segunda-feira, 18 de julho de 2011

Itália acelera medidas de ajuste

O novo epicentro de turbulência financeira é a Itália. Nesse caso, o maior problema é político, e não financeiro, porém com alguma experiência um analista tem que entender que as variáveis políticas e a econômica são umbilicalmente ligadas. Infelizmente (ou felizmente), não dá para dissociar uma da outra. Após o momento agudo da Grécia e do ensaio de uma crise mais profunda em Portugal também, a Europa foi pega pelos tremores derivados do temor de default (calote) da dívida italiana. Na realidade, o risco de um contágio de problemas da dívida italiana é menor do que da Grécia, Espanha, Portugal e Irlanda (todos com déficits públicos elevados e dívida muito alta em relação ao PIB). O problema é que a Itália é hoje a segunda maior economia da zona do Euro ao lado da França, somente perdendo da Alemanha. Ou seja, um problema na península itálica preocupa mais.

No caso presente, a crise emergiu do descuido político do primeiro ministro Berlusconi que alegou que o seu ministro da economia, Giulio Tremonti, não sabe jogar em equipe. Berlusconi não é exatamente um primor de estadista. Também não é conhecido pelo seu cuidado em declarações, e suas trapalhadas já se tornaram caricatas, com o adendo de que vez ou outra trazem problemas para o Estado italiano, deixando de ser apenas um mero espetáculo midiático. É o caso agora. A Itália, na realidade, tem um déficit público de 2% a 3% do PIB, o que é relativamente baixo e está sob controle. O problema italiano é a magnitude da dívida pública que atinge 120% do PIB. Em tempos normais, o quadro não preocuparia, dado que apesar de elevada, a dívida está sob controle justamente pelo controle das contas públicas feito nos últimos anos. Mas a verdade é que esse não é exatamente um momento tranquilo, normal, na vida européia. Não bastassem as situações complexas dos países de economia menor, o quadro político na Itália vem se deteriorando, e isso aumenta sobremaneira a aversão ao risco, principalmente se o primeiro ministro não demonstrar confiança no ministro da economia. A rigor, os mercados financeiros confiam muito no ministro Giulio Tremonti, e nem tanto assim em Berlusconi.

Essas declarações, fora de hora (se é que há momento adequado para esse tipo de atitude), obrigaram a Itália a intensificar suas medidas de controle orçamentário. A perda de confiança dos mercados se deu exatamente pelo fato de que hoje os resultados positivos são calcados em uma figura que não parece se dar muito bem com o chefão. Pior, o chefão tem maioria no Congresso, tem apoio político, ainda que não disponha da simpatia dos mercados. O risco de Tremonti deixar de ser ministro perturba quem confia nas suas ações. A resposta foi acelerar esse projeto de redução do déficit e a Itália deve aprovar rapidamente um pacote de corte de mais 80 bilhões de euros em gastos, o que daria mais fôlego e melhoraria o equilíbrio macroeconômico. Outro aspecto positivo e que teve papel importante em acalmar o mercado após os piores rumores, é o fato de que a dívida italiana é praticamente toda financiada por bancos nacionais. Isso significa que o potencial de contágio externo é menor e a capacidade do governo em manobrar eventuais negociações de alongamentos e novas condições de pagamento é maior.


Em resumo, a aprovação de um pacote de austeridade (palavra que combina muito com Tremonti e bem menos com Berlusconi) deve estar totalmente concluída no início da semana, e essa promessa já foi suficiente para acalmar os mercados europeus, pelo menos até o próximo boato sobre Portugal, Irlanda ou Espanha...

P.S. a nova diretora do FMI, Chrsitine Lagarde, também não parece ser muito cuidadosa com as palavras, é um prato cheio para especulações, vamos acompanhar!

Assessoria Técnica

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