O cenário internacional não piorou na semana passada, da mesma maneira em que, na semana anterior não havia sido resolvido. Há duas semanas, o Ibovespa subiu fortemente, e era essa a expectativa mesmo, por conta dos preços e de alguns números que iam saindo durante o período. Na outra semana (a passada), havia probabilidade de um pequeno ajuste para baixo, por dois motivos principais: realização de lucros e também por conta de novos dados internacionais que seriam ruins, mas a rigor, dentro do esperado. Já usamos essa expressão, mas vale repetí-la: ficamos surpresos com a surpresa dos analistas.
Apesar de em resumo termos tratado de todos os assuntos possíveis que explicam essa situação atual, e de também termos antecipado que no curto e médio prazo nada vai mudar, cabe sempre um detalhamento melhor de nossa visão. A Europa caminha semana sim, semana não, para uma solução complexa de suas dívidas soberanas. Não acreditamos que haja uma hipótese negociada tradicional para resolver esse problema, e alertamos várias vezes que provavelmente algo como um pano de reescalonamento e reordenação de todas as dívidas, semelhante ao Plano Brady da década de 1990 para as economias periféricas será necessário. Os Estados Unidos vai viver o problema do desemprego elevado e o crescimento baixo por um bom tempo também, assim como o Japão.
Internamente, sabemos que o País está desacelerando, e ao menos neste ano terá um crescimento relativamente baixo, algo entre 3% e 3,5%. Passamos no momento por outro teste complexo, o de controle da inflação (que discutiremos adiante), mas que, a rigor nossa visão é de que em 2012 e 2013 estejamos crescendo novamente a 4%, com inflação próxima de 4,5%. Portanto, o que nos espera é um período médio de crescimento baixo no Brasil e um período mais longo de crescimento baixo das economias avançadas. Aliás, acreditamos ser muito difícil, na próxima década, reeditarmos os períodos sem precedentes de crescimento global de meados de 1990 até 2007 ou 2008. As condições que existiam naqueles momentos dificilmente se reunirão novamente.
Para a semana esperamos um início ruim, na esteira do final da semana passada. Provavelmente ainda veremos outros números internacionais fracos e o Ibovespa tende ainda a andar de lado com leve viés de baixa. A desconfiança nova sobre o BC ajuda o ambiente a ficar mais tenso e pesado.
Fato novo
O Banco Central fez uma aposta muito diferente, e nos próximos meses haverá um embate de opiniões como há muito não ocorria sobre os rumos da economia brasileira. O BC foi, para alguns, pouco ortodoxo e para outros, muito ortodoxo, ou seja, adotou um modelo matemático recente de projeções de juros, atividade econômica e inflação que tem a simpática sigla SAMBA. Para quem acredita que esse modelo é mais preciso e bem testado, então o BC está apenas sendo ortodoxo suficiente e deveria mesmo ter reduzido a Selic para 12%. Para quem crê que o modelo é pouco testado e ainda acha que houve ingerência do governo na decisão do Copom e o modelo SAMBA está apenas servindo de argumento para o BC, então o BC errou. Vamos saber quem está certo neste debate no médio prazo. Apenas os números da inflação vão nos poder confirmar se o BC aceitou mais inflação ou se de fato o Copom tinha informações que fundamentavam o corte de juros. Faz muito tempo que não há um debate técnico tão acalorado no Brasil. Faz muito tempo que o BC não fica na mira de tanta gente também.
Assessoria Técnica
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