Para começar, o que são IPO’s? Initial Public Offering, ou, em português econômico, Oferta Pública Inicial, ou seja, lançamento de ações no mercado de capitais. Em alguns momentos existem “surtos” de lançamentos no Brasil. Empresas familiares que ficaram muito grandes que vislumbram um crescimento ainda maior e precisam financiar essa trajetória de expansão. Como o dinheiro nos bancos é muito caro, uma opção para quem cumprir todas as exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e dos mercados de ações é abrir parte do seu capital e convidar novos sócios pulverizados para o negócio.
O dinheiro do mercado de ações não é exatamente barato, e pode mesmo ser mais caro do que o dos bancos, mas o fato é que a empresa precisa distribuir dividendos só quando tem lucro e se quiser, caso não pretenda reinvestir os ganhos, e seus acionistas já sabem disso. Se pegar dinheiro nos bancos, a cobrança virá com ou sem lucro, portanto o financiamento via mercado acionário é mais adequado às regras do mercado.
O IPO não é um processo fácil. Pode levar muitos meses na confecção de documentação e na reestruturação interna quase sempre necessária. O processo também envolve a escolha quase sempre de um grande banco que ficará responsável por “espalhar” a notícia e atrair potenciais investidores, institucionais e pessoas físicas. O processo também é bastante caro, não raramente custando mais de R$ 40 milhões ou R$ 50 milhões.
Esses surtos normalmente são setoriais. A cada momento, um setor promissor é instado a ampliar negócios, e quando um grande player embarca nessa, outros acabam seguindo por estratégia de sobrevivência. Entre 2006 e 2007, foi a vez do setor de incorporadoras imobiliárias, quando nada menos do que 14 empresas abriram seu capital, levantando algo como R$ 15 bilhões no mercado de capitais. Cada empresa obteve entre R$ 500 milhões e R$ 2 bilhões. Foi essa injeção maciça de recursos que deu início ao “boom” imobiliário, que persiste até hoje. Com esse dinheiro, as empresas estruturaram sua administração de forma muito profissional e que acabou permitindo alavancar os financiamentos junto aos bancos nos momentos seguintes. Esse mercado ainda está se ajustando e não há espaço para 14 empresas do setor. Umas vão comprar as outras e o mercado pode terminar com cinco ou seis companhias de capital aberto no setor, nos próximos anos.
O varejo era certamente o próximo alvo dos IPOs, mas em 2008 veio a crise. Com o terremoto financeiro, o apetite de investidores por novos negócios, sempre mais desconhecidos e arriscados (e também promissores) fica muito pequeno. Nos momentos de crise os lançamentos de ações tendem a ser verdadeiros fracassos. O mercado aplica pouco capital para as pretensões das empresas. Mas, agora, após um excelente ano em média para o varejo, parece que o mercado está aberto a novos lançamentos de ações. Agora são empresas como a International Meal Company (IMC), holding dona das redes de restaurantes e lanchonetes Viena e Frango Assado, que querem abocanhar dinheiro de novos sócios para expandir. Esperam levantar quase R$ 700 milhões, e certamente esse dinheiro já tem destinação planejada e apresentada em projetos à CVM.
Os investidores leigos têm a garantia de que a CVM faz um acompanhamento bastante severo do uso dos recursos obtidos por estas empresas. Parece uma boa opção de longo prazo, mas, tradicionalmente, quando se lança uma ação, ela sobe logo na abertura do capital e cai muito rapidamente. Não há explicação científica para esse fenômeno, mas evidências empíricas de que ele ocorre. Se o Frango Assado vai fazer a sua abertura de capital no Brasil, podemos apostar que outras redes de restaurantes e de varejo estão no mesmo caminho. Só esperemos que nenhuma nova crise venha atrapalhar os planos do setor de varejo.
Assessoria Técnica
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