quarta-feira, 6 de julho de 2011

Inflação desacelera, mas mesmo assim Copom deve ser conservador

O IPC da Fipe (Índice de Preços ao Consumidor da cidade de São Paulo) em junho apresentou alta de 0,01%, ou seja, estabilidade. Os principais motivos para essa desaceleração do indicador foram:

- Preços de alimentos refluindo; e
- Safra da cana-de-açúcar


Os alimentos representam a maior cesta de gastos dos paulistanos e dos brasileiros. Portanto, quando carnes, proteínas, e grãos caem de preços (sem contar frutas e legumes), o índice de preços tende a acompanhar. Outro item muito custoso para os paulistanos é o de transporte e, no caso, o sub-item combustível é relevante. Com o fim da entressafra tradicional de início de ano, o preço do álcool (anidro e hidratado) já está caindo. Vale lembrar que essa queda influencia também os preços da gasolina na bomba, dado que há de 18% a 23% de adição de álcool na gasolina.

Analistas ainda acreditam que, mesmo com essa desaceleração – que deve se confirmar no INPC e no IPCA com variações esperadas próximas de zero em junho – o Banco Central é capaz de elevar a taxa de juros básica (Selic) para até 13% no final do ano, em mais duas reuniões do Copom (agosto e outubro). Os motivos para isso seriam:

- O preço dos alimentos deve voltar a subir no final do ano por conta das chuvas;
- A oferta de álcool cresce menos do que a demanda por conta da excessiva venda de carros flex;
- O volume de crédito não está se reduzindo da forma que o BC esperava.

De certa forma, é bom que o Banco Central se preocupe em antecipar o mercado e fazer política monetária preventiva. O problema é que nem sempre os riscos vislumbrados pela autoridade monetária são os mesmos que o setor produtivo antevê. Vamos analisar esses riscos acima:

- O preço dos alimentos deve mesmo voltar a subir no final de 2011 e no início de 2012, mas é assim desde que estamos medindo a inflação. O período em questão é de muitas chuvas em algumas regiões como o Sudeste, forte produtor de alimentos, inclusive de hortifrutigranjeiros, e seca no Sul que é uma região produtora de grãos. A não ser que se esteja prevendo uma quebra maior do que a tradicional, não há o porquê adotar esse fenômeno como argumento para política monetária. Alguns estudos já mostram que, provavelmente em julho, o acumulado de 12 meses de inflação de alimentos esteja rodando ao redor de 4,5% ou 5%, ou seja, dentro da meta. Para que mais aperto monetário se justamente a fonte de preocupação está se comportando dentro da meta?

- No caso do álcool, a preocupação a princípio parece legítima. Mas de certa forma o argumento também é distorcido: em primeiro lugar, os carros vendidos não são a álcool, e sim flex, o que quer dizer que, se o preço do álcool subir muito, o condutor pode optar por gasolina, e o petróleo tem preço internacional. Ou o Banco Central na realidade está preocupado com a venda de automóveis, ou tem informações sobre os preços de petróleo e a taxa de câmbio que outros analistas não têm agora. De qualquer forma, o argumento fica um pouco solto ou por falta de consistência, ou por falta de informações para a sociedade;

- Finalmente, o argumento do crédito. É fato que o volume de crédito continua crescendo. Mas, a rigor, não há, de origem, mal nenhum nisso. Se o BC acredita que o mercado de crédito atual está excessivamente “frouxo”, deve agir pontualmente – e acreditamos que é bem possível que o BC use mais de suas medidas “macroprudenciais”. De qualquer forma, não pactuamos com a visão de que há uma inflação de demanda via crédito no Brasil. Os setores que mais se beneficiam do crédito como alavanca de vendas são o de eletroeletrônicos e o de automóveis, e, em ambos os casos, há evidentes sinais de desaceleração e, pior, em nenhum desses setores tivemos focos de pressão de preços recentemente.

Ou o BC arruma outras fontes de preocupação para justificar uma quase neurose, ou atua de outra forma, encerrando o ciclo de alta de juros que já foi longe demais. Também precisamos bater mais e mais na tecla de que, se o governo vê um excesso de demanda, a primeira ação a ser adotada é uma redução de verdade nos gastos públicos, dado que o setor público é o maior consumidor isolado deste País, com quase 40% do PIB em gastos anuais.

Assessoria Técnica

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