Para se ter uma noção melhor do que significa ter quase 7% de juros reais, o segundo colocado conosco nesse pódio é a Hungria com 2,4% e completando a premiação está o Chile com 1,8%. Não só detemos o recorde, como estamos muito na frente. Não há com o que se preocupar, pois não parece que alguém vai nos ultrapassar no curto prazo. O Banco Central agora tem que pensar apenas na taxa nominal. A Venezuela tem uma taxa nominal de 17,4%, quase cinco pontos acima da Selic. É bem verdade que a taxa real na Venezuela é -6%, dado que a inflação naquele país supera os 20% ao ano. Mas se o Brasil quiser bater todos os recordes, tem que ficar atento ao país de Hugo Chaves, que é o único na nossa frente. Em terceiro está a Argentina com 9,6%.
O que preocupa, mais do que a taxa em si, é a nossa companhia. Por que o Brasil teria que manter uma taxa nominal maior do que a da Argentina? Por que nossa taxa real é maior do que a da Hungria? O Brasil hoje tem uma dívida pública controlada (poderia ser mais ousado e reduzir ainda mais), o IPCA mostra tendência de queda e mantemos reservas de mais de US$ 300 bilhões. O que sugere que tenhamos que pagar juros nessa magnitude, se mesmo a taxa de risco do Brasil hoje é muito baixa? O Brasil parece pagar o preço do próprio sucesso na produção de commodities. Como esses preços estão subindo no mundo, as pressões inflacionárias acabam por surgir. Mas, em vários países, a inflação que realmente conta é aquela verificada isolando-se os efeitos da variação dos preços de alimentos e de energia, o chamado núcleo inflacionário. Se fizermos esses cálculos, veremos que há pressão adicional apenas em alguns serviços, e isso também é culpa nossa, pois adoramos manter um nível de indexação máximo na economia.Resumindo, temos a maior taxa de juros do mundo, apesar das condições macroeconômicas serem relativamente melhores do que na maioria dos países. Pior, as pressões inflacionárias ou advém do nosso sucesso internacional na exportação de commodities cada vez mais disputadas ou internamente da nossa mania de indexar os preços. Temos tudo para corrigir, pela ordem, a maneira pela qual o BC deve medir a inflação para fazer política monetária (expurgando alimento e energia), e desindexar os contratos com reajuste automático nos setores de serviços, desarmando essa armadilha que fizemos para nós mesmos!
Assessoria Técnica
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