segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Operação orquestrada para salvar Europa

Muito provavelmente, haveria uma operação de resgate das economias mais “enroladas” da Europa. E essa operação está para acontecer. Os bancos centrais ao redor do mundo vão fazer de tudo para garantir a estabilidade dos preços, mas mais do que tudo, para dar solvência às economias mais atingidas pela crise das dívidas soberanas como Grécia, Espanha, Itália e Portugal. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse que a decisão de prover liquidez em dólar via operações de três meses é um sinal desse movimento. "Estamos todos muito "unidos num propósito", disse Trichet por meio do texto de um discurso a ser feito no Fórum Financeiro Eurofin. "A decisão global coordenada, que levamos ao público nesta tarde sobre operações em dólar para prover liquidez, é uma clara ilustração de nossa cooperação muito próxima em nível global". O presidente do BCE também disse que a implementação das regras bancárias de Basileia III é um importante desafio à frente e que os reguladores precisam estudar os riscos que as operações de alta frequência impõem à estabilidade do mercado.   

O blog vinha adiantando que a Europa teria que recorrer a alguma solução não trivial. O volume de dívida vencendo no curto prazo nos países mais endividados como Grécia, Espanha, Itália e Portugal é muito grande para que haja uma operação tradicional normal de resgate via um banco ou apenas por meio do FMI e cortes de gastos públicos. O risco de um desses países declarar moratória era grande e as chances disso gerar um contágio em todo continente maiores ainda. O evento default na Europa seria inédito no pós-guerra e os efeitos poderiam ser desastrosos. Em 2008, mais precisamente em setembro, o Federal Reserve preferiu deixar o Lehman Brothers quebrar. Talvez essa decisão aparentemente correta e austera do Fed tenha sido o gatilho da crise. Ela iria se instalar de qualquer forma nos países com problemas de sub-prime, mas talvez a magnitude fosse melhor se houvesse uma solução não tão ortodoxa. Não dá para saber de fato o que ocorreria, mas a princípio, deixar um país da zona do euro quebrar parece muita irresponsabilidade.

O dano já está feito, a falta de rigor na fiscalização e a vista grossa que o BCE fez quando os Tesouros Nacionais e Governos faziam farra e gastavam muito já ficou no passado. Não há como voltar no tempo e buscar a solução ideal, que era ter exigido austeridade e a manutenção dos padrões fiscais e comerciais exigidos aos membros da “Eurolândia”. Alemães e franceses deixaram outros povos menos austeros de economias menores correrem muito soltos. O estímulo para a infidelidade era grande, ou seja, para gregos, portugueses, espanhóis e mesmo italianos, lançarem mão de gastos enormes financiados com emissões de títulos lastreados em Euros. Principalmente sabedores, de que se algo desse errado e o endividamento ficasse insustentável, alguém teria que resgatá-los. Algo deu errado. O endividamento ficou insustentável. Alguém vai salvá-los.

Rescaldo: como ocorreram, e se houve alguma jogada esperta de alguém por trás (esse alguém podem ser os italianos mesmo) isso ninguém vai saber ao certo e não é relevante agora, mas deixar vazar para a mídia que a China estaria disposta a ajudar a Itália comprando partes importantes de seus títulos, foi fundamental para o desfecho que deveremos ver em breve. Só o fato de que se a Europa não se concatenasse com Estados Unidos, Suíça (fora do Euro) e Japão a China poderia se tornar a grande provedora de financiamento para o velho continente ainda soa assustador. Se alguém deixou essa mensagem vazar, a China caiu na armadilha e terminou por completar talvez involuntariamente um trabalho de gênios: o primeiro ministro chinês veio a público dizer que poderia ajudar a resgatar a Itália e outras economias européias, mas que isso teria um enorme custo. Para os chineses resgatarem títulos quase tóxicos, a Europa teria que reconhecer o Império do Meio como uma economia de mercado. Essa “ameaça” chinesa soou como uma chantagem para que as grandes economias globais se apressassem em bolar um plano de resgate. Pode ser que tudo isso não tenha sido orquestrado dessa forma, e que tenha havido uma enorme coincidência de informações em fusos horários tão distintos, mas quando a coincidência é grande, as pessoas desconfiam.

Para recordar: quantas vezes países da Europa alinhados com os Estados Unidos não usaram o “risco soviético” como forma de chantagem para obterem vantagens no passado não tão distante? A China é o novo bicho papão do mundo! 

Assessoria Técnica

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