Com a recente divulgação dos dados das operações de crédito em dezembro de 2010 no Brasil, é possível estimar o total dos gastos com juros efetuados pelas famílias no ano passado. Esse valor ultrapassou R$ 128 bilhões, resultante de empréstimos com taxa média anual de 40%. Comparado com outros indicadores, o montante pode dar a real dimensão do dispêndio transferido das famílias para o sistema financeiro.
Estima-se que o comércio brasileiro tenha atingido, em 2010, um volume de vendas ao redor de R$ 900 bilhões. Portanto, as famílias abriram mão de 14% (R$ 128 bi de R$ 900 bi) de sua capacidade de consumo apenas para pagar os juros decorrentes dos financiamentos tomados para consumir bens e serviços. Em outras palavras, os juros pagos pelas famílias em 2010 representaram quase 52 dias de vendas do comércio no Brasil.
Considerando a existência de aproximadamente 60 milhões de famílias em 2010 no País e que – conforme pesquisas – em média 59% estiveram endividadas no ano passado, pode-se deduzir que cada uma delas gastou cerca de R$ 300 por mês em média para pagar juros, um valor mensal superior à soma de despesas médias com água, luz, esgoto e telefone.
Se os juros ao consumidor Pessoa Física do Brasil estivessem em patamares americanos, europeus ou japoneses, com taxas inferiores à 15% ao ano, o dispêndio das famílias com juros seria de menos de R$ 50 bilhões. Já o consumo avançaria dos R$ 900 bilhões para R$ 978 bilhões (um incremento de quase 9% no faturamento do comércio). Os bancos ficariam com apenas 20 dias do consumo das famílias retidos na forma de juros. Os brasileiros consumiriam praticamente um mês a mais por ano (dos 50 dias de juros atuais para 20 dias de juros em condições mais adequadas de financiamento). O incremento de 9% no faturamento equivaleria ao varejo ganhar um ano de crescimento como o de 2010 apenas por efeito juros.
Os números mostram quão desequilibrados estão os juros cobrados no Brasil, que acabam limitando a expansão do consumo.
Assessoria Técnica
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