quinta-feira, 21 de julho de 2011

A dívida americana e a teoria da relatividade

Quase todo mundo sabe que a Teoria da Relatividade foi um dos maiores legados de Albert Einstein para a humanidade. Poucos, no entanto, sabem que o corolário inicial da teoria é: É impossível atingir a velocidade da luz. Portanto, toda vez que nos deparamos com alguém falando sobre o que poderia acontecer se a velocidade da luz fosse ultrapassada – aquelas maluquices de voltar no tempo, chegar antes de sair, e outras bizarrices – pode estar tratando de tudo, menos da Teoria da Relatividade.

Vamos colocar um corolário para o que segue em nosso texto: É impossível que os Estados Unidos não aprovem um aumento dos limites da dívida interna de US$ 14 trilhões para US$ 16 trilhões. Dito isso, parece um pouco irrelevante tratar de como seria o mundo se os americanos derem um default (calote) em parte da sua dívida, pela primeira vez na história. É irrelevante, mas seria até interessante o exercício de imaginar esse cenário, tão improvável que é muito pouco previsível também.
Para começar, um pouco de história: em 15 de agosto de 1971 o presidente Nixon decretou o fim do padrão dólar/ouro, que, na prática, acabava com a ideia de que a moeda tem que ter um lastro físico que seja a expressão palpável de seu valor - o intrigante é entender por que o ouro seria garantia de alguma coisa, mas vamos adiante. A partir de então, o mundo não poderia trocar uma paridade fixa de dólares por uma quantidade determinada de ouro. A moeda americana, assim como todas as outras, iria flutuar ao sabor da confiança e das perspectivas econômicas de cada país. O lastro agora seria a confiança que cada um teria nas moedas e as paridades seriam flutuantes. Continuamos intrigados com a confiança no ouro e o que motiva as pessoas a acreditarem que aquele metal dourado tem grande valor de uso... mas sigamos novamente!

Como era de se esperar, houve forte desvalorização do dólar perante outras moedas, mas após uma década de acomodação, percebeu-se que o mundo todo dispunha de reservas em dólares, e os negócios todos eram referidos em dólar. Seria primeiro difícil trocar de ativo de referência e ,segundo, um pouco estúpido apostar contras as próprias reservas. Ou seja, a adoção do padrão dólar/ouro no pós-guerra foi uma excelente armadilha americana que praticamente vinculou as outras economias à sua moeda. Aliás, data dessa época uma frase peculiar das autoridades monetárias americanas para quem reclamava da quebra de padrão unilateral: nossa moeda, seu problema!
Estamos de novo em 1971, com uma diferença, não há lastro físico a quebrar. Mas a garantia que o mundo tinha de que o dólar reservasse valor era a responsabilidade monetária e fiscal dos Estados Unidos que se auto-impunham limites no endividamento e, portanto, em última análise, na emissão de moeda. Pode não haver lastro físico, mas há lastro legal, de responsabilidade. E, 40 anos depois, dia 2 de agosto, é o limite para que os Estados Unidos autorizem a emissão de mais moeda, de maior dívida pública e paguem todos os credores sem ter que escolher quem vai ficar a ver navios. De certa forma, vão pagar com uma moeda mais fraca que eles mesmos emitem, mas vejam a ironia: as outras economias não têm opção. Estão sentadas em pilhas de títulos americanos e de dólares mesmo, e o momento na Europa e no Japão não enseja uma luz no fim do túnel para quem queira imaginar a adoção de outra moeda de troca confiável e bem aceita. Mais irônico, a China pede aos Estados Unidos que tenham responsabilidade no manejo da moeda e da política fiscal, e não é à toa, pois eles são os maiores credores dos Estados Unidos. É impossível que o Congresso americano não aprove o aumento do limite de endividamento até 2 de agosto...

Assessoria Técnica

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