quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Sobre a China

Em livro recente com o título “Sobre a China”, Henry Kissinger nos dá uma excelente visão da cultura e das estratégias de um povo milenar e, sem dúvida, intrigante. Hoje, mais do que durante todo o século passado, o interesse sobre a China se exacerba, por motivos óbvios: a taxa de crescimento alta, a mega população, o desempenho comercial, a estratégia quase suicida de produção e a centralização de poder. Tudo isso torna a China um país único no mundo, com um modelo praticamente impossível de ser reproduzido ou emulado em outros países.
Apesar de muito interessante e de ser um bom guia para quem quer realmente iniciar estudos mais aprofundados sobre a segunda maior economia do globo, são outros aspectos da China que nos causam mais curiosidades. O passado pode ser estudado e bem entendido por meio do filtro de Kissinger e até ajudar a compreender como o Império do Meio chegou ao ponto atual. Porém, antecipar o que vai acontecer daqui para frente é de suma importância. Neste sentido, uma análise rápida, porém quase cirúrgica de Ricardo Amorim, economista brasileiro, revela um futuro bastante promissor para China e também para o Brasil.
Para Amorim a China está no meio de um processo de crescimento acelerado, ou seja, os últimos 30 anos darão lugar a pelo menos mais 30 anos de acelerado desenvolvimento. Na realidade não interessa o raciocínio de curto prazo, pois em questões econômicas e financeiras a análise muito míope com foco muito restrito pode fazer com que percamos a beleza da paisagem toda. Claro, neste ano ou em um determinado ano entre hoje e as próximas três décadas, momentos de crise podem e devem ocorrer, mas a regra não será essa para a maior parte das economias e nem mesmo para a maior parte dos seres humanos. O mundo ainda deve manter décadas de crescimento acelerado, com inclusão social (relativa, claro) de populações que consomem pouco e consumirão mais (talvez ainda pouco para padrões europeus) ao longo desses 30 anos. Essa é uma boa notícia, e o Brasil, sem muito esforço está bem posicionado.

A lógica de Ricardo Amorim é simples: a China acabou de ver sua população urbana ultrapassar sua população rural. Hoje, a população urbana atinge 51% do total de chineses. Esse padrão era verdadeiro no Brasil pouco depois da Segunda Guerra Mundial, ou seja, 40 ou 50 anos atrás. O processo de urbanização e crescimento acelerado se repetiu (claro que com momentos de interrupção) por mais 30 anos, até atingirmos certa maturidade social e econômica e finalizarmos um ciclo na década de 1980. Se Amorim estiver certo, a China pode mesmo mostrar ao mundo taxas de crescimento elevadas (menores que as atuais, porém elevadas) por mais três décadas.
Vamos a uma conta rápida e arredondada: há mais ou menos 30 anos, no início desse processo chinês alucinante, a população rural era 75% do total. Ou seja, de lá para cá a população urbana dobrou e a rural caiu 1/3. Ou seja, as cidades tiveram que basicamente dobrar de tamanho. Daí a aceleração da construção civil, do consumo de aço, metais, energia e mesmo alimentos. Como a população da China responde por 20% da população global, esses efeitos foram também eles globais. O que se deve ressaltar é que, para que a produção do campo fosse mantida, a produtividade deveria ter subido 50%, o que não ocorreu. Mais uma vez, a demanda mundial por alimentos cresceu, mas a oferta na própria China não acompanhou esse crescimento. Para a China atingir uma distribuição demográfica semelhante à brasileira, as cidades ainda vão praticamente dobrar (o Brasil tem quase 95% da população urbana) e o campo terá que se virar com 5% da população, ou um décimo do contingente atual. Mais, muito mais aço, alimentos, energia, e tudo o que se pode imaginar nos próximos 30 anos. Mais ainda: a produtividade no campo teria que se multiplicar por 10 para que a produção atual fosse mantida. Isso não é muito provável. Boa notícia para quem planta e alimentará o mundo nas próximas décadas.

Como o Brasil se beneficiará disso:
Não só o Brasil, mas muitos países, e a rigor o mundo todo vai se beneficiar dessa descentralização do crescimento e do consumo global. O crescimento chinês, apesar de mais benéfico evidentemente para a China, vai se espalhar pelo mundo. Países como o Brasil que produzem exatamente o que a China precisa (aço, minérios, energia, grãos e alimentos protéicos) serão mais diretamente beneficiados.

Todavia a economia globalizada tem um efeito positivo que se alastra para todos os países. Não é sem motivo que o crescimento global nas duas últimas décadas foi mais acelerado do que a média histórica. Provavelmente assim será por mais duas ou três décadas, e o Brasil vai aproveitar. Cabe a nós maximizar a oportunidade.

Assessoria Técnica

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