sexta-feira, 8 de julho de 2011

Conforme antecipado, agora a bola da vez é Portugal

Após o momento mais agudo da crise grega ter passado, os canhões estão voltados para Portugal. Assim como estarão voltados para Espanha e Irlanda em pouco tempo. O problema é o mesmo, excesso de endividamento público e privado. E, como ficou evidente na crise grega, outro problema sério da Europa é ter um único Banco Central, porém diversos Tesouros Nacionais. Com isso, fica muito difícil manter o equilíbrio macroeconômico no continente. A tentação dos governos nacionais em gastar muito é grande, sabedores que são de que na maioria das vezes os outros países do bloco terão que encontrar soluções para os problemas criados pelo eventual excesso de gastos. A Europa ainda tem outro sério entrave: enquanto o Brasil vive o chamado bônus demográfico, ou seja, existe uma população jovem e adulta numerosa e ainda poucos idosos e poucas crianças relativamente. No velho continente a população está envelhecida, o que exige um grande esforço previdenciário e daqueles que continuam na força de trabalho.

Neste cenário, é provável que além de Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, outras economias maiores também venham a ter que adotar medidas de austeridade para resolver esse desequilíbrio. O fato é que essas medidas sempre são impopulares, normalmente são quebras de paradigmas e de direitos (erroneamente concedidos a princípio, mas direitos adquiridos) de trabalhadores, de aposentados, tudo aquilo que qualquer político que goste de votos tenta contornar. O problema europeu chegou onde chegou justamente por anos e anos de governos e políticos fazendo manobras para desviarem e postergarem soluções. Mas, infelizmente – e essa é uma lição que o Brasil poderia aproveitar para aprender enquanto não é tarde demais – a realidade se impõe em algum momento. E o momento na  Europa parece ter chegado.
Nessas horas mais complicadas, sempre parece que o universo – ou alguns países e analistas mal intencionados – conspira contra as economias mais debilitadas e tudo começa a dar errado. Essa sensação de ser perseguido já é conhecida do brasileiro. Dava a impressão que as agências de rating, o FMI, os bancos credores e os políticos estrangeiros todos conspiravam contra nós. É exatamente nesses momentos que surgem as rações nacionalistas (genuínas ou oportunistas) e que a população começa a repudiar principalmente analistas financeiros e estrangeiros (pior ainda se o analista for estrangeiro). Essa hora chegou para os europeus. As agências de rating, especialmente a Moodys, rebaixaram Portugal. Esse movimento da Moodys criou uma reação bastante intensa dos europeus, que se declararam perseguidos, vítimas de preconceito.

É difícil acreditar que os europeus sejam realmente vítimas de um complô contra sua economia ou estejam sentindo o preconceito do resto do mundo. De qualquer forma, é um fato também que as agências de rating parecem sempre estar um passo atrás na classificação das economias, e muitas vezes são inconvenientes. Esse é o caso agora. O Brasil já estava em condições de melhorar seu rating há muitos anos, e todos os investidores anteciparam esse cenário. Quando S&P ou Moodys elevaram o Brasil a Investment Grade, o efeito foi zero, pois o resto do mundo e dos investidores já haviam de fato elevado o rating do Brasil por conta própria. Neste momento, reduzir o rating de algumas economias européias pode até ser tecnicamente correto, mas é desnecessário (como se alguém não soubesse que Grécia e Portugal estavam com problemas) e cria antipatia e ruídos muito pouco bem- vindos. Se as agências sempre chegam atrasadas, por que não esperar mais um pouco ao invés de complicar ainda mais a situação de alguns países com suas notas? Não é preconceito ou perseguição, é apenas intempestividade mesmo.
Perspectivas: com relação aos mercados financeiros, que acompanharam os boletins na época da crise grega (uma ou duas semanas atrás) pode agora reler e trocar o nome do país de Grécia para Portugal. Nesses dias, os mercados tendem a ficar avessos ao risco, pressionar ações para baixo, mas no final a Europa terá que solucionar essas questões pontualmente. A única coisa que não pode acontecer é o desmoronamento conjunto de várias economias, e é por isso que os europeus estão tão irritados com os ratings, que podem precipitar crises no momento errado.

Assessoria Técnica

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