sexta-feira, 1 de julho de 2011

Melhoria do mercado vem com os “ventos gregos”

O Parlamento grego aprovou um pacote de austeridade fiscal e monetária de cinco anos por 155 votos a 138, mas está prevista uma segunda votação sobre medidas específicas para o orçamento e privatizações. As bolsas reagiram muito bem. Aliás, desde segunda-feira, as bolsas estão reagindo bem, por conta da expectativa de que muito provavelmente o pacote de ajustes na Grécia seria aprovado. Na beira do abismo, restam poucas alternativas racionais a não ser parar, pensar e dar meia volta. Essa figura serve para gregos e também para os credores, que de seu lado terão que aceitar algum deságio nas dívidas ou, ao menos, alongamento de prazos, muito parecido com os moldes do Plano Brady. Por conta dessa percepção e da aprovação inicial do pacote, as bolsas europeias reagiram assim nesta quarta:

Em LONDRES, o índice Financial Times fechou em alta de 1,54%, a 5.855 pontos.
Em FRANKFURT, o índice DAX subiu 1,73%, para 7.294 pontos.

Em PARIS, o índice CAC-40 ganhou 1,88%, a 3.924 pontos.
Em MILÃO, o índice Ftse/Mib teve valorização de 2,11%, para 19.864 pontos.

Em MADRI, o índice Ibex-35 avançou 2,08%, a 10.143 pontos.
Em LISBOA, o índice PSI20 encerrou em alta de 2,25%, aos 7.108 pontos.

No Brasil, a reação seguiu a europeia, e era esperado esse comportamento. Agora, a manutenção desse humor melhor depende, segundo analistas, das votações de detalhes do pacote grego. Na realidade, também a percepção é de aprovação, mas os credores querem nesse momento mensurar o grau de aversão e de dificuldades do governo grego para implementar essas medidas com base na disputa no Congresso do país entre governo e oposição. Não basta aprovar medidas e pacotes. Todos analistas e credores sabem quanto um ambiente político hostil dificulta a implementação de uma série de medidas, principalmente quando se trata de corte de gastos e de venda de empresas estatais. Vamos acompanhar essas votações com atenção, porque os mercados certamente irão.
O Plano Brady, que redefiniria o perfil da dívida da América Latina (principalmente) na década de 1990, teve esse nome devido a Nicholas Brady, então secretário do Tesouro americano, que foi o mentor das ideias básicas de redução de juros/e ou principal da dívida, alongamento de prazos e a adoção de taxas de juros fixas em troca das taxas flutuantes que vigoravam anteriormente. Esse plano, assinado em abril de 1994, foi determinante para que o Brasil suspendesse sua moratória parcial do país vigente desde 1989. Na realidade, essa reengenharia financeira das dívidas de países emergentes foi o que propiciou um acerto inédito de contas na história, reestabelecendo linhas de crédito para esses países sob condições normalizadas. No limite, foi esse acerto de contas que permitiu, a partir daí, um novo fluxo de investimentos e empréstimos para economias emergentes que viriam mais de uma década depois, ser o motor do crescimento mundial.

Esse plano não foi essencial apenas para os devedores. Deu aos credores condições de manter suas operações em muitos casos, garantindo também o fluxo de pagamentos que iria injetar mais recursos nas instituições financeiras credoras, elevando fortemente a saúde do sistema bancário global. Como se vê, o resgate grego pode ser a ponta do iceberg de um descontrole de endividamento em alguns países, principalmente Portugal, Espanha, Irlanda e Itália. Talvez uma solução conjunta e engenhosa deva ser adotada agora, só que não mais para a América Latina ou o Sudeste Asiático e sim para economias menores (e nem tão menores assim) da Eurolândia. Dificilmente os credores escaparão de uma solução negociada como o Plano Brady. Principalmente se forem racionais diante do abismo.
Assessoria Técnica

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