sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Emoções à flor da pele

A quantidade de indicadores internacionais saindo junto ao sentimento interno crescente de desconfiança e ressentimento com as autoridades econômicas criam um ambiente explosivamente perigoso. O blog vem alertando para o fato de que a situação econômica não chega a ser catastrófica, mas requer cuidados especiais. Se houver desdém por parte das autoridades (aqui no Brasil ou nas grandes economias globais) o atual cenário modestamente ruim de crescimento global baixo (algo entre 3% e 3,5%) pode caminhar rapidamente para um cenário bem pior de recessão e risco sistêmico no setor financeiro. Exatamente por conta dos riscos envolvidos é que nossa aposta era e continua a ser a de que haverá uma orquestração para dirimir e mitigar os riscos mais proeminentes.

O Brasil não está blindado como pode parecer. Evidentemente nossa situação é mais confortável, com o sistema financeiro sólido e hígido, as contas públicas em ordem (principalmente em comparação ao resto do mundo) boas reservas cambiais e com o setor real da economia ainda trabalhando quase a pleno emprego. Todavia, confiança demais pode ser um mau conselheiro, e é exatamente isso que preocupa os analistas da Fecomercio no momento. O Brasil parece atravessar um momento de soberba da equipe econômica. Seria muito melhor, neste momento, que o País adotasse cautela e ortodoxia para enfrentar mares mais hostis e podermos comemorar no curto prazo que novamente ficamos quase alheios aos momentos de crise mais aguda.
Nesta semana, além de todo o problema da dívida européia, com o gatilho grego perigosamente armado, os dados de produção na China, Europa (inclusive Alemanha) estão indicando desaceleração mais profunda do que se previa. Ao mesmo tempo as autoridades econômicas brasileiras estão brincando com fogo, e abriram uma “Caixa de Pandora” que pode muito rapidamente deteriorar o cenário e as perspectivas, ora positivas, no Brasil. A mistura de ressentimento dos mercados financeiros e dos consumidores com relação às medidas adotadas nos últimos meses (e principalmente nas últimas semanas) com a desconfiança de que a equipe econômica é fraca para enfrentar uma nova crise vinda lá de fora é o pior dos mundos. Essa mistura de sentimentos está provocando um aumento significativo da percepção de risco, pressionando juros futuros, provocando uma aceleração da desvalorização cambial típica de momentos de quebra de confiança na moeda nacional e elevando a volatilidade dos mercados até o teto da casa.

Nada disso é bom, e para esse sentimento extrapolar o mercado financeiro e chegar às ruas, é questão de tempo, se nada for feito para provar que o desvio do rumo foi apenas temporário e que o governo reconsiderou suas ações. Vale ressaltar que o consumidor já começa a perceber que sua vida pode mudar, para pior, em breve. Provavelmente os próximos indicadores de confiança vão comprovar essa tese. A maior frustração, nesse momento, é a de ver o Brasil jogando fora, a passos largos, um momento de grande oportunidade para nos firmarmos como um dos pilares da economia global. Tudo isso por conta da má gestão que o governo tem feito de lobbies e das pressões, naturais e legítimas, mas que não deveriam pautar as políticas. O dia – e o resto da semana - promete ser muito agitado nos mercados financeiros, e a taxa de contágio para nós cresceu muito ultimamente.
Assessoria Técnica

Nenhum comentário:

Postar um comentário