% a 6% ao ano, muito melhor do que nossa média atual.
Assessoria Técnica

Projetos de Lei valorizam empregadores e empregados domésticos

Duas propostas que valorizam os empregados domésticos foram aprovadas na Comissão de Assuntos Sociais, ambas com o objetivo de desestimular a informalidade. Medidas apoiadas pela Fecomercio SP.

Uma delas, o PLS n.º 189, de 2011, já aprovado, da senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), visa à redução da alíquota da contribuição previdenciária tanto do empregado quanto do empregador doméstico. Desde 15 de julho de 2011, as alíquotas recolhidas pelos empregados variam entre 8%, 9% ou 11%, respectivamente, de acordo com o salário de contribuição, cujo teto é de R$ 3.691,74, já para o empregador, a alíquota é estanque em 12%. A proposta iguala em 5% a alíquota (o empregador doméstico e o empregador recolherão esse percentual). A medida é de suma importância não só para os empregados como também para a previdência. Esta passará a arredar mais devido a regularização daquele, ou seja, sua formalidade no mercado de trabalho.
A outra proposta, PLS n.º 270, de 2011, também do Senado Federal, dispõe sobre a redução da base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Física do salário pago a empregado doméstico, cuja autoria é do senador Roberto Requião (PMDB-PR). Segundo o texto, a dedução do Imposto de Renda poderá ser feita sobre o salário de um empregado doméstico por meio de declaração, até o limite de três salários mínimos por mês, havendo a possibilidade de dedução do 13ª salário, bem como das férias, respeitando o limite de um terço do salário normal.

Após aprovação as proposta seguem para a Câmara dos Deputados.
Assessoria Técnica

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

FecomercioSP apoia Adins contra Regime Diferenciado de Contratações

A FecomercioSP enviou hoje ofício aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) manifestando apoio às duas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adins) nº 4.645 e nº 4.655 que tramitam no referido órgão se opondo ao Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC).
A entidade firma sua posição contra o argumento do Governo, da necessidade de aceleração de processos e construções, utilizando-se do termo “obras emergenciais” que visem à Copa das Confederações em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Olimpíadas e Paraolimpíadas em 2016 no Rio de Janeiro. 
Assinado pelo presidente do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP, Ives Gandra Martins, o ofício destaca que as disposições que instituíram o RDC não constavam na Medida Provisória nº 527/2011, de onde a lei 12.462/2011 é conversão. A MP regulava exclusivamente a reestrutura da ANAC e da Infraero, com demais disposições sobre Controladores de Tráfego. O ofício destaca ainda que no formato que foi constituído, o RDC está em atrito com as normas existentes de licitação, previsto no artigo 37 da Constituição Federal.

Para a entidade, não há como conceber a modalidade apresentada de “Contratação Integrada”, a extração das obras do RDC às exigências ambientais dos artigos 225 e 226 da Constituição, além do regime de pré-qualificação permanente de licitantes.
Há quatro anos o Brasil é conhecedor de sua posição como organizador da Copa do Mundo e Copa das Confederações (nunca na história da Fifa uma sede foi anunciada com tamanha antecedência até então) e há dois anos o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016 (sete anos de antecedência).

Houve, portanto, tempo de sobra para que houvesse planejamento e projetos de construções e reformas para a Copa do Mundo e ainda há tempo para que o mesmo seja feito no Rio de Janeiro. No entanto, preferiu-se fabricar uma emergência, assim forçando a que, nas vésperas das competições, as contratações necessárias possam ser efetuadas sem os rigores principio lógicos e legais aplicáveis à espécie.
Por meio do citado ofício, a FecomercioSP apóia a procedência das ADIs mencionadas, a fim de que sejam preservados os interesses da população, bem como os preceitos constitucionais que norteiam a matéria.

Assessoria Técnica

Mudanças nas regras da poupança?

O governo quer vincular a remuneração das cadernetas de poupança à taxa Selic. Essa é a alternativa tecnicamente mais aceita pela equipe econômica entre as opções que vêm sendo consideradas. Essa medida serviria para evitar que o rendimento da poupança, atualmente equivalente à Taxa Referencial (TR) mais 6% ao ano, funcione como um empecilho à queda dos juros ou acabe provocando uma migração em massa de recursos para esta tradicional modalidade de aplicação financeira. Toda vez que a Selic começa a chegar próxima de atingir um dígito essa discussão volta à tona. Claro, se as taxas de juros do País forem de fato caminhar para padrões internacionais, as aplicações em poupança seriam um empecilho porque no mínimo renderiam 6% ao ano, conforme estabelecido hoje.
Essa regra para a poupança fazia sentido quando as taxas de juros eram muito elevadas, assim como a inflação. Naqueles dias, de péssima lembrança, os juros reais muitas vezes eram negativos por conta da aceleração inflacionária. De outro lado, como as taxas nominais eram muito elevadas, o piso de 6% básico da poupança era algo muito pouco relevante. Também havia o fator segurança, pois a poupança deveria render “míseros” 0,5% ao mês mais a TR, que mal cobria a inflação, mas era o que estava disponível para baixas quantidades a serem investidas. Também havia garantias adicionais para aplicações na caderneta de poupança que não se conseguia em outras aplicações.
  foi o tempo em que a poupança era o único investimento seguro disponível para pobres e para pequenas quantias. Hoje, o Tesouro Direto vende títulos com aplicações mínimas a partir de R$ 100 e vai reduzir o investimento mínimo para R$ 30. Também estamos deixando para trás os momentos de taxa de juros básica e CDI superiores a 20%, tentando caminhar para o patamar civilizado de um dígito ao ano. Ou seja, talvez não haja motivo para que ainda existam aplicações com regras tão restritas. Talvez seja o momento de deixar o mercado trabalhar um pouco sozinho, garantidas, claro, as condições mínimas de transparência e liquidez, bem como direitos mínimos dos aplicadores.

Se a poupança se mantiver com as regras atuais de remuneração e tributação, em breve pode haver forte migração de aplicações de outras carteiras para a poupança que garante ao menos 6% como piso e também tem regras benéficas de IR. O problema de mudar essas regras é que, certamente, haverá gritaria e alguém vai sair na frente dizendo que o que querem fazer é dar o calote nos pobres e nos idosos. Na realidade é o contrário, pois um país que pode reduzir juros é um país que estimula a produção, o investimento, e isso beneficia os mais pobres com emprego, dado que na prática eles não podem viver de rendas, esse é o melhor caminho para todos na ativa. País com juros baixos é também país com menores gastos financeiro, que podem ser revertidos em queda de tributos e/ou melhoria nas condições de serviços prestados ou da seguridade social. Isso beneficia empresas, empregados e também os mais idosos.
Portanto, quem vive de renda deve se preocupar com a queda de juros. Bancos talvez tenham que se adequar, mas a maioria da população estará melhor com uma estrutura de aplicações que prevê a queda de juros para patamares civilizados. No Japão, quem aplica nos títulos do Tesouro recebe, no máximo, 0,25% ao ano. Ninguém lá pode colocar o burro na sombra e viver de aplicações financeiras. No Brasil, hoje, ainda que os juros básicos tenham caído, para que uma pessoa receba em juros o equivalente a um salário mínimo, a aplicação necessária é de algo entre R$ 65 mil e R$ 70 mil. No Japão para receber essa mesma quantia em juros a aplicação teria que ser de R$ 2,6 milhões. O Brasil é ou não é o País dos rentistas?

Assessoria Técnica

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

O Brasil do futuro

O futuro chegará, ainda que façamos de tudo para impedi-lo. E olha que o esforço que os brasileiros, principalmente o setor público (mas não exclusivamente) fazem é enorme para que o futuro não chegue. Aumentamos os gastos do governo, mantemos taxas de juros estratosféricas para o consumidor, criamos leis e regras que inviabilizam todo e qualquer negócio, pedimos aumento de IPI para proteger um setor da indústria, detestamos as regras de mercado quando essas atrapalham nossos planos individuais. Com tudo isso, o tempo passa, e o País evolui, com maior ou menor velocidade. Neste aspecto, achamos que a Fecomercio é otimista, pois vê o copo meio cheio: notou e percebeu que o País evoluiu inequivocamente.

É por essas e outras que acreditamos que o Brasil vai ser uma das cinco maiores economias do mundo, nem que façamos de tudo para impedir. Estamos tendo sucesso em retardar esse destino, mas vamos chegar lá em nossa estação, num trem um pouco enferrujado, com a ferrovia em péssimas condições, tendo comprado uma passagem muito cara e com problemas no embarque muito tumultuado com falta de infraestrutura. Mas chegaremos. O Brasil, com 200 milhões de habitantes, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, com abundância de insolação e de recursos naturais, está fadado a crescer e a gerar empregos. Seremos menores apenas do que os Estados Unidos, China, Japão e Alemanha. Isso até 2020, provavelmente. Até 2050, talvez sejamos menores apenas do que Estados Unidos e China, não necessariamente nessa ordem. O sucesso nos intimida. Não é à toa que a ordem do quadro de medalhas do Pan de Guadalajara ponha os EUA em primeiro e o Brasil em segundo lugar, à frente de Canadá, Cuba, México e Argentina. É apenas uma expressão do poder econômico sob a forma de desempenho esportivo. Vale lembrar que a China ganhou a última olimpíada.
Mas porque tanto otimismo? Ou, será que é otimismo mesmo? Na realidade, não é otimismo. Com os recursos naturais,  com mais de 120 milhões de habitantes em idade ativa, recebendo investimentos do mundo todo, teremos que crescer mais do que a média, e teremos uma economia gigante em termos absolutos. Quem inventou o termo BRIC foi apenas perspicaz em compreender o inexorável: economias com grande massa de pessoas e recursos naturais tendem a ser grandes potências em termos de PIB, ainda que isso não redunde em bem estar social europeu ou boa distribuição de renda.

Também não diríamos que essa projeção é otimista porque como o País não se preparou adequadamente para ser uma grande plataforma de produção e consumo global, vamos passar por novos períodos de apagões, como se convencionou chamar a todo e qualquer momento de escassez de fatores de produção: mão de obra, infraestrutura, capital, ambiente regulatório amigável ao investidor e à produção. Mas a necessidade faz a mudança, de uma forma ou de outra. Por bem ou por mal, mais cedo ou mais tarde.
Depois de tantos lugares comuns, explicamos porque das projeções: o mundo não deve ter uma crise de grandes proporções, na próxima década, que redunde em um retrocesso do padrão de consumo de milhões de pessoas que deixaram a pobreza no Brasil, na China, Índia, África do Sul e outras nações um pouco menores. Ao contrário, esse processo pode e tende a se espalhar para outros países hoje um pouco exóticos a esse jogo. Dito isso, devemos projetar então a manutenção do consumo de energia, alimentos e matérias primas em alta, o que é bom para o Brasil, por exemplo. Os preços de commodities no longo prazo devem se manter elevados, o risco de liquidez é pequeno para nossa economia e a tendência de que, o crescimento acelerado atraia novos interessados a nossas praias deve realimentar o processo nas próximas duas décadas, ou mais, mas aí está muito longe para dizer o que vai acontecer. Vamos nos manter alertas e com isso em mente: o que fazer num País que está crescendo rapidamente? Como atender o consumidor, e como treinar a mão de obra que vai ser uma das matérias- primas mais escassas em breve?

Assessoria Técnica

terça-feira, 25 de outubro de 2011

FecomercioSP lança Conselho de Assuntos Tributários e cria movimento contra a substituição tributária para empresas inscritas no Simples

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) lançou o Conselho de Assuntos Tributários, presidido por José Maria Chapina Alcazar. O Conselho já nasceu liderando um movimento contra a substituição tributária aplicada para as empresas inscritas no Simples que conta com o apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis e das Empresas de Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de São Paulo (Sescon-SP),  Associação das Empresas de Serviços Contábeis do Estado de São Paulo (Aescon-SP) e Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

Em sua primeira reunião, o Conselho de Assuntos Tributários da FecomercioSP debateu a substituição tributária praticada no Estado de São Paulo e em outras unidades da federação e como ela prejudica as empresas inscritas no Simples Nacional. “A substituição tributária majora e retira o tratamento diferenciado garantido por lei às Microempresas (MEs) e às Empresas de Pequeno Porte (EPPs)”, argumenta Chapina. E para não ficar somente no campo teórico, o conselho preparou um ofício que será enviado ao deputado Itamar Borges (PMDB-SP), presidente da Frente Parlamentar do Empreendedorismo e da Guerra Fiscal.

Chapina explica que com a substituição tributária, um empresário que pagaria somente 1,25% de alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelo Simples, se vê obrigado a pagar 18% pela Margem de Valor Agregado (MVA). “É uma clara afronta à justiça tributária e social, além de violar o princípio da isonomia tributária que garante que os desiguais devem ser tratados na proporção de suas desigualdades”, esclarece Chapina.

Como solução, o movimento liderado pelo Conselho de Assuntos Tributários da FecomercioSP sugere a criação de um sistema de compensação onde a diferença entre a alíquota real, aquela prevista pelo Simples Nacional, e a alíquota imposta pela substituição tributária sirva de crédito líquido. Ou seja, a diferença entre as duas alíquotas seria ressarcida à empresa para ser aplicada, por exemplo, na compra de insumos, matéria-prima, produtos e mercadorias.

O movimento ainda cobra a simplificação da portaria CAT 17/99 e a extensão do prazo para o pagamento do ICMS para as empresas optantes do Regime Periódico de Apuração (RPA), entre outras ações.

Assessoria Técnica

Mais uma semana absolutamente normal nos mercados financeiros

Semana após semanas escrevemos aqui algo que pode ser resumido mais ou menos assim: não há garantias de que a crise passou, nem motivos para muito otimismo. Por outro lado, também não há motivos para desespero, pois muito provavelmente as autoridades ao redor do mundo vão trabalhar para que não haja uma crise semelhante à de 1929. Pode parecer algo como nem sim, nem não, muito pelo contrário. Pode parecer que não há opinião definida nos textos, mas ao contrário, nossa opinião é que pregar o fim do mundo ou determinar a data precisa do fim da crise A, B ou C é tarefa de quem não tem responsabilidade ou comprometimento com quem está lendo as análises.

Para sermos bem sinceros, não acreditamos que esse estado de coisas vá mudar nos próximos meses. Talvez anos. Adivinhar o futuro não é o forte dos economistas, e, portanto, o mundo pode mudar muito e ainda em breve, mas, se utilizarmos um pouco dos conhecimentos técnicos que aprendemos na escola, vamos dizer que, ainda que a tecnologia mude muito, que os governos mudem de regime político, que uma economia cedeu ao desenvolvimentismo e outra ao monetarismo, a natureza humana não vai se alterar, pelo menos em nosso horizonte de vida. Isso quer dizer que, competição continuará a existir, aumento de produtividade também e, empresas com lucro sobrevivem, com prejuízo somem do mapa. Trabalhadores mais qualificados vão ganhar mais do que os menos qualificados. Parece óbvio, mas quando alguém sugere um cenário macro muito estranho, muito diferente do chato e óbvio, muitos compram essa ideia sem perceber que isso no fundo significaria uma mudança radical na natureza humana e nos estímulos naturais de cada um como recompensa, meritocracia etc. Ou seja, para que acreditemos que a crise acabou eternamente, temos que supor que o ser humano sobre a terra também mudou radicalmente. Para acreditar que entraremos num inverno nuclear econômico, idem.

Tudo isso para dizer que as bolsas ao redor do mundo estão oscilando de um polo ao outro, entre a certeza do fim dos problemas na Europa e o medo de uma catástrofe de proporções Olímpicas, com direito a filas de desempregados pedindo sopa nas ruas de Paris, Roma e Atenas. Esse comportamento é típico de mercado, mas não guarda correlação com os fatos. O que conseguimos antecipar dos fatos é exatamente o que vínhamos projetando há meses: Europa não deve entrar em crise geral, mas a operação resgate custará caro e trará anos de baixo crescimento e muito tumulto político interno em cada país, por conta das tradicionais exigências de aperto fiscal e monetário, ajustes duros que serão necessários. Os brasileiros conhecem muito bem esses momentos, que ainda bem estão mantidos no passado por enquanto.

Para sermos mais ousados, o Economix apostou no começo do ano que a primavera Árabe iria terminar com o final de todas aquelas ditaduras e que, eventualmente, os preços do petróleo iriam voltar aos níveis normais, até porque essas economias vivem inteiramente da venda de óleo para o Ocidente (e agora para a China também). Talvez tivéssemos sido otimistas com o prazo, pois no final os movimentos ainda persistem, mas os resultados estão sendo exatamente os previstos. Podemos ser pouco modestos e dizer que provavelmente vamos acertar o destino da Europa, Japão e Estados Unidos, e, consequentemente, do mundo. Japão e Europa vão crescer praticamente zero em 2011 e 2012, e voltam a crescer muito lentamente depois. Essa é a natureza desses países. Os Estados Unidos devem começar a crescer um pouco antes (já existem sinais de que a economia americana começa a se recuperar) e os países que atualmente sustentam o crescimento global (BRICs e alguns outros) devem se manter crescendo acima da média global, ao menos na próxima década. Não há motivo para acreditar que as bolsas mudem de comportamento rapidamente ou para que o câmbio entre real e dólar deve manter valorização a nosso favor.

Para as próximas semanas o Ibovespa vai continuar sendo influenciado pelos acontecimentos na Europa (principalmente) até que se tenha um cenário mais definido para o velho continente. Vale lembrar que, com a nova queda da Selic, a tendência seria de melhorar a performance do Ibovespa (que já conta com muitas ações baratas de fato) e desvalorizar o real, mas enquanto a situação europeia não se desenvolver mais claramente, os aspectos puramente fundamentais não vão ser preponderantes. Para quem tem sangue frio e pode esperar muito tempo pelo retorno de investimentos, o momento para o Ibovespa começa a parecer bom para novas entradas.




Assessoria Técnica

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Natal, bom momento para refletir sobre a mão de obra brasileira

Em 2010, a economia brasileira contratou 3 milhões de trabalhadores. Em 2011, esse número deverá ser um pouco menor, mas vai ultrapassar os 2,5 milhões de contratações líquidas (diferença entre admissões e desligamentos). Esse volume de criação de vagas de trabalho é mais do que suficiente para absorver a mão de obra que está chegando ao mercado. E isso é, ao mesmo tempo, uma grande notícia e um grande risco.

Boa notícia porque significa que o jovem hoje tem mais chances de achar rapidamente um emprego, uma função e iniciar sua carreira. Também permite a quem ficou desempregado a sonhar novamente com a recolocação. Risco porque coloca sob prova nosso sistema de formação profissional: será que nosso sistema educacional, profissionalizante ou tradicional está nos entregando pessoas com o preparo necessário? Já se fala em apagão de mão de obra, assim como se falou no apagão logístico e no de energia. O fato é que a economia se desdobra e avança, mas o custo para ultrapassar esses obstáculos é grande e, com isso, o ritmo de crescimento fica mais lento do que poderia ser.
No caso da mão de obra, o setor privado acaba tendo que investir muito na adequação dos profissionais que recebe, pois certamente a formação média hoje não é a mais indicada para os tempos modernos em que vivemos. Ainda estamos vidrados na década de 1970, com visões de políticas industriais de base, quando o mundo e o Brasil se tornaram polos de economia de Serviços. Neste aspecto, o Senac está na frente, mas não tem a menor condição de suprir todos os profissionais necessários para o crescimento de nossa economia. Portanto, os alunos, os futuros aspirantes a um bom emprego e bom salário, devem prestar muita atenção à sua formação e aos cursos que escolhem, ou vão perder algum tempo dentro das empresas sendo treinados e “reeducados”, antes de assumirem boas posições em termos efetivos.

Esse particularmente é um bom momento para falarmos do tema. É no Natal que o setor de Comércio e Serviços mais precisa de mão de obra. É também nesta época que muitos estudantes vão se aventurar pela primeira vez em um restaurante ou em uma loja. Esse será seu cartão de visita e para os empresários será um bom momento para fazer uma análise dos profissionais que estão chegando. Com a perspectiva de crescimento continuado de nossa economia, é muito provável que após esse período, muitos sejam já contratados, e outros o serão ao longo de 2012. Por isso é que as mudanças no sistema educacional do Brasil são urgentes: não podemos perder a oportunidade de crescer mais e por mais tempo, e isso não ocorrerá se houver mesmo um problema com a oferta de mão de obra.
Assessoria Técnica

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Adin contra aplicação imediata de nova alíquota do IPI recebe apoio da FecomercioSP

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) proposta pelo Democratas (DEM) com pedido de medida cautelar contra o decreto 7.567/2011 que aumenta em até 30 pontos porcentuais a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) ganhou o apoio da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

O Conselho Superior de Direito da Entidade se reuniu para analisar e debater o assunto e, por unanimidade, se posicionou contra o decreto que elevou as alíquotas do IPI sem respeitar o prazo de 90 dias para entrar em vigor. Uma ação que é, claramente, inconstitucional por ofender o inciso III, do Artigo 150 da Constituição Federal, que estabelece essa exigência com relação ao tributo em questão. Ou seja, o Decreto que elevou a alíquota do IPI somente poderia produzir efeitos após 90 dias de sua publicação, não imediatamente.
“A Adin proposta tem condições de ser aceita pelo Supremo Tribunal Federal e é isso que nós vamos comunicar ao Procurador Geral da República e aos 11 ministros do STF como posição oficial da Entidade”, afirmou Ives Gandra Martins, presidente do Conselho Superior de Direito da FecomercioSP.

O texto do Decreto proposto pelo governo sustenta que essa regra se aplicaria tão somente a lei. Para o ex-secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, essa interpretação é restritiva e literal. “Quando se fala em lei, ali, se fala em norma. Porque, efetivamente, o que estabelece a alíquota do IPI é o decreto dentro dos parâmetros estabelecidos na delegação legislativa para alteração em relação às alíquotas fixadas em lei”, explicou.

Para Gandra, o prazo de 90 dias é necessário para adaptação do comércio, bem como do governo, e sua inobservância gera prejuízos para as partes, tornando difícil qualquer expectativa de recuperação. “O impacto é extremamente negativo e fere a segurança jurídica das relações comerciais”, conclui.

Assessoria Técnica

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Na contramão

A Fecomercio tem expertise em diagnosticar problemas econômicos de grande relevância para o País e, mais importante, propor soluções e alternativas econômica e politicamente factíveis. A entidade foi pioneira na proposição e no apoio político à simplificação tributária. O processo, que tem mais de uma década, se originou de fato na Fecomercio e hoje atinge não só o Estado de São Paulo, mas todo o Brasil. Existem sistemas simplificados de arrecadação tributária por todo País, inspirados nos nossos trabalhos. Há o Simples Paulista, o Federal, e diversas versões criadas para atender as três principais missões: simplificar a vida do contribuinte, reduzir a carga tributária para pequenas empresas e aumentar o grau de formalização de nossa economia. Podemos dizer com orgulho que as três missões vêm sendo cumpridas com enorme sucesso.

Nossa experiência nos permite afirmar que, nesse momento, caminhamos no sentido oposto. O governo tem elevado a carga tributária sob pretexto de defender a indústria nacional, tem complicado o consumo de turistas brasileiros no exterior mexendo sistematicamente no IOF, tem manipulado a taxa de câmbio e tudo isso gera ruídos demais em uma economia que vinha se mostrando madura e eficiente ao longo dos últimos anos. Para completar essa piora percebida no campo da competitividade, o governo aprovou um novo formato de aviso prévio que, no limite, garante ao trabalhador que for demitido mais três meses de salários, contra os atuais 30 dias.
Ninguém demite por prazer. Se a empresa está demitindo um funcionário, ou é por falta da qualificação adequada ao serviço, ou é por conta de restrições orçamentárias que nenhuma empresa quer ou gosta de passar. É muito caro empregar, treinar e gerenciar um empregado para depois simplesmente mandá-lo embora por mero desejo. Especificamente no caso da demissão por conta das restrições de recursos (os negócios nem sempre vão bem, é um risco), aumentar os encargos atrelados à demissão não resolvem em nada a vida da empresa, nem do empregado. Ao contrário, mais encargos podem ser decisivos para o fim das atividades empresariais. Também, a elevação de encargos vai justamente na contramão de facilitar  a vida do empresário, de estimular a formalização e a geração de empregos. Vale lembrar outra coisa importante no dia a dia dos negócios: na prática, quem demite um funcionário, seja por qual motivo for, não o mantém trabalhando durante seu período de a aviso prévio. Ou seja, paga dias não trabalhados, até mesmo para evitar constrangimentos e confusões nesse momento delicado. Imaginemos agora no limite termos que pagar três meses de salário sem a efetiva contrapartida.

Ironicamente, a Fecomercio trabalhou durante todo o ano de 2011 na confecção de um projeto inspirado na simplificação tributária de nome Simples Trabalhista. O projeto vai ao encontro da principal reclamação empresarial que é o risco (e o custo) trabalhista no Brasil. Se simplificar e reduzir a tributação gerou mais empregos, mais formalização e até mesmo aumentou a arrecadação, simplificar e baratear a geração de empregos só pode gerar os mesmos benefícios. Vamos ressaltar que, em ambos os casos de simplificação, todos ganharam: governo arrecada mais, empresários se formalizam e ganham fôlego para operar e empregados acham mais vagas disponíveis. Não há porque fazer o contrário e essas ideias retrógradas são produtos de preconceito e visão pouco moderna do ambiente econômico.
O Simples Trabalhista levou em conta a manutenção dos principais direitos dos empregados, e ao mesmo tempo reduz o custo trabalhista das empresas. O projeto inicial tem tudo para ser um sucesso e, tal como seu primo o Simples Tributário, deve gerar novos filhotes e avançar sobre mais empresas. Mas, se o governo for minando ideias modernas e anulando benefícios com outras medidas que aumentem os custos, de nada vai adiantar o esforço de tantos que se dedicaram a este projeto, por um período tão longo.

Assessoria Técnica

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Posicionamento da FecomercioSP sobre o aviso prévio proporcional

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) lamenta que a presidente Dilma Rousseff não tenha se sensibilizado aos apelos das entidades de classe pelo veto do projeto que aumenta o aviso prévio para até 90 dias.

A FecomercioSP reforça que a medida vai desequilibrar as relações de trabalho, incentivando a informalidade, os contratos com prazo determinado e a rotatividade de funcionários, que hoje já é elevada. Em especial, a medida é, na visão da Federação, potencialmente mais danosa para as micro e pequenas empresas, que terão seus gastos elevados para manter funcionários, lembrando que há a existência de outros projetos menos gravosos que tratam do assunto.

“Em um momento em que se debate a urgente necessidade da redução do Custo Brasil para que o país se torne mais competitivo frente aos mercados externos, esse é mais um duro golpe na classe empresarial”, afirma o diretor executivo da FecomercioSP, Antonio Carlos Borges.
A FecomercioSP reafirma que a regulamentação do aviso prévio deve ser feita por meio das negociações coletivas, que já abrangem garantias adicionais para os empregados, firmadas entre as entidades patronais e de trabalhadores, e acredita que deve sempre prevalecer o “negociado sobre o legislado”. Esse princípio assegura maior equidade nas relações de trabalho, que podem variar de um segmento para o outro, de acordo com suas necessidades especificas.

Assessoria Técnica

Tudo dentro do planejado

Para resumir a semana, seria preciso apenas uma frase: o dólar caiu 2,3% e o Ibovespa subiu 7,4%. Por si só essa frase representa muito bem o clima, o humor dos mercados nesta semana. Não houve solução para a crise europeia, não acabou o problema fiscal americano nem mesmo melhorou definitivamente o ritmo da geração de emprego nas economias desenvolvidas (aliás, esse talvez seja o maior mal deste momento e a má notícia é que provavelmente as altas taxas de desemprego não sejam apenas efeitos da crise de 2008, mas isso é assunto para um boletim dedicado ao desemprego nos países desenvolvidos).

Se nada mudou, porque o humor mudou? Bom, em primeiro lugar é sempre bom lembrar o que já foi dito nos boletins por mais de uma dúzia de vezes: as reações de curto prazo do mercado pouco têm correlação com a economia real. No longo prazo, aí sim, a correlação é total. Acontece que, a rigor, a percepção é mesmo de que a Europa (com as brigas e desencontros e chantagens que antecipamos aqui) vai encontrando o caminho, que passa exatamente por capitalizar organismos de crédito multilaterais. Provavelmente também alguns bancos serão nacionalizados e um episódio Lehman Brothes europeu não deve ocorrer. Por incrível que pareça, alguns bancos alemães querem deixar a Grécia quebrar, numa espécie de punição para o país gastão, mas o governo alemão não vai tratar esse assunto com a emoção que os perdedores e credores tendem a tratar. Para o governo alemão, a Alemanha está acima das disputas políticas e dos dissabores de um ou outro setor. Esse encontro de contas europeu foi o principal motivo dessa reação positiva, mas não é o único. Também não garante que não venham a ocorrer novos episódios de nervosismo – aliás, existem 110% de chances de novos episódios tensos na Europa.
O que mais deu certo nesta semana? Ah, a economia americana, longe de seu auge, começa a dar sinais mais claros de recuperação. Vendas no varejo vieram fortes, o transporte de cargas ferroviárias interno está crescendo quase 8% neste ano e os números de geração de empregos foram melhores do que o esperado. Também nos Estados Unidos a recuperação não vai ser simples e sem novos percalços, mas se ela de fato vier, confirmada por mais dados como os das últimas semanas, será a certeza de que o mundo deixou para trás os riscos de uma depressão econômica. Vale lembrar que é dos Estados Unidos (além dos BRICs, claro) que se espera muito. Mesmo que a Europa e o Japão estejam em breve (dois anos) com as contas públicas equilibradas e com o sistema financeiro livre de riscos sistêmicos, as taxas de crescimento dessas economias será baixa, como tem sido nas três últimas décadas. O Welfare State não está dando respostas adequadas para o crescimento econômico hoje em dia, e é muito caro quando a população envelhece e deixa de buscar a competição estimulada pelo mercado.

Ocupem Wall Street: um movimento ressentido de hippies que chegaram com 41 anos de atraso ao festival de Woodstock. Alguns lugares comuns, repetidos pela mídia sem grande senso crítico chegam a irritar. Por exemplo, atribuir às redes sociais a capacidade de aglutinar pessoas. Podemos citar algumas revoluções bem mais importantes e bem mais organizadas que ocorreram sem convocação via Twitter ou Facebook: Independência americana em 1776, Revolução Francesa em 1789, a Revolução Russa de 1917 e as manifestações estudantis em Paris de 1968, entre muitas outras anteriores e posteriores a essas. Esse é um movimento ressentido, pouco inteligente, e certamente pouco efetivo. Podemos apostar que, daqui um ou dois anos, esses jovens (e nem tão jovens assim) estarão ainda cheios de ideais e ideias, mas com os bolsos muito mais vazios do que os executivos de Wall Street, e sabem por quê? Não é por conta da injustiça do sistema, e sim por conta do pragmatismo e do volume de trabalho e capacitação do pessoal daquela Rua em Manhattan. Se houve fraudes, que se apurem e se punam os culpados (e serão punidos), mas atribuir a Wall Street a responsabilidade de uma crise que derivou da irresponsabilidade de todos, inclusive de quem se empanturrou de consumir sem ter de fato condições, é um pouco demais, e demodê.
Assessoria Técnica

Mercado revê previsões e fica mais pessimista

O Boletim Focus do Banco Central levanta periodicamente projeções dos analistas de mercado, principalmente do setor financeiro, sobre diversas variáveis importantes. São projeções sobre PIB, inflação, taxa de câmbio, juros, balança comercial etc. Na última edição do boletim, nesta semana, a média das expectativas do PIB caiu e para inflação aconteceu o inverso. A evolução das projeções de PIB e IPCA ficou conforme segue:

Mais importante do que notar que há uma deterioração nestas projeções é verificar que o Brasil retoma dois maus hábitos: o de crescer pouco e o de deixar a inflação um pouco solta. Se as projeções estiverem corretas – e para a Fecomercio o crescimento de 2011 será ainda menor do que 3,42% - o Brasil vai crescer muito menos do que seus pares dos BRICs ou do que outros países emergentes. Muitos de nossos pares econômicos estarão crescendo entre 8% e 10% neste ano e provavelmente algo semelhante ainda em 2012, a despeito da crise nos países desenvolvidos. De outro lado a inflação prevista em média para esses países é menor do que a brasileira. Ou seja, há algo que pode ser feito para acelerar o crescimento, e que não seja deixar a inflação corrente crescer.
É chato insistir, mas o Brasil deve promover uma ampla reforma fiscal e de eficiência do setor público, ainda que seja gradativamente. Essa reforma não só deve liberar o setor privado para investir mais através do corte de impostos, como ao aumentar o superávit e a eficiência do governo, cria condições de fato para que o setor público complemente investimentos nos mais diversos setores de infraestrutura, hoje muito aquém do que o país precisa. Também será possível reduzir custos e retirar pressão inflacionária de nossa economia com essa redução de carga tributária e do custo Brasil que deriva da modernização da infraestrutura e dos ganhos de produtividade públicos e privados. Teríamos, ao mesmo tempo, um ganho de eficiência e de competitividade, e um aumento do ritmo de crescimento com menor pressão sobre os preços. Parece um sonho, mas outros países estão vivendo esse momento, e nós não!

Assessoria Técnica

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Namoro infiel

No mundo, existem vários tipos de namoros infiéis, que não são exatamente namoros tradicionais. Os mais conhecidos para os economistas são os namoros entre membros de um Cartel ou Oligopólio e um bastante interessante é o namoro entre países membros de um bloco econômico. Vamos analisar os dois casos  aqui, mas com ênfase para o problema dos blocos econômicos.

No primeiro caso, os estudantes de economia, ainda no primeiro ano, são normalmente levados a estudar a teoria dos jogos aplicada à sua área. Um dos exemplos clássicos é o do cartel de produtores de petróleo, a OPEP. Neste exemplo, o professor diz para os alunos que o grupo com cerca de 10 países membros realmente relevantes, decide, em uma de suas reuniões, cortar a produção em, digamos, 30% cada um. Isso faria com que a falta de oferta gerasse uma pressão de preços muito forte. Acontece que esse namoro tem tudo para acabar em baixaria. Muitos desses países são economias cronicamente pobres e pouco dinâmicas. Quando o preço começa a subir, surge uma enorme vontade de namorar algum outro país, neste caso um comprador. O compromisso, solene, claro, de cortar a produção, é posto à prova. Um país com problemas sociais, com governos normalmente corruptos autoritários (populistas) tem enorme estímulo para romper o acordo, e vender mais petróleo a um preço mais elevado. Acontece que, quando todos fazem a mesma coisa (e fazem), a oferta volta a subir, e os preços voltam a cair. Nunca deu muito certo por muito tempo manter os cortes de produção de fato.
Namoro nos blocos econômicos

O caso do Mercosul é especial para nós, não por conta de sua importância econômica para o mundo, mas justamente porque o Brasil é membro do Bloco e a maior economia do continente.  Aqui o problema está na definição do que é um produto do Mercosul – que não paga nenhuma tarifa aduaneira no seu trânsito na região. Para que os produtos sejam considerados do Mercosul a proporção do valor agregado nos países do Bloco tem de ser algo entre  60% ou 65%. Mas aí começam os problemas: como saber qual o valor de cada etapa? Como confiar nas certificações? O Paraguai e o Uruguai, com sua indústria claramente sucateada, somente podem se interessar por este Bloco se conseguirem acordos com terceiros países e passarem a maquiar produtos para que entrem no Brasil e Argentina como se fossem do Bloco, sem pagar impostos aduaneiros.  O Brasil deveria tomar mais cuidado ainda, porque a Argentina está caminhando para uma forte desindustrialização, e será mais um foco de produtos maquiados ou apenas montados em suas fronteiras. Triste, mas é assim mesmo. Pensando bem, como alguém poderia imaginar que um namoro entre brasileiros, uruguaios, argentinos e paraguaios poderia dar certo? O IPI dos carros importados vem aí, vamos ver se esses mesmos carros não começam a ser estranhamente produzidos aqui do lado...

O caso da Eurolândia é o mais importante para o mundo, dado o tamanho da economia do Bloco. Também é um caso interessante onde esse namoro infiel está levando a Europa toda a um caos financeiro e do sistema bancário nunca visto após 1929. O que aconteceu na Europa também é um exemplo típico de sala de aula. O professor explica Teoria dos Jogos, e dá o exemplo do Moral Hazard. Basicamente, quando os bancos e/ou países estão emprestando dinheiro sem bons critérios de análise, é porque os gestores fazem o seguinte cálculo: se meus credores pagarem, ótimo, porque as taxas de juros são exorbitantes, em média. Se não pagarem, excelente, pois os governos terão de nos resgatar sob o risco de gerarem um problema sistêmico de proporções olímpicas. Ou seja, a Grécia achou extremamente interessante gastar muito, emitir títulos para financiar suas festas e gastanças, e o mercado financiou irresponsavelmente essa festa. Agora os contribuintes da Alemanha, França e outros países não querem pagar essa conta, com certa razão, mas os governos sabem que o jogo favorece os maus pagadores, pois não resgatar, que seria em tese o correto, pode acarretar em um mal maior. Pior, internamente cada setor político faz sua chantagem ao governo quando a situação exige que todos colaborem para resgatar bancos estrangeiros e mesmo outros países. Novamente um namoro entre latinos e germânicos teria que dar seus probleminhas de infidelidade enquanto a Alemanha não estivesse olhando!
Assessoria Técnica

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Como mensurar a demanda de Natal

O desempenho do varejo sempre pode ser antecipado com alguns indicadores antecedentes. Não requer muita magia ou análises multivariadas sofisticadas para que se consiga antecipar com boa dose de precisão o que vai acontecer com as vendas nos próximos dois ou três meses. Claro, sempre existirá o imponderável, mas quando ele aparecer, voltamos à planilha de cálculos e projeções e refazemos o cenário. Dentre as forma mais fáceis de fazer projeções, que estão disponíveis a todo porte de empresa/empresário, sugerimos o acompanhamento de alguns dados, em conjunto, ou seja, um dado pode estar errado, mas a coleção de informações tende sempre a estar correta em média, e pode ser grande aliada na hora de se fazer o planejamento.
Para o Natal, a data mais importante para o varejo, o planejamento é essencial para que não haja nem o risco de desabastecimento (quando a loja perde a venda e provavelmente o cliente para um concorrente muito próximo) e nem o de encalhe de mercadorias na prateleira. Para os varejistas o ideal é um mês de janeiro sem promoções. Mas que dados públicos, de fácil compreensão e fartamente divulgados existem que possamos usar? Sugerimos alguns desses dados:

1. Massa de Rendimento Real: disponível no IBGE     http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/default.shtm
É uma derivada da pesquisa de emprego. Ou seja, não adianta apenas o número de empregos estar crescendo, o que importa é a soma total dos rendimentos dos consumidores, em relação aos meses anteriores, e, mais importante, em relação ao mesmo período do ano passado – o que os economistas chamam de comparação T – 12.

2. Volume de Crédito à Pessoa Física: disponível no Banco Central: http://www.bcb.gov.br/?INDECO
A capacidade de consumo das famílias depende da renda e do emprego atuais, mas também do volume de crédito disponível. A comparação da concessão de crédito mensal presente com o que ocorria em T-12 é um importante indicador, pois permite que o consumidor pague seus antigos débitos, talvez “rolando” uma dívida antiga, ou faça novos crediários. Vale ressaltar que os indicadores de crédito ainda dispõem de informações qualitativas sobre o mercado creditício, como o prazo dos financiamentos (enquanto estiver se alongando, mais facilidade em pagar existe) e a taxa média de juros praticada (que nos dá um indício de risco, e de custo desse crédito).

3. Endividamento e Inadimplência em São Paulo e no Brasil respectivamente: (WWW.fecomercio.com.br) (WWW.cnc.org.br)
Além de emprego e renda, também é relevante saber a quantas anda o grau de endividamento das famílias. Se muito endividadas, a capacidade/interesse de tomar novos empréstimos será menor. Um olhar na série histórica pode dizer muito sobre o tema.

4. Índice de Volume de Vendas no Varejo: o IBGE divulga índice nacional, a Fecomercio regional e os dados podem ser obtidos no site do BC (http://www.bcb.gov.br/?INDECO) do IBGE e da Fecomercio.
Os resultados dos últimos meses desses indicadores dão uma noção de como está de fato o termômetro das vendas em geral. Esse é um importante indicador presente para que cada empresário possa se situar no seu mercado e na economia.

5. Confiança do Consumidor e Intenção de Consumo das Famílias (WWW.fecomercio.com.br)
Não adianta nada termos aumento da Massa de Rendimentos, mais crédito, pouco endividamento e um bom desempenho de vendas nos últimos meses se por algum motivo a confiança das pessoas está se dissipando. Uma parte importante das decisões de compra depende de fatores puramente quantitativos como renda e crédito, mas outra porção importante depende da visão de futuro do consumidor, de sua confiança. Ainda bem que também existe método para mensurar esse indicador.

6. Outras fontes: Serasa, indicadores específicos de associações e sindicatos setoriais e regionais, sondagens de datas comemorativas:
Usar outras fontes é sempre bom, pois o que se conseguir a mais de informação não prejudicará a análise. Fontes direcionadas, setoriais são bons complementos de informações mais gerais. Só temos que tomar cuidado para limitar as informações, pois é impossível hoje em dia darmos conta de todo o volume que recebemos. O ótimo é inimigo do bom: é melhor ter algo simples do que uma montanha de informações incompreensíveis. Racionalmente, colocamos nesse boletim uma ordem de importância (não extremamente inflexível) dos indicadores que devemos acompanhar.

Um olhar atento a todos esses indicadores, e suas séries históricas podem ser poderosos e simples instrumentos de previsão de desempenho. Não á custoso NE difícil fazê-lo, e não há praticamente nada que uma boa planilha de Excel não possa resolver de forma rápida e simples. Os modelos mais sofisticados custam muito caro, e são úteis no limite para grandes empresas e conglomerados, e tem mais: de forma geral são compostos com os indicadores acima, às vezes de maneira mais elegante, mas nem sempre mais eficiente.
Assessoria Técnica