sexta-feira, 29 de julho de 2011

Medidas do governo para conter a valorização cambial

O governo editou, hoje, decreto para reduzir a apreciação cambial do real. O decreto impõe uma taxação de 1% sobre as operações de derivativos cambiais feitas por investidores brasileiros e estrangeiros no País. Também emitiu MP que abriu a possibilidade da imposição de depósitos sobre os valores dos contratos e da definição, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de limites, prazos e outras condições sobre negociação dos derivativos.  A taxação de derivativos cambiais com Imposto sobre Operações de Crédito (IOF) se dará sobre operações que resultem em aumento da posição vendida das instituições. Exposições abaixo de US$ 10 milhões terão alíquota zero.

Em resumo, o governo está onerando a venda de dólares nos mercados futuros, ou seja, está tentando reduzir o impulso vendedor da moeda americana. Está ficando caro apostar na queda da moeda americana, e isso reduziu de fato o ímpeto vendedor aos preços de hoje e ontem. Porém, a maldita verdade é que, após o ajuste de patamar por conta de custos diferentes das operações, o que rege o mercado é efetivamente a oferta e demanda de mercadoria. Nesse caso, a mercadoria é o dólar que está super ofertado. Enquanto a taxa de juros brasileira for muito maior do que a internacional e a economia americana estiver sob suspeita, a tendência é de que as reservas não parem de crescer a as barrigas dos bancos sejam cheias de posições vendidas de dólares.

Mais uma vez é uma medida (ou melhor, um conjunto de medidas) que deve funcionar uns dias e depois se mostrar ineficiente frente às forças do mercado. Uma das Leis da Física de Newton pode ser traduzida da seguinte forma: contra força não há resistência. Contra a entrada de dólares vindos de várias partes do mundo buscando oportunidade de investimento, a única solução é destruir as perspectivas e, não parece ser muito razoável, matar o doente para acabar com a doença que o acomete.
Somente nesta quarta, dia da emissão das medidas, a Bolsa reagiu caindo 1,77%, ficando abaixo dos 58.300 pontos e o dólar subiu 1,3% para quase R$ 1,56. Ainda assim, a tendência de valorização do real não pode ser descartada. A rigor, a tendência está mantida, apenas foi dada uma nova largada de outro ponto menos favorável para o real do que aquele que estávamos antes de quarta-feira. Os próximos dias dirão qual o potencial efetivo dessa medida que em muito pouco difere do arcabouço que estamos vendo o governo adotar relativamente ao crédito e consumo (para refrear o consumo) desde novembro do ano passado. Muito provavelmente a equipe econômica sabe das limitações das medidas, mas se vê muitas vezes obrigada a dar uma resposta às pressões internas. A resposta é essa, mas não deve resolver muita coisa não.

Assessoria Técnica

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Superávit primário garante folga orçamentária – Vamos gastar com parcimônia?

O resultado primário do governo federal  – que agrega as contas do Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – chegou a R$ 10,5 bilhões em junho, acumulando no ano um saldo de R$ 55,5 bilhões. Já cumprimos quase 70% da meta deste ano que é de R$ 80 bilhões. Somente em junho o superávit foi de R$ 10,5 bilhões, o maior resultado para um mês de junho na história, turbinado pelas receitas do REFIS da Crise que somaram R$ 6,8 bilhões no período. O saldo cresceu mais de 120% em relação ao mesmo período de 2010.

Esse superávit é fruto do aumento de receitas e não do controle de gastos. Ao mesmo tempo em que as receitas subiram 19% as despesas cresceram 11%, ou seja, o governo continua exercendo enorme pressão sobre a demanda agregada, elevando substancialmente os gastos, principalmente na rubrica Outros Custeios. O governo, em apenas seis meses, arrecadou R$ 63 bilhões a mais do que em 2010 e, por outro lado, gastou R$ 33 bilhões a mais, uma média de R$ 5,5 bilhões a mais de gastos ao mês, muita coisa para quem quer conter a inflação via redução de demanda.
O governo tem hoje uma máquina de arrecadação muito azeitada, e porque não dizer, voraz. Certamente o Brasil é o País que mais arrecada tributos comparativamente aos seus pares em termos de renda per capita. É também um dos que mais arrecada no mundo, sob qualquer análise. Mas, pior do que tudo isso é que essa máquina voraz e muito eficiente, cheia de artimanhas, serve apenas para alimentar um setor público muito faminto e muito pouco eficiente. Ou seja, o governo arrecadou R$ 63 bilhões  a mais neste primeiro semestre e gastou R$ 33 bilhões a mais, apenas na contagem primária. Os gastos do governo mesmo, são muito maiores quando se computam os pagamentos de juros.

Uma conta simples, que deveria ser feita pelo governo, seria a seguinte: os gastos vão aumentar apenas corrigidos pela a inflação, ou seja, neste ano seriam 6%, mais ou menos. Seriam R$ 15 bilhões a menos de despesas (mais ou menos equivalente ao Bolsa Família ou à extinta CPMF) e o superávit primário estaria atingindo quase R$ 80 bilhões. Esse diferencial seria certamente bem recebido pelo mercado financeiro e poderia nos ajudar a reduzir a taxa de juros que hoje é a maior do mundo. O Brasil detém uma série de recordes não muito proveitosos para sua população.
O lado bem positivo de toda essa história é que, no curto prazo (e no médio também) o Brasil continua a mostrar sinais de saúde macroeconômica sem iguais no mundo. Reservas sólidas, contas públicas controladas, crescimento econômico razoável e inflação dentro do controlável apesar das pressões dessa primeira metade do ano. O que não podemos deixar passar é a oportunidade de fazer todas as lições de casa e alargarmos ainda mais a vantagem que mostramos em relação a outras economias, mas aí com juros mais baixos, câmbio mais adequado e sem nenhum risco nas contas correntes. Esse cenário é possível, com algum esforço que não devemos deixar de empreender, mesmo que o atual momento nos dê um pouco de preguiça.

Assessoria Técnica

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Extinto, cartão de plástico do CPF, documento integrará o RIC

Desde o dia 6 de junho, a Receita Federal do Brasil deixou de emitir o cartão CPF em formato plástico. Agora, o documento será gerado no ato do cadastro pelas entidades conveniadas, ou impresso no site da Receita Federal. A comprovação da inscrição também pode ser feita pela apresentação da Carteira Nacional de Habilitação, CTPS, RG, RIC e demais documentos onde conste o número do CPF.

Para ter o número do CPF, basta comparecer às agências do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e dos Correios e apresentar um documento oficial de identidade. O interessado receberá o número impresso em papel térmico, usado também nos extratos bancários. Em seguida, o contribuinte deverá acessar a página da Receita na internet e imprimir o comprovante que atesta a autenticidade do documento.
A impressão poderá ser feita quantas vezes forem necessárias, sem ônus. A autenticidade poderá ser checada por qualquer pessoa via internet também. Os órgãos públicos e as empresas não devem exigir mais o cartão de plástico.

Novo documento
O Governo Federal criou o Registro de Identidade Civil (RIC), novo cartão de identidade do brasileiro que deve começar a ser implantado em três estados. Conforme uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo de junho de 2011, a mudança da identidade, que também modificará o número atual do RG teve como objetivo uma maior segurança com o documento. O RIC tem 17 itens de segurança, entre eles um chip, que permite a reunião de vários documentos, como o CPF, identidade, título de eleitor e programa de integração social (PIS) em um só.

Assessoria Técnica

Dilma deixa clara sua posição e dólar derrete

A presidente Dilma, em uma entrevista absolutamente feliz, deixou claro que a prioridade do governo é manter o poder de compra da moeda, resumindo, o combate intransigente à inflação. Se isso fizer com que haja maior apreciação cambial, que seja. Para lidar com os problemas de competitividade da indústria nacional, a solução não pode ser cambial, indireta. Para tal, a presidente afirmou que haverá redução tributária para produção de exportáveis e outras medidas pontuais e direcionadas serão adotadas.

Essa declaração fez com que o dólar atingisse o seu menor valor nominal frente ao real em 12 anos, desde 1999 que a moeda americana não estava tão barata. Se considerarmos o diferencial de inflação entre os países (os preços no Brasil subiram mais do que nos Estados Unidos) a valorização percebida é ainda maior e hoje a moeda brasileira tem o maior valor de sua história, que data de julho de 1994.
É importante ressaltar que tecnicamente a presidente tem razão, dado que tentar fazer ajuste de competitividade via cambial e ao mesmo tempo comprometer o combate à inflação por conta de medidas artificiais, seria como cobrir um santo e desvestir outro. Não faz o menor sentido arriscar o salário de muitos pela competitividade de alguns, por mais verdadeiros e justos que sejam os pleitos da indústria. O problema do País no caso da competitividade não é cambial, até porque o câmbio é flutuante e reage a outras variáveis. O problema de origem de nossa competitividade está no custo dos encargos trabalhistas, na carga tributária e na falta de infraestrutura adequada, principalmente no setor de Transportes e de Comunicações. É muito bom que se adotem medidas adequadas e direcionadas, pois não dá mais para o País viver de remendos e de novas medidas mágicas.

Também não é correto dizer que o dólar está perdendo a corrida contra o real apenas por conta dos juros brasileiros (que estão na estratosfera, sim). A moeda americana enfrenta um período de raquitismo que pode durar um pouco mais. Com problemas de crescimento interno e com o limite de endividamento chegando ao teto, os Estados Unidos passam por um dos momentos de maior vulnerabilidade econômica do pós-guerra, talvez comparado à quebra do padrão dólar/ouro e à crise do petróleo da década de 1970. O momento não é bom para a moeda americana e é muito positivo para a economia brasileira. Essa coincidência se expõe para o mundo na forma de uma paridade cambial que caminha para desvalorizar ainda mais o dólar.
No curto prazo, a tendência de valorização do real se manterá, até porque, além do diferencial favorável de nosso equilíbrio macroeconômico, temos uma taxa de juros tão alta que a atração de dinheiro para o Brasil se torna quase que gravitacional. O outro lado dessa moeda é o déficit em contas correntes que, por enquanto, é razoável e financiável, mas não pode crescer eternamente. Façamos nós o que resta de ajustes para que não façam por nós.

Assessoria Técnica

terça-feira, 26 de julho de 2011

Uma semana de alguma recuperação nas bolsas

O Ibovespa subiu um pouco nesta última semana, atingindo 60.270, variando +1,3% no período, perfazendo no ano -13%. No pior momento do ano, na semana de 11 a 15 de julho, o Ibovespa chegou a ficar abaixo de 59 mil pontos e a queda do índice ultrapassou 14%. Uma variação muito forte, ainda mais quando se leva em consideração que o Brasil é um dos poucos países que está bem posicionado em termos macroeconômicos e continua favorecido pelos preços das commodities elevadas. Nada ameaça de forma incisiva a economia nacional.

Temos hoje um equilíbrio macro muito sólido, principalmente, em termos relativos, com dívida pública abaixo de 50% do PIB, déficit nominal de 2,5% do PIB, reservas superiores a US$ 300 bilhões. Atualmente, o único ponto frágil é a Conta Corrente que já está deficitária em cerca de 3% do PIB ao ano, e pode se deteriorar ainda mais. De qualquer forma esse é o preço que pagamos pela valorização cambial combinada com excessiva liquidez internacional e falta de opções para investir. Mesmo o déficit em contas correntes pode ser analisado de uma forma um pouco menos negativa: é a importação de poupança externa para complementar o investimento nacional e alavancar o consumo das famílias. Se o uso dessa poupança for bem feito, o déficit será pago no futuro com os frutos desse investimento. Temos, porém, que reduzir o prêmio que estamos pagando para o dinheiro que vem do exterior, mas ainda assim, sob a ótica geral, o Brasil passa por um bom momento econômico, ainda que pudesse ser melhor.
Com esse cenário seria de se esperar que o mercado acionário tivesse um desempenho melhor do que está tendo de fato. Na realidade, parte do desempenho negativo pode ser atribuída a um ajuste após o forte crescimento em 2009 e 2010. Outra parte pode ser atribuída à falta de habilidade do governo em conduzir negócios conjuntos com a iniciativa privada e a interferência sobre a Vale e a má gestão de toda a história do pré-sal na Petrobras.
Externamente a semana foi um pouco mais tranquila. A tendência é de que a Europa vá encontrando seu caminho, muito duro por sinal, e de que os Estados Unidos cheguem a um acordo para elevar os limites da dívida. Até o início de agosto deveremos alternar bons e maus momentos ao sabor das discussões políticas em torno da aprovação do limite da dívida americana e na Europa com os boatos de momento acerca de quem está para quebrar. Não acreditamos em nenhuma solução de ruptura, mas talvez uma revisão dos prognósticos de crescimento mundial para 2011 e 2012. Exatamente por isso o momento ainda não é de plena recuperação, ou pelo menos nada garante isso por enquanto, nos mercados acionários. Até que a Europa tenha dado uma solução definitiva para as lambanças dos Tesouros de vários países da região do euro e até Obama conseguir controlar sua base para fazer os ajustes necessários, já estaremos no último trimestre do ano. Os investidores que estão calcados em Renda Fixa no Brasil estão dormindo tranquilos. Quem insiste no mercado de ações, abra o cofre e pegue mais um maço de paciência e de nervos de aço, por enquanto. Se você for um monge tibetano, investir na Bolsa será um bom teste neste ano.
Assessoria Técnica

Sancionada lei que cria a empresa individual de responsabilidade limitada

A Lei nº 12.441/2011, que altera o Código Civil e permiti a constituição de empresa individual de responsabilidade limitada, foi publicada no início do mês de julho.

De acordo com as regras antigas a pessoa natural que pretendia exercer profissionalmente atividade econômica era denominada “empresário individual” e sua responsabilidade era ilimitada. Portanto, o seu patrimônio pessoal pode ser comprometido pelas dívidas contraídas pelo empresário.
Já a denominada “empresa individual de responsabilidade limitada” seguirá as regras previstas para as sociedades limitadas, ou seja, a responsabilidade será restrita ao valor do capital social. Assim, as dívidas serão exigidas exclusivamente da pessoa jurídica e o patrimônio pessoal da pessoa natural estará protegido.

Trata-se de uma ideia antiga, já examinada no Programa Nacional de Desburocratização, debatida no anteprojeto do Código Civil de 2002 e adotada em diversos países da Europa como a França, Espanha, Portugal, Itália, Alemanha etc.
Na prática, eram constituídas “sociedade fictícias” apenas para limitar a responsabilidade dos sócios, onde apenas um dos sócios detinha quase a totalidade das quotas do capital social e o outro uma parcela insignificante de participação societária.

Essa nova modalidade de pessoa jurídica deverá:
- ser constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a cem vezes o salário-mínimo vigente, atualmente R$ 54.500,00 (cinqüenta e quatro mil e quinhentos reais);

- o nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão “EIRELI”;
- a pessoa natural somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade.

Referida lei entra em vigor 180 dias após a data de sua publicação, ou seja, no dia 8 de janeiro de 2012.

Assessoria Técnica

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ajuda à Grécia: pacote especial, contingencial e único

A segunda tranche do pacote de ajuda para a Grécia foi aprovada pelo FMI e credores. São mais 109 bilhões de euros, que serão liberados em breve. Exatamente conforme antecipado, a Grécia está fazendo um ajuste fiscal doloroso e os credores aceitaram melhorar as condições de pagamento das dívidas e deram um desconto para os gregos. Os dois lados teriam muito a perder se mantivessem a intransigência.

Como na Europa há hoje pelo menos mais quatro economias que podem ter dificuldade de honrar suas dívidas, era essencial resolver o problema da Grécia antes que outros países precisassem de ajuda. Mais do que não deixar encavalar um entrave no outro, o pacote grego reduz o risco de contágio, que precipitaria uma corrida de credores contra devedores.
O lado mais complexo desses pacotes é fazê-los de forma a salvar uma economia ao mesmo tempo em que se resguardam os principais direitos dos credores e não deixar transparecer que o FMI é muito mole e dará ajuda a qualquer um que precisar, por mais irresponsável que seja. É muito difícil concatenar esses objetivos, mas é necessário. Aportar recursos é essencial nestas condições, por motivos óbvios. O risco sistêmico se o país quebrar é enorme. Por outro lado, resgatar economias sem nenhuma exigência, seria um grande estímulo à gastança geral e à irresponsabilidade. O risco moral, ou seja, de se perder a autoridade estimulando o mau comportamento é grande.  Por isso mesmo é que o FMI e os arquitetos do pacote (principalmente Sarkozy e Angela Merkel) declararam que ele tinha condições especiais e era único. Querem dar o seguinte recado: devedores, não se animem.

Esse script é antigo e conhecido. No Brasil e na América do Sul passamos por vários pacotes de ajuda do FMI e negociamos com credores. Em todos os momentos o risco moral de perda de controle era grande, e em determinado momento, no final dos anos 1980, era visível que o continente precisaria de um plano de resgate geral e muito amplo. Os pacotes de resgate isolados e parciais apenas estavam dando sobrevida a economias na UTI. Foi nesse tumulto, nessas condições, que surgiu o Plano Brady. Nada mais era do que um plano como o da Grécia atual, mas geral e turbinado.
Os títulos das dívidas seriam convertidos em várias modalidades, uns mais longos, outros com deságio e mais curtos, alguns com juros flutuantes, outros com juros fixos. Uma engenharia financeira muito complexa. Após a criação dessas modalidades novas, os credores puderam escolher como queriam trocar seus títulos. Essa estratégia foi excelente. Quem precisava resgatar dinheiro no curto prazo, optou por títulos com maior deságio, com pagamentos no curto prazo. Quem não queria perder o principal, teve a opção então de alongar as dívidas, e assim por diante. Essas opções foram fundamentais para resguardar os direitos e acomodar as necessidades dos credores e ao mesmo tempo salvar várias economias ao mesmo tempo. Claro, os devedores tiveram que fazer ajustes, e muitos tiveram sucesso, como é o caso do Brasil. Outros nem tanto e ainda estão às voltas com sérios problemas econômicos, como a Argentina.

Não adianta dizer que esse pacote é único e especial. Outras economias européias vão precisar de ajuda, pois o grau de endividamento do continente é muito elevado e o controle fiscal de várias economias é bastante precário, e certamente hoje mais da metade dos países da comunidade européia não teria condições de cumprir o tratado de Maastrich, que normatizava as condições de entrada no bloco. Credores e FMI deveriam parar de perder tempo e buscar uma solução mais robusta e definitiva, ou vão ter que salvar a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda... e cada um desses mais de uma vez.
Assessoria Técnica

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Brasil bate mais um recorde: a taxa de juros é a mais alta do mundo! Vamos comemorar?

O Banco Central, aparentemente para garantir que o Brasil mantivesse o título de ser o país com a maior taxa de juros reais do mundo, elevou a Selic mais um pouquinho. Agora, a Selic está fixada em 12,5%. Com a inflação corrente de cerca de 6%, a taxa real é de 6,1%. Antes do aumento era de 5,9%. Se considerarmos que a inflação média é de 6%, mas que de hoje para o ano que vem a expectativa é de que o IPCA fique ao redor de 5%, a taxa real esperada (que é a mais relevante) atinge mais de 7%.  Em outras palavras, estamos pagando mais de 0,5% ao mês acima da inflação para o aplicador comum, em um momento em que nosso prêmio de risco não supera 0,1% ao mês. É um belo adicional para quem quiser investir em renda fixa no Brasil. Não é tão difícil assim entender porque entram tantos dólares no País!

Para se ter uma noção melhor do que significa ter quase 7% de juros reais, o segundo colocado conosco nesse pódio é a Hungria com 2,4% e completando a premiação está o Chile com 1,8%. Não só detemos o recorde, como estamos muito na frente. Não há com o que se preocupar, pois não parece que alguém vai nos ultrapassar no curto prazo.  O Banco Central agora tem que pensar apenas na taxa nominal. A Venezuela tem uma taxa nominal de 17,4%, quase cinco pontos acima da Selic. É bem verdade que a taxa real na Venezuela é -6%, dado que a inflação naquele país supera os 20% ao ano. Mas se o Brasil quiser bater todos os recordes, tem que ficar atento ao país de Hugo Chaves, que é o único na nossa frente. Em terceiro está a Argentina com 9,6%.
O que preocupa, mais do que a taxa em si, é a nossa companhia. Por que o Brasil teria que manter uma taxa nominal maior do que a da Argentina? Por que nossa taxa real é maior do que a da Hungria? O Brasil hoje tem uma dívida pública controlada (poderia ser mais ousado e reduzir ainda mais), o IPCA mostra tendência de queda e mantemos reservas de mais de US$ 300 bilhões. O que sugere que tenhamos que pagar juros nessa magnitude, se mesmo a taxa de risco do Brasil hoje é muito baixa? O Brasil parece pagar o preço do próprio sucesso na produção de commodities. Como esses preços estão subindo no mundo, as pressões inflacionárias acabam por surgir. Mas, em vários países, a inflação que realmente conta é aquela verificada isolando-se os efeitos da variação dos preços de alimentos e de energia, o chamado núcleo inflacionário. Se fizermos esses cálculos, veremos que há pressão adicional apenas em alguns serviços, e isso também é culpa nossa, pois adoramos manter um nível de indexação máximo na economia.

Resumindo, temos a maior taxa de juros do mundo, apesar das condições macroeconômicas serem relativamente melhores do que na maioria dos países. Pior, as pressões inflacionárias ou advém do nosso sucesso internacional na exportação de commodities cada vez mais disputadas ou internamente da nossa mania de indexar os preços. Temos tudo para corrigir, pela ordem, a maneira pela qual o BC deve medir a inflação para fazer política monetária (expurgando alimento e energia), e desindexar os contratos com reajuste automático nos setores de serviços, desarmando essa armadilha que fizemos para nós mesmos!
Assessoria Técnica

quinta-feira, 21 de julho de 2011

A dívida americana e a teoria da relatividade

Quase todo mundo sabe que a Teoria da Relatividade foi um dos maiores legados de Albert Einstein para a humanidade. Poucos, no entanto, sabem que o corolário inicial da teoria é: É impossível atingir a velocidade da luz. Portanto, toda vez que nos deparamos com alguém falando sobre o que poderia acontecer se a velocidade da luz fosse ultrapassada – aquelas maluquices de voltar no tempo, chegar antes de sair, e outras bizarrices – pode estar tratando de tudo, menos da Teoria da Relatividade.

Vamos colocar um corolário para o que segue em nosso texto: É impossível que os Estados Unidos não aprovem um aumento dos limites da dívida interna de US$ 14 trilhões para US$ 16 trilhões. Dito isso, parece um pouco irrelevante tratar de como seria o mundo se os americanos derem um default (calote) em parte da sua dívida, pela primeira vez na história. É irrelevante, mas seria até interessante o exercício de imaginar esse cenário, tão improvável que é muito pouco previsível também.
Para começar, um pouco de história: em 15 de agosto de 1971 o presidente Nixon decretou o fim do padrão dólar/ouro, que, na prática, acabava com a ideia de que a moeda tem que ter um lastro físico que seja a expressão palpável de seu valor - o intrigante é entender por que o ouro seria garantia de alguma coisa, mas vamos adiante. A partir de então, o mundo não poderia trocar uma paridade fixa de dólares por uma quantidade determinada de ouro. A moeda americana, assim como todas as outras, iria flutuar ao sabor da confiança e das perspectivas econômicas de cada país. O lastro agora seria a confiança que cada um teria nas moedas e as paridades seriam flutuantes. Continuamos intrigados com a confiança no ouro e o que motiva as pessoas a acreditarem que aquele metal dourado tem grande valor de uso... mas sigamos novamente!

Como era de se esperar, houve forte desvalorização do dólar perante outras moedas, mas após uma década de acomodação, percebeu-se que o mundo todo dispunha de reservas em dólares, e os negócios todos eram referidos em dólar. Seria primeiro difícil trocar de ativo de referência e ,segundo, um pouco estúpido apostar contras as próprias reservas. Ou seja, a adoção do padrão dólar/ouro no pós-guerra foi uma excelente armadilha americana que praticamente vinculou as outras economias à sua moeda. Aliás, data dessa época uma frase peculiar das autoridades monetárias americanas para quem reclamava da quebra de padrão unilateral: nossa moeda, seu problema!
Estamos de novo em 1971, com uma diferença, não há lastro físico a quebrar. Mas a garantia que o mundo tinha de que o dólar reservasse valor era a responsabilidade monetária e fiscal dos Estados Unidos que se auto-impunham limites no endividamento e, portanto, em última análise, na emissão de moeda. Pode não haver lastro físico, mas há lastro legal, de responsabilidade. E, 40 anos depois, dia 2 de agosto, é o limite para que os Estados Unidos autorizem a emissão de mais moeda, de maior dívida pública e paguem todos os credores sem ter que escolher quem vai ficar a ver navios. De certa forma, vão pagar com uma moeda mais fraca que eles mesmos emitem, mas vejam a ironia: as outras economias não têm opção. Estão sentadas em pilhas de títulos americanos e de dólares mesmo, e o momento na Europa e no Japão não enseja uma luz no fim do túnel para quem queira imaginar a adoção de outra moeda de troca confiável e bem aceita. Mais irônico, a China pede aos Estados Unidos que tenham responsabilidade no manejo da moeda e da política fiscal, e não é à toa, pois eles são os maiores credores dos Estados Unidos. É impossível que o Congresso americano não aprove o aumento do limite de endividamento até 2 de agosto...

Assessoria Técnica

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Anos de políticas desastrosas ameaçam congelar argentinos

A Argentina foi, no início do século 20, uma das maiores economias do mundo. Uma das mais bem sucedidas sociedades com elevado padrão de vida relativamente ao resto do mundo e, principalmente, quando comparada com seus vizinhos da América do Sul. O que ocorreu a partir da segunda metade do século passado foi uma sucessão incrível de péssimas administrações e uma coleção de políticas econômicas desastradas e desastrosas que depreciaram a economia platina, reduziram substancialmente o padrão de vida argentino e colocaram o país sob o risco estratégico de falta de energia e do sucateamento de sua indústria.

Hoje, com um PIB menor do que o do Estado de São Paulo, a Argentina se vê às voltas com problemas de competitividade, corrupção, pouco valor agregado de suas exportações, desabastecimento em vários setores e regiões, tudo isso emoldurado por um populismo deletério. Essa conjunção perigosa está emergindo em vários setores, com a necessidade de novas barreiras alfandegárias, acirramento comercial com o Brasil, empobrecimento visível das populações urbanas (e deterioração do mobiliário urbano). Mas, talvez, o sinal mais evidente dessa decadência quase programada seja o setor de energia.
Por vários motivos as nações e os Estados Nacionais são muito sensíveis ao desempenho do setor energético. Os receios da dependência nesse caso são sempre exacerbados, e em termos populares pega muito mal para um argentino ser lembrado que há 10 ou 20 anos seu país criou uma rede de distribuição de energia elétrica e de gás para vendar o excedente produzido para Uruguai, Chile e mesmo para o Brasil. Atualmente, a Argentina teve que cancelar os contratos de fornecimento de gás para Chile e Uruguai (fato que ainda vai gerar problemas legais para os argentinos) e está usando a rede de distribuição para receber gás e energia elétrica do Brasil, no sentido inverso do que era programado.

Em pouco mais de meia década, a Argentina viu seu resultado na balança de energia cair de um superávit superior a US$ 1,5 bilhão para um déficit de mais de US$ 3 bilhões. Pior, o governo gasta outros US$ 1,5 bilhão para subsidiar a energia que abastece os lares em seu território. Ou seja, sob o receio de que a população passe a sentir a deterioração de seu orçamento doméstico, principalmente no inverno quando o consumo de gás para aquecimento aumenta muito, as políticas públicas permanecem maquiando a realidade. O grande problema é que com os sinais errados, a população vai continuar a consumir mais do que o mercado é capaz de produzir. Esse subterfúgio funciona por algum tempo, em alguns casos, mas não todo tempo para qualquer problema. No final das contas, o consumidor argentino está pagando por meio do endividamento público, mas só vai se dar conta disso no futuro.
Para finalizar, a política é tão controversa que está havendo cortes de energia (gás e eletricidade) nas empresas, mas não nas casas argentinas. Ou seja, desagradar empresários parece ser melhor do que a população. No curto prazo, dentro do raciocínio puramente político/eleitoral, é verdade, mas no longo prazo a catástrofe pode se agigantar: a indústria argentina vai ser empurrada para o precipício, e, em breve, o desemprego vai aumentar tão rapidamente quanto a renda e o PIB vão cair.

Assessoria Técnica

terça-feira, 19 de julho de 2011

Itália coloca lenha na fogueira das dívidas públicas europeias

Mais uma semana ruim para os mercados de ações ao redor do mundo. Em particular, no Brasil, o Ibovespa acumula, após a última semana, queda de mais de 14% no seu valor em 2011. Um resultado bastante negativo, mas, de certa forma, esperado. Além do clima de problemas globais de crescimento e/ou excessivo endividamento, no Brasil a elevação da Selic adiciona um ingrediente de complexidade que torna a vida dos investidores em renda variável um pouco pior.

Nesta semana, a culpa do tumulto foi da Itália. Na realidade, de seu primeiro-ministro que em declarações infelizes colocou em dúvida a capacidade de jogar em equipe com seu ministro da economia, Tremonti. Como a Itália está às voltas com um excessivo endividamento, e como o ambiente econômico e político europeu também não é dos melhores, tudo o que o mercado precisava para ficar mais tenso era esse tipo de problema em uma das maiores economias do continente europeu. Os analistas sabem que, se houver necessidade de ajudar mais do que uma economia ao mesmo tempo, provavelmente o FMI e os bancos credores não terão condições de segurar a onda!
No Brasil, em tese nossa situação é muito melhor, com dívida pública inferior a 50% do PIB, déficit fiscal controlado (poderia e deveria ser menor) e exportando commodities valorizadas. Tudo isso mantém o consumo e o crescimento do País acima da média global, mas a conexão dos mercados financeiros ao redor do mundo e a enorme taxa de juros na renda fixa fazem com que o Ibovespa tenha o comportamento que está tendo até o momento.

Para complicar, após ultrapassar o susto italiano – que deve passar sim, pois as condições na Itália não são tão ruins como as de Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha – o mundo estará de volta à década de 1970. No final dos anos 1960 e início da década de 1970, houve forte desconfiança quanto à capacidade americana em garantir o lastro em ouro do dólar. A paridade dólar/ouro fora fator crucial para garantir que a moeda americana tivesse confiabilidade e se tornasse a moeda de transações globais no pós-guerra. Mas esse lastro em ouro se mostrou problemático e em 1971 os Estados Unidos quebraram unilateralmente a paridade, deixando sua moeda flutuar. Isso, de certa forma está se repetindo, pois o endividamento americano acima dos limites somente será possível se o mundo não tiver alternativa a não ser aceitar mais esse calote disfarçado. E vai aceitar, mas não sem muita turbulência nos mercados. Teremos mais semanas agitadas pela frente, especialmente até dia 2 de agosto, quando em tese a dívida pública dos Estados Unidos atingirá seu teto constitucional. Lá se vai mais uma garantia de “lastro” em uma moeda: a sua confiança!

Assessoria Técnica

BC altera condições para pagamento em cartões de crédito consignados

O Banco Central publicou, na última segunda-feira, a Circular nº 3.549/11 que veio alterar as condições de financiamentos realizados através de cartões de crédito consignados. A medida vem encarecer a utilização de cartões de crédito consignados para operações acima de 36 meses.

A circular aumenta o Fator de Ponderação de Risco (FPR) para as exposições dos bancos a operações com cartão que não tenham suas dívidas liquidadas em 36 meses. Com essa nova norma tais créditos oferecidos pelas instituições financeiras ficam mais caros. A partir da cobrança de um ônus maior o BC quer desestimular o crédito a prazo mais alongado.
Durante esse ano o BC sinalizou com algumas medidas de restrição ao crédito. Dentre elas podemos citar a Circular 3.515/10 que veio aumentar o FPR para operações de financiamento de veículos para prazos acima de 24 meses e a Circular de 3.512/10 que veio determinar o valor mínimo para pagamento da fatura do cartão de crédito. A partir de 01/01/11 o valor mínimo para pagamento fica definido em 15% da fatura e a partir de 01/12/11 esse percentual passa a ser de 20%.

Todas essas medidas adotadas pelo BC tem um objetivo em comum: reduzir o endividamento de longo prazo e, com isso, reduzir os riscos futuros de inadimplência. O fato é que os financiamentos a prazos mais alongados comprometem a renda futura do consumidor. É uma compra realizada hoje que vai consumir uma renda que ainda será obtida e as condições para sua obtenção e para sua utilização, no futuro, dependerão de condições ainda desconhecidas.
A inadimplência surge quando a conta não fecha, ou seja, quando o consumidor se endividou a níveis aceitáveis no presente, mas que, por não ter reservado renda suficiente para possíveis imprevistos, acaba se desorganizando no futuro, com gastos com os quais não contava.

Endividar-se a níveis seguros e administrar bem o nível de comprometimento de renda é um bom caminho para se evitar a inadimplência. Esse é o objetivo do BC ao definir esse conjunto de regras que procura criar equilíbrio para a melhor administração do crédito.
A fim de avaliar o cenário atual do endividamento destacam-se os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (PEIC) de junho, realizada pela Fecomercio na cidade de São Paulo. Segundo a PEIC, dentre os entrevistados, 47% das famílias tem dívidas, 16% estão com contas em atraso e apenas 6% declaram que não terão condições de pagar.

Quanto ao nível de comprometimento da renda, a PEIC mostra que 53% dos endividados tem de 11% a 50% de sua renda comprometida e que apenas 19% deles comprometeram mais do que 50% da renda. Em relação ao tempo da dívida 46% tem dívidas com prazo de até seis meses e apenas 29% terão dívidas por mais um ano.
Esses dados mostram que tanto os percentuais de endividamento observados pela Fecomercio como os prazos de endividamento apresentam níveis ainda relativamente seguros.

O consumidor que optou pelo crédito consignado terá sua renda comprometida, durante a vigência do contrato, entre 20% e 30%. Se não houver renda que sustente a elevação do nível de endividamento, adicionando-se imprevistos a esse cenário, tais como perda do emprego de alguém na família ou outro motivo, a tendência é de aumento de inadimplência.
De qualquer forma, essa medida tem caráter cautelar e deve ser entendida como precaução a um possível descontrole do consumidor em relação à utilização do crédito e da administração de sua renda futura. Vale lembrar que o mesmo crédito que alavanca vendas, reduzirá o potencial de consumo futuro, dado que os endividados terão que separar parte de seus rendimentos para pagar as prestações assumidas. A boa administração do crédito, aliada à geração de condições ideais de emprego e renda, podem contribuir significativamente para o fortalecimento do poder de compra das famílias.
 
Assessoria Técnica

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Itália acelera medidas de ajuste

O novo epicentro de turbulência financeira é a Itália. Nesse caso, o maior problema é político, e não financeiro, porém com alguma experiência um analista tem que entender que as variáveis políticas e a econômica são umbilicalmente ligadas. Infelizmente (ou felizmente), não dá para dissociar uma da outra. Após o momento agudo da Grécia e do ensaio de uma crise mais profunda em Portugal também, a Europa foi pega pelos tremores derivados do temor de default (calote) da dívida italiana. Na realidade, o risco de um contágio de problemas da dívida italiana é menor do que da Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda (todos com déficits públicos elevados e dívida muito alta em relação ao PIB). O problema é que a Itália é hoje a segunda maior economia da zona do Euro ao lado da França, somente perdendo da Alemanha. Ou seja, um problema na península itálica preocupa mais.

No caso presente, a crise emergiu do descuido político do primeiro ministro Berlusconi que alegou que o seu ministro da economia, Giulio Tremonti, não sabe jogar em equipe. Berlusconi não é exatamente um primor de estadista. Também não é conhecido pelo seu cuidado em declarações, e suas trapalhadas já se tornaram caricatas, com o adendo de que vez ou outra trazem problemas para o Estado italiano, deixando de ser apenas um mero espetáculo midiático. É o caso agora. A Itália, na realidade, tem um déficit público de 2% a 3% do PIB, o que é relativamente baixo e está sob controle. O problema italiano é a magnitude da dívida pública que atinge 120% do PIB. Em tempos normais, o quadro não preocuparia, dado que apesar de elevada, a dívida está sob controle justamente pelo controle das contas públicas feito nos últimos anos. Mas a verdade é que esse não é exatamente um momento tranquilo, normal, na vida européia. Não bastassem as situações complexas dos países de economia menor, o quadro político na Itália vem se deteriorando, e isso aumenta sobremaneira a aversão ao risco, principalmente se o primeiro ministro não demonstrar confiança no ministro da economia. A rigor, os mercados financeiros confiam muito no ministro Giulio Tremonti, e nem tanto assim em Berlusconi.

Essas declarações, fora de hora (se é que há momento adequado para esse tipo de atitude), obrigaram a Itália a intensificar suas medidas de controle orçamentário. A perda de confiança dos mercados se deu exatamente pelo fato de que hoje os resultados positivos são calcados em uma figura que não parece se dar muito bem com o chefão. Pior, o chefão tem maioria no Congresso, tem apoio político, ainda que não disponha da simpatia dos mercados. O risco de Tremonti deixar de ser ministro perturba quem confia nas suas ações. A resposta foi acelerar esse projeto de redução do déficit e a Itália deve aprovar rapidamente um pacote de corte de mais 80 bilhões de euros em gastos, o que daria mais fôlego e melhoraria o equilíbrio macroeconômico. Outro aspecto positivo e que teve papel importante em acalmar o mercado após os piores rumores, é o fato de que a dívida italiana é praticamente toda financiada por bancos nacionais. Isso significa que o potencial de contágio externo é menor e a capacidade do governo em manobrar eventuais negociações de alongamentos e novas condições de pagamento é maior.


Em resumo, a aprovação de um pacote de austeridade (palavra que combina muito com Tremonti e bem menos com Berlusconi) deve estar totalmente concluída no início da semana, e essa promessa já foi suficiente para acalmar os mercados europeus, pelo menos até o próximo boato sobre Portugal, Irlanda ou Espanha...

P.S. a nova diretora do FMI, Chrsitine Lagarde, também não parece ser muito cuidadosa com as palavras, é um prato cheio para especulações, vamos acompanhar!

Assessoria Técnica

sexta-feira, 15 de julho de 2011

A palavra de um especialista

Em recente evento do Conselho de Turismo da Fecomercio, o empresário João Dória apresentou um quadro bastante preocupante sobre o setor no Brasil. Evidentemente, a questão da Copa do Mundo e das Olimpíadas acaba aquecendo esse debate, mas, como se poderá notar, o problema é de base, estrutural e não se resume apenas aos poucos dias desses eventos. Seguem alguns dos pontos levantados:

1. Aeroportos: Deve-se realizar a privatização dos aeroportos brasileiros e também ter intervenção da agência reguladora, onde a gestão privada for ruim.
2. Sinalização : O Brasil é mal sinalizado, a infraestrutura é ruim, não há placas suficientes, principalmente em outro idioma (inglês).

3. Informação Turística: É preciso melhorar a informação turística, utilizando-se  redes sociais, mídia e os materiais impressos, seja para os turistas brasileiros, seja para os estrangeiros.
4. Reforma e construção de hotéis: Não há projetos para construção de hotéis, é necessário elaborar um programa nesse sentido. Para se ter uma ideia, há dois anos não se constrói nenhum hotel em São Paulo, e a cidade é ainda a mais bem servida no ramo hoteleiro do Brasil.  

5. Formação de mão-de-obra: É preciso ter profissionais capacitados, qualificados e especializados, com inglês fluente. Não existe geração espontânea ou milagre a ser feito, temos que tratar de redefinir o papel das escolas e cursos técnicos para o futuro.
6. Eliminação de barreiras do turismo estrangeiro no Brasil: O País tem um grande problema em relação à política de diplomacia. Trata-se da reciprocidade. Se um país exige visto, o Brasil exige também. Essa política não é exatamente inteligente quando o país tem mais a perder do que ganhar em termos de divisas e afluxo de pessoas.

7. Aumentar a competitividade do turismo aéreo: É imprescindível melhorar a eficiência e aumentar as ofertas de voos. Quanto mais empresas áreas estiverem atuando, mais competitivas serão e ,consequentemente, mais pessoas irão utilizar o meio de transporte. Hoje, alguns trechos aéreos no Brasil são os mais caros do mundo.

8. Segurança pública: É preciso investir em tecnologia e na chamada inteligência de segurança, ainda mais considerando os grandes eventos que serão realizados no País em menos de dez anos. Mas esse é outro fator que deve ser incrementado permanentemente e seus efeitos positivos vão muito além dos eventos que o País vai receber.

Além desses pontos, existem outros inúmeros, mas consideramos que se apenas esses tivessem a atenção merecida, o cenário já iria melhorar muito. O Brasil precisa almejar receber  20 milhões ou 30 milhões de turistas. Atualmente, recebe apenas 6 milhões. Mesmo com esse número muito aquém do que deveria receber, considerando-se sua geografia e também o fato de ser a maior economia da América do Sul e mesmo do hemisfério sul, São Paulo, no segmento de recepção de turistas de negócios, já está atingindo sua capacidade máxima. O número é muito pequeno para já percebermos esses gargalos. Países europeus como França e Espanha, ou mesmo os Estados Unidos, recebem entre 50 milhões e 60 milhões de turistas estrangeiros, dez vezes mais do que o Brasil. Ou seja, estamos sentindo efeitos muito precoces da falta de estrutura.

Assessoria Técnica

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Trem bala não decola 2!

Passada a ressaca do leilão fracassado para a construção e operação do Trem Rápido ligando Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, vamos ficar atentos às explicações. Provavelmente as mais relevantes vão vir do mercado e ,principalmente, de empresas que poderiam ter participado do leilão. De resto, serão explicações vagas e sem sentido, apenas platitudes para explicar de forma suave o óbvio: o projeto não está adequado para a iniciativa privada e a modelagem apresentada pelo governo (custos, prazos e receitas) difere muito dos cálculos feitos por empresas privadas. Não houve conluio ou boicote. Empresas privadas não têm o costume de ficar de mal e deixar passar oportunidades de lucros reais de longo prazo apenas para fazer birra ao governo. Se não houve interessados, é porque o projeto, do jeito em que está, não interessa!

As primeiras indicações do que aconteceu já começaram a surgir, sempre na forma de informações sigilosas ou privadas que acabam vazando a esse ou aquele jornalista. Sem citar fontes, alguns analistas já dizem saber o que se passou:

1.    Os custos estimados pelo governo para o projeto são de R$ 35 bilhões e para a iniciativa privada ultrapassam os  R$ 50 bilhões;

2.    O prazo para a conclusão, segundo o projeto que estava a ser licitado, era 2014, para a iniciativa privada não há possibilidade de se concluir antes de 2017 (após Copa do Mundo e Olimpíadas);

3.    O traçado não era o mais adequado, segundo a iniciativa privada;

4.    A diferença de cotas (são 800 metros entre o nível do mar no Rio de Janeiro e o Planalto Paulista) complica a execução em alta velocidade de um dos trechos;

5.    As estações previstas inicialmente no projeto não estão de fato definidas e as pressões políticas para que se incluam novas estações inviabilizam os cálculos de custos e retornos

Em suma, o projeto apresentado não é e nem seria o executado. Os custos, o traçado, as paradas e a tecnologia de equipamentos e de construção estimadas diferem e muito da realidade na forma em que a iniciativa privada vê a obra. Além disso, o limite de tarifas não é adequado em uma licitação, porque o grau de incerteza sobre o futuro é muito grande. Mais adequado é licitar de forma tradicional, determinar padrões, prazos, e condições básicas de serviços prestados, e deixar a definição básica da operação (tarifas) para quem ganhar o leilão. Assim sendo, o operador em condições de mercado vai tarifar de acordo com o serviço que presta.
Se a intenção é manter tarifas baixas e serviços elevados, o governo precisa então se conscientizar que deverá subsidiar a operação. Esse modelo de subsídio quase nunca é bom, pois fica muito difícil de ser efetivamente avaliada a eficiência dos serviços, os custos reais e a necessidade de subsídios. Sem contar que propicia certa promiscuidade entre o setor privado e o público. Em condições apenas de mercado, com tarifas livres, o operador pode até exagerar nos preços, mas caberá à demanda aceitar ou não as tarifas ou utilizar as vias já existentes de transporte. O mercado normalmente funciona melhor. Pelo menos é mais transparente e visa o lucro descaradamente!

Assessoria Técnica

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por trás da valorização do real

Ao longo dos últimos anos o Brasil consolidou-se um grande produtor e exportador de commodities, e os preços desses produtos básicos subiram vertiginosamente em 2010 e continuam subindo em 2011. Logo, a mesma quantidade de bens brasileiros passou a ser trocada por uma quantidade maior de bens estrangeiros, pois estes não subiram de preço devido à crise. Ou seja, a taxa de câmbio real se valorizou. Mas essa dicotomia entre o comportamento dos preços dos bens e serviços brasileiros e estrangeiros não explica toda a valorização do câmbio real.

A taxa de câmbio nominal também vem sofrendo pressão de valorização devido ao elevado diferencial de juros entre a economia brasileira e as economias desenvolvidas, principalmente os EUA. Então, existem duas forças puxando a taxa de câmbio real para baixo: preços relativos e taxa de juros muito elevada em relação ao resto do mundo.

O governo vem demonstrando que está preocupado com o viés de valorização da taxa de câmbio real, depois do aumento da tributação via imposto sobre operações financeiras (IOF) nas captações externas, e atuações do Banco Central no mercado à vista de câmbio, novas medidas como intervenções no mercado futuro e de derivativos podem ser tomadas para tentar conter a sobrevalorização do real.
Assessoria Técnica

Trem bala não decola!

Bola azul na caçapa do meio! Para quem joga um pouco de sinuca ou bilhar, sabe que essa jogada é uma daquelas manobras fáceis de se antever. É uma jogada tão óbvia que nem precisa ser “cantada”! Não houve interessados na licitação do Trem Bala brasileiro, que uniria Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro. Quem conhece o setor de empreiteiras e construção civil já tinha essas informações. Esse projeto, que parece moderno, remonta há mais de 20 anos de história. Foram inúmeras modelagens e são inúmeros os inconvenientes, a começar pelos custos vis-a-vis, o retorno esperado em fluxo de passageiros. Em suma, da forma em que está, não é rentável, e não será objeto de interesse privado. Aliás, não parece haver forma muito alternativa que torne o projeto efetivamente viável.

Essa tentativa de leilão começou a fracassar por ser de característica reversa, ou seja, venceria o leilão a empresa que propusesse a menor tarifa, sendo o teto R$ 199,73 por passageiro. Se ao menos fosse um leilão tradicional, poderia haver quem se interessasse e hoje saberíamos quais seriam os verdadeiros custos e a verdadeira tarifa de mercado. Os estudos que o governo fez para sugerir essa tarifa se mostraram equivocados, a ponto de que nenhuma empreiteira se interessou. Fornecedores de equipamento até que estavam interessados, mas não houve quem aparecesse para construir a estrutura e colocar os equipamentos sobre os trilhos e nas estações.
Conceitualmente, a proposta também não agradava. Se a motivação principal de interligar as cidades de Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro era a de desenvolver a região, a escolha recaiu sobre o local errado. Por que o governo federal faria uma obra para desenvolver justamente a região mais desenvolvida do País? Não que a região não precise e nem queira desenvolver-se ainda mais, mas acontece que, como só haveria um projeto de Trem Rápido, se sua motivação fosse mesmo a de desenvolvimento local ou regional existiriam locais mais adequados. Na realidade, o trecho foi escolhido por sua demanda potencial que, em tese, viabilizaria o projeto, que tem mais de marketing e hedonismo do que de prático.

Ter um trem rápido seria de fato um orgulho, mas o País poderia pensar melhor em como investir recursos de infraestrutura, de forma a alavancar melhor o desenvolvimento. Se era uma prioridade de governo, esse projeto não parece uma prioridade popular, ainda mais na ligação entre São Paulo e Campinas, hoje servida por duas das melhores estradas do Brasil, ainda que já saturadas. Talvez um trem veloz, mas não tão rápido, fosse mais adequado ao público que se desloca diariamente entre Campinas e a Capital. Um trem confortável, que atinja 100km/h ou 150km/h seria mais factível de ser executado, num trajeto de 80 quilômetros e a preços que pudessem ser viáveis para viagens diárias ou corriqueiras.  Esse seria sim um projeto que melhoraria muito a vida da população que flutua entre Campinas e São Paulo, talvez o maior volume de deslocamentos diários nas estradas do País, mais do que entre Rio e São Paulo na ponte aérea.
Assessoria Técnica

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sai Grécia, entra Portugal

Todo o bom desempenho da semana retrasada foi perdido na semana passada na Bolsa de Valores de São Paulo. O desempenho positivo foi fruto da melhora de humor dos mercados com o acordo entre Grécia e credores e a liberação parcial de recursos para o endividado país. Em parte o resultado do acordo se mantém como um farol para que respostas semelhantes sejam dadas a outras economias muito endividadas como é o caso mais evidente no momento, o de Portugal.  Todavia, o acordo não significa que os problemas já passaram. Significa que a solução adotada é a que trará o menor desgaste possível, mas terá custos, principalmente para os diretamente envolvidos, devedores e credores.

Credores vão abrir mão das condições iniciais de seus direitos e os devedores terão que adotar planos internos em suas economias para fazer frente aos futuros pagamentos. Resumindo, os envolvidos vão aceitar perdas e os mercados sabem disso. Os mercados sabem ainda que a solução do problema que permeia muitas economias europeias é de demorada solução, portanto apesar do lado positivo do acordo grego, as condições de longo prazo não se alteraram muito – apenas tiraram do horizonte o risco de uma moratória unilateral. Dentro desse enquadramento, os mercados estão muito voláteis, mais avessos ao risco e muito nervosos. São hoje mercados ariscos, para profissionais, e não há muito espaço para amadores neste momento.

Conforme esse boletim anteviu, após o acordo com a Grécia seria mesmo muito provável que começassem a pipocar os outros problemas que estavam convenientemente sendo esquecidos. O primeiro da lista era Portugal, que sofre da mesma doença grega. Portanto, não precisamos explicar com muitos detalhes o caminho: pressão política interna, agitação no governo português, propostas de ajuste fiscal e, em paralelo, os credores se organizando para formatar um acordo. Foi levantada nesse boletim a hipótese que, a depender do tamanho dos problemas fiscais em países europeus, uma espécie de Plano Brady terá que ser confeccionado para a Europa. Esse dia nos parece cada vez mais próximo.
Após o bom humor da semana retrasada, os mercados de ações reagiram devolvendo os resultados e nesta semana fecharam em queda. No Ibovespa a queda desta última semana foi praticamente igual à alta da semana anterior, ou seja, 0 a 0 nos últimos 15 dias. O tom quase esquizofrênico do mercado deve continuar. Nossa primeira aposta no início do ano se cumpriu: o primeiro semestre não despontava como um bom momento para investir em ações. De lá para cá a Bovespa caiu de 70 mil para algo ao redor de 61 mil pontos. Isso significa que quem esperou até agora para entrar, se não tem a garantia de retornos rápidos e elevados ainda, ao menos, vai pagar mais barato por essa aposta. Nossa expectativa é de que esse segundo semestre também seja muito complicado para investimentos em renda variável e a única vantagem é exatamente o fato de que houve uma boa queda no índice de ações ao longo não só de 2011, mas também desde o último trimestre do ano passado.

Em algum momento, a bolsa vai parar de cair, isso é óbvio, mas mesmo após a queda e o ajuste no Ibovespa, as condições de mercado não são muito favoráveis. Além de todos os problemas econômicos mundiais e internos, a taxa de juros no Brasil se elevou e é tão alta que deixa pouco espaço para dúvidas quanto ao tipo de investimento que deve ser feito. A melhor estratégia é acompanhar semanalmente o indicador de ações e o mercado, tentando interpretar quando o humor vai virar de forma mais definitiva. No primeiro semestre do ano, além dos problemas tradicionais, alguns momentos que poderiam ser um pouco melhores foram minados por inúmeras trapalhadas da equipe econômica que demorou a engrenar nesse novo governo.
Assessoria Técnica