A circular aumenta o Fator de Ponderação de Risco (FPR) para as exposições dos bancos a operações com cartão que não tenham suas dívidas liquidadas em 36 meses. Com essa nova norma tais créditos oferecidos pelas instituições financeiras ficam mais caros. A partir da cobrança de um ônus maior o BC quer desestimular o crédito a prazo mais alongado.
Durante esse ano o BC sinalizou com algumas medidas de restrição ao crédito. Dentre elas podemos citar a Circular 3.515/10 que veio aumentar o FPR para operações de financiamento de veículos para prazos acima de 24 meses e a Circular de 3.512/10 que veio determinar o valor mínimo para pagamento da fatura do cartão de crédito. A partir de 01/01/11 o valor mínimo para pagamento fica definido em 15% da fatura e a partir de 01/12/11 esse percentual passa a ser de 20%.Todas essas medidas adotadas pelo BC tem um objetivo em comum: reduzir o endividamento de longo prazo e, com isso, reduzir os riscos futuros de inadimplência. O fato é que os financiamentos a prazos mais alongados comprometem a renda futura do consumidor. É uma compra realizada hoje que vai consumir uma renda que ainda será obtida e as condições para sua obtenção e para sua utilização, no futuro, dependerão de condições ainda desconhecidas.
A inadimplência surge quando a conta não fecha, ou seja, quando o consumidor se endividou a níveis aceitáveis no presente, mas que, por não ter reservado renda suficiente para possíveis imprevistos, acaba se desorganizando no futuro, com gastos com os quais não contava.Endividar-se a níveis seguros e administrar bem o nível de comprometimento de renda é um bom caminho para se evitar a inadimplência. Esse é o objetivo do BC ao definir esse conjunto de regras que procura criar equilíbrio para a melhor administração do crédito.
A fim de avaliar o cenário atual do endividamento destacam-se os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência (PEIC) de junho, realizada pela Fecomercio na cidade de São Paulo. Segundo a PEIC, dentre os entrevistados, 47% das famílias tem dívidas, 16% estão com contas em atraso e apenas 6% declaram que não terão condições de pagar. Quanto ao nível de comprometimento da renda, a PEIC mostra que 53% dos endividados tem de 11% a 50% de sua renda comprometida e que apenas 19% deles comprometeram mais do que 50% da renda. Em relação ao tempo da dívida 46% tem dívidas com prazo de até seis meses e apenas 29% terão dívidas por mais um ano.
Esses dados mostram que tanto os percentuais de endividamento observados pela Fecomercio como os prazos de endividamento apresentam níveis ainda relativamente seguros.O consumidor que optou pelo crédito consignado terá sua renda comprometida, durante a vigência do contrato, entre 20% e 30%. Se não houver renda que sustente a elevação do nível de endividamento, adicionando-se imprevistos a esse cenário, tais como perda do emprego de alguém na família ou outro motivo, a tendência é de aumento de inadimplência.
De qualquer forma, essa medida tem caráter cautelar e deve ser entendida como precaução a um possível descontrole do consumidor em relação à utilização do crédito e da administração de sua renda futura. Vale lembrar que o mesmo crédito que alavanca vendas, reduzirá o potencial de consumo futuro, dado que os endividados terão que separar parte de seus rendimentos para pagar as prestações assumidas. A boa administração do crédito, aliada à geração de condições ideais de emprego e renda, podem contribuir significativamente para o fortalecimento do poder de compra das famílias.Assessoria Técnica
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