Uma das formas de se antecipar o futuro é criar cenários e entender os efeitos de cada uma das possibilidades sobre a vida das pessoas. No caso da economia, esse exercício funciona muito bem. Escolhemos alguns cenários prováveis (mais ou menos prováveis, evidentemente) e identificamos se é possível que os agentes, principalmente os formuladores de política econômica, podem pender para um lado ou outro e direcionar as ações, de modo a que sobre apenas o cenário menos traumático ou mais benéfico. O exercício não é dos mais simples, mas é possível. Vale lembrar também que, eventualmente, quando os resultados são semelhantes, os agentes políticos tendem a escolher medidas que sejam politicamente mais viáveis e rentáveis a si mesmos, ainda que se chegue a uma opção B não tão boa quanto a A. Quando o resultado da opção B pode ser, no entanto, desastroso, aí os políticos tendem a entender que é melhor comprometer seu curto prazo ao invés do longo prazo do país.
Hoje podemos dizer que os grandes problemas da economia global se concentram no baixo crescimento americano e japonês (geração de empregos insuficiente) e, principalmente, o risco elevado de calote de dívidas europeias. O risco nipo-americano pode contagiar o mundo por meio da simples redução do ritmo de atividade econômica. É ruim, mas, ainda assim, digerível. O risco europeu é algo mais sério, pois um calote de uma ou algumas economias (dentre elas está a italiana que é bastante grande) poderia provocar um enorme colapso no sistema de crédito mundial, com aversão exagerada ao risco (crunch de crédito) e também efeitos devastadores sobre o euro e a unidade da União Europeia.
Nos Estados Unidos existe uma expressão que exemplifica muito bem o tipo de risco que a economia global corre com um eventual calote europeu: too big to fail (muito grande para quebrar/falhar). A economia europeia é muito grande e muito importante para o globo. Se quebrar, ou falhar, os efeitos do contágio poderão ser demasiadamente elevados e não devemos afastar a hipótese de uma recessão global de longo prazo caso isso ocorra. O sistema bancário entraria em xeque novamente, com riscos enormes de quebradeira, e pior, em geral, não teríamos condições de dizer quais bancos estariam sólidos ou não. Nesse ambiente a correria de consumidores e correntistas poderia ser devastadora.
Analisemos alguns cenários possíveis para os próximos dias para, depois, tentar antecipar o futuro:
1. A Europa deixa a Grécia quebrar e depois o mundo inteiro, sob clima de pânico, resolve orquestrar uma ação de salvamento de outras economias como a Itália, Portugal, Espanha e Irlanda;
2. A Grécia quebra e mesmo assim ninguém faz nada para resgatar as outras economias. O mundo mergulha numa crise bancária e de confiança, seguida por um período de recessão agudo e prolongado;
3. A China entra sozinha no jogo e resgata as dívidas de curto prazo das economias mais endividadas da Europa, principalmente a italiana, o maior monstro do momento;
4. Antes de haver um evento de default, ou da China fazer o papel de emprestador de última instância, os bancos centrais do Japão, Estados Unidos e Europa entram no jogo e orquestram um plano de saída para suas economias, reduzindo os impactos de uma futura crise, tornando um provável evento recessivo de longo prazo em apenas um período de redução do ritmo de crescimento.
Dentre essas hipóteses, a pior é deixar as economias europeias entrarem em colapso, uma após a outra (cenário 2). A segunda pior seria deixar a China voluntariamente resgatar a Europa (cenário 3), pois, posteriormente, o preço que a economia ocidental iria pagar por essa mudança do eixo de importância seria muito aguda. A melhor hipótese seria se antecipar à crise e orquestrar uma operação de resgate de proporções quase bíblicas (cenário 4) seguida da hipótese de se esperar a Grécia quebrar para depois resgatar orquestradamente a Europa e as grandes economias (cenário 1)
Para nós, as hipóteses 2 e 3 são muito improváveis, pois analistas, políticos e autoridades econômicas conhecem seus desfechos aqui destacados. A hipótese 4 é hoje a melhor e só não é disparada a mais provável porque internamente, em cada país, as pressões populares são antagônicas a esse tipo de resgate. Para os gregos, não parece justo passar por uma recessão para pagar as dívidas com “banqueiros inescrupulosos e gananciosos”. Para os alemães, não parece justo resgatar os gregos, italianos, portugueses e espanhóis de uma situação criada por sua irresponsabilidade e incompetência. Por isso mesmo, ironicamente, o primeiro ministro grego está mal avaliado por tentar implementar um plano de austeridade e a premiê alemã Angela Merkel perdeu as eleições locais em Berlim por aventar o resgate da Grécia. Talvez seja necessário deixar a Grécia quebrar para fazer com que políticos, organizações sociais e público em geral entendam que todos serão muito afetados se nada for feito, ainda que cada um ache muito o que terá que contribuir para isso. Se pudéssemos apostar, a hipótese 4 é a mais provável, seguida de perto da hipótese 1. Como o jogo é de “Resta Um”, ficamos com a 4! Vamos esperar ao menos mais 2 semanas para uma definição, enquanto isso, o nome do jogo é volatilidade.
Observação: vale a pena, para que se entenda bem o início dessa crise e as eventuais implicações de quebradeiras generalizadas, assistir a um filme para a TV da HBO chamado “Grande Demais para Quebrar”. Clique aqui para ver a grade de programação para a semana.
Grande Demais para Quebrar
• Filme / Drama
• Nome Original: Too Big To Fail
• Direção: Curtis Hanson
• Elenco: James Woods, Topher Grace, Paul Giamatti, Billy Crudup, Matthew Modine, Tony Shalhoub, Kathy Baker
• País: EUA
• Ano: 2011
• Duração: 98 min
• Cor: Colorido
• Som: Stereo
• Classificação: Programa permitido para menores acompanhados dos pais
Crônicas da crise financeira de 2008, centrada no secretário do Tesouro, Henry Paulson.
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