Hoje, com um PIB menor do que o do Estado de São Paulo, a Argentina se vê às voltas com problemas de competitividade, corrupção, pouco valor agregado de suas exportações, desabastecimento em vários setores e regiões, tudo isso emoldurado por um populismo deletério. Essa conjunção perigosa está emergindo em vários setores, com a necessidade de novas barreiras alfandegárias, acirramento comercial com o Brasil, empobrecimento visível das populações urbanas (e deterioração do mobiliário urbano). Mas, talvez, o sinal mais evidente dessa decadência quase programada seja o setor de energia.
Por vários motivos as nações e os Estados Nacionais são muito sensíveis ao desempenho do setor energético. Os receios da dependência nesse caso são sempre exacerbados, e em termos populares pega muito mal para um argentino ser lembrado que há 10 ou 20 anos seu país criou uma rede de distribuição de energia elétrica e de gás para vendar o excedente produzido para Uruguai, Chile e mesmo para o Brasil. Atualmente, a Argentina teve que cancelar os contratos de fornecimento de gás para Chile e Uruguai (fato que ainda vai gerar problemas legais para os argentinos) e está usando a rede de distribuição para receber gás e energia elétrica do Brasil, no sentido inverso do que era programado.Em pouco mais de meia década, a Argentina viu seu resultado na balança de energia cair de um superávit superior a US$ 1,5 bilhão para um déficit de mais de US$ 3 bilhões. Pior, o governo gasta outros US$ 1,5 bilhão para subsidiar a energia que abastece os lares em seu território. Ou seja, sob o receio de que a população passe a sentir a deterioração de seu orçamento doméstico, principalmente no inverno quando o consumo de gás para aquecimento aumenta muito, as políticas públicas permanecem maquiando a realidade. O grande problema é que com os sinais errados, a população vai continuar a consumir mais do que o mercado é capaz de produzir. Esse subterfúgio funciona por algum tempo, em alguns casos, mas não todo tempo para qualquer problema. No final das contas, o consumidor argentino está pagando por meio do endividamento público, mas só vai se dar conta disso no futuro.
Para finalizar, a política é tão controversa que está havendo cortes de energia (gás e eletricidade) nas empresas, mas não nas casas argentinas. Ou seja, desagradar empresários parece ser melhor do que a população. No curto prazo, dentro do raciocínio puramente político/eleitoral, é verdade, mas no longo prazo a catástrofe pode se agigantar: a indústria argentina vai ser empurrada para o precipício, e, em breve, o desemprego vai aumentar tão rapidamente quanto a renda e o PIB vão cair.Assessoria Técnica
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