Neste cenário, é provável que além de Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda, outras economias maiores também venham a ter que adotar medidas de austeridade para resolver esse desequilíbrio. O fato é que essas medidas sempre são impopulares, normalmente são quebras de paradigmas e de direitos (erroneamente concedidos a princípio, mas direitos adquiridos) de trabalhadores, de aposentados, tudo aquilo que qualquer político que goste de votos tenta contornar. O problema europeu chegou onde chegou justamente por anos e anos de governos e políticos fazendo manobras para desviarem e postergarem soluções. Mas, infelizmente – e essa é uma lição que o Brasil poderia aproveitar para aprender enquanto não é tarde demais – a realidade se impõe em algum momento. E o momento na Europa parece ter chegado.
Nessas horas mais complicadas, sempre parece que o universo – ou alguns países e analistas mal intencionados – conspira contra as economias mais debilitadas e tudo começa a dar errado. Essa sensação de ser perseguido já é conhecida do brasileiro. Dava a impressão que as agências de rating, o FMI, os bancos credores e os políticos estrangeiros todos conspiravam contra nós. É exatamente nesses momentos que surgem as rações nacionalistas (genuínas ou oportunistas) e que a população começa a repudiar principalmente analistas financeiros e estrangeiros (pior ainda se o analista for estrangeiro). Essa hora chegou para os europeus. As agências de rating, especialmente a Moodys, rebaixaram Portugal. Esse movimento da Moodys criou uma reação bastante intensa dos europeus, que se declararam perseguidos, vítimas de preconceito.É difícil acreditar que os europeus sejam realmente vítimas de um complô contra sua economia ou estejam sentindo o preconceito do resto do mundo. De qualquer forma, é um fato também que as agências de rating parecem sempre estar um passo atrás na classificação das economias, e muitas vezes são inconvenientes. Esse é o caso agora. O Brasil já estava em condições de melhorar seu rating há muitos anos, e todos os investidores anteciparam esse cenário. Quando S&P ou Moodys elevaram o Brasil a Investment Grade, o efeito foi zero, pois o resto do mundo e dos investidores já haviam de fato elevado o rating do Brasil por conta própria. Neste momento, reduzir o rating de algumas economias européias pode até ser tecnicamente correto, mas é desnecessário (como se alguém não soubesse que Grécia e Portugal estavam com problemas) e cria antipatia e ruídos muito pouco bem- vindos. Se as agências sempre chegam atrasadas, por que não esperar mais um pouco ao invés de complicar ainda mais a situação de alguns países com suas notas? Não é preconceito ou perseguição, é apenas intempestividade mesmo.
Perspectivas: com relação aos mercados financeiros, que acompanharam os boletins na época da crise grega (uma ou duas semanas atrás) pode agora reler e trocar o nome do país de Grécia para Portugal. Nesses dias, os mercados tendem a ficar avessos ao risco, pressionar ações para baixo, mas no final a Europa terá que solucionar essas questões pontualmente. A única coisa que não pode acontecer é o desmoronamento conjunto de várias economias, e é por isso que os europeus estão tão irritados com os ratings, que podem precipitar crises no momento errado.Assessoria Técnica
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