segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ajuda à Grécia: pacote especial, contingencial e único

A segunda tranche do pacote de ajuda para a Grécia foi aprovada pelo FMI e credores. São mais 109 bilhões de euros, que serão liberados em breve. Exatamente conforme antecipado, a Grécia está fazendo um ajuste fiscal doloroso e os credores aceitaram melhorar as condições de pagamento das dívidas e deram um desconto para os gregos. Os dois lados teriam muito a perder se mantivessem a intransigência.

Como na Europa há hoje pelo menos mais quatro economias que podem ter dificuldade de honrar suas dívidas, era essencial resolver o problema da Grécia antes que outros países precisassem de ajuda. Mais do que não deixar encavalar um entrave no outro, o pacote grego reduz o risco de contágio, que precipitaria uma corrida de credores contra devedores.
O lado mais complexo desses pacotes é fazê-los de forma a salvar uma economia ao mesmo tempo em que se resguardam os principais direitos dos credores e não deixar transparecer que o FMI é muito mole e dará ajuda a qualquer um que precisar, por mais irresponsável que seja. É muito difícil concatenar esses objetivos, mas é necessário. Aportar recursos é essencial nestas condições, por motivos óbvios. O risco sistêmico se o país quebrar é enorme. Por outro lado, resgatar economias sem nenhuma exigência, seria um grande estímulo à gastança geral e à irresponsabilidade. O risco moral, ou seja, de se perder a autoridade estimulando o mau comportamento é grande.  Por isso mesmo é que o FMI e os arquitetos do pacote (principalmente Sarkozy e Angela Merkel) declararam que ele tinha condições especiais e era único. Querem dar o seguinte recado: devedores, não se animem.

Esse script é antigo e conhecido. No Brasil e na América do Sul passamos por vários pacotes de ajuda do FMI e negociamos com credores. Em todos os momentos o risco moral de perda de controle era grande, e em determinado momento, no final dos anos 1980, era visível que o continente precisaria de um plano de resgate geral e muito amplo. Os pacotes de resgate isolados e parciais apenas estavam dando sobrevida a economias na UTI. Foi nesse tumulto, nessas condições, que surgiu o Plano Brady. Nada mais era do que um plano como o da Grécia atual, mas geral e turbinado.
Os títulos das dívidas seriam convertidos em várias modalidades, uns mais longos, outros com deságio e mais curtos, alguns com juros flutuantes, outros com juros fixos. Uma engenharia financeira muito complexa. Após a criação dessas modalidades novas, os credores puderam escolher como queriam trocar seus títulos. Essa estratégia foi excelente. Quem precisava resgatar dinheiro no curto prazo, optou por títulos com maior deságio, com pagamentos no curto prazo. Quem não queria perder o principal, teve a opção então de alongar as dívidas, e assim por diante. Essas opções foram fundamentais para resguardar os direitos e acomodar as necessidades dos credores e ao mesmo tempo salvar várias economias ao mesmo tempo. Claro, os devedores tiveram que fazer ajustes, e muitos tiveram sucesso, como é o caso do Brasil. Outros nem tanto e ainda estão às voltas com sérios problemas econômicos, como a Argentina.

Não adianta dizer que esse pacote é único e especial. Outras economias européias vão precisar de ajuda, pois o grau de endividamento do continente é muito elevado e o controle fiscal de várias economias é bastante precário, e certamente hoje mais da metade dos países da comunidade européia não teria condições de cumprir o tratado de Maastrich, que normatizava as condições de entrada no bloco. Credores e FMI deveriam parar de perder tempo e buscar uma solução mais robusta e definitiva, ou vão ter que salvar a Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda... e cada um desses mais de uma vez.
Assessoria Técnica

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