quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Há um mundo bem melhor, mas é bem mais caro

A Europa cresce mais de 3% ao ano, finalizou seu processo de unificação monetária com relativo sucesso e o potencial futuro parece ilimitado. O Sudeste Asiático passou a ser uma das plataformas preferenciais de produção industrial, bem como de geração de tecnologia. Os mercados dos grandes países como Brasil, Rússia, Índia e China são responsáveis por 60% a 70% do crescimento mundial, com a inclusão de centenas de milhões de pessoas no mercado consumidor global. Nos Estados Unidos o desemprego é o menor em décadas e o consumo das famílias atinge quase US$ 10 trilhões por ano, um recorde que acaba por manter superaquecida a economia chinesa e de outros parceiros comerciais. O volume de crédito no mundo cresce aceleradamente, principalmente destinado à aquisição de imóveis e de bens duráveis. Há uma onda de crescimento, distribuição de renda e progresso sem precedentes no capitalismo pós-guerra. Esse cenário existiu mesmo, e não faz tanto tempo: perdurou de meados da década de 1990 até meados de 2000, algo entre 15 ou 20 anos.

Esse mundo descrito acima, é bem melhor do que aquele que estamos agora, sem dúvida, mas em parte se baseou na falsa premissa de que existe almoço de graça. Nem tudo foi fantasia, e é até possível que o capitalismo se modernize e evolua garantindo taxas de crescimento melhores no longo prazo, mas a exuberância do período entre 1995 e 2007 ou 2008 era de fato irracional, parafraseando o antigo presidente do FED, Alan Greenspan. Em grande medida a prosperidade de ontem foi baseada no suor de hoje. Em geral os economistas concebem que a poupança deve ser prévia ao investimento (isso de forma geral, mas nem todos economistas concordam). Se alguns estão consumindo acima de suas possibilidades é porque outros estão poupando. Em termos agregados eu tenho que formar a poupança para depois consumir mais, baseado em investimentos e seus retornos.
No mundo dos anos de forte crescimento, parece que em vários casos se consumiu antes de se poupar. Se não foi cobrado na entrada, certamente a comanda será cobrada na saída. Muito provavelmente, ao passarmos esse período de crescimento baixo e desemprego elevado no mundo, vamos perceber que na média o crescimento obedeceu aos padrões históricos do capitalismo, talvez com alguma elevação. Ou seja, ao invés de tomarmos como base o período de crise para avaliarmos o crescimento econômico ou o período de expansão acima da média, devemos tomar um período mais longo, que englobe mais anos, contendo expansão e crise, para avaliarmos em média os resultados. Ou seja, o mundo bem melhor que vimos há pouco, tem preço, e a fatura está sendo apresentada agora.

Muito provavelmente, após esse período de purgação, haverá uma retomada do crescimento, e, após a curva de aprendizagem desta crise, deverão ser criados e adotados mecanismos que minimizem o risco de novas rodadas de crises como as de 2007/2008 e a atual (que é rebote da de 2007). Mas não nos enganemos, os mercados vão descobrir  novas fórmulas mágicas de crescimento acelerado, que não serão contidas por esses mecanismos. O resto da história não precisamos nem contar.
Assessoria Técnica

Nenhum comentário:

Postar um comentário