quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Poucas surpresas

Se alguém chegar em uma reunião e vaticinar que a China caminha para ser uma das maiores economias do mundo, provavelmente ninguém ficará surpreso. Talvez alguns presentes até lembrem que o país já é uma das maiores economias do globo, dado que seu PIB é inferior apenas ao dos Estados Unidos. Mesmo se alguém disser que, em meados do século 21 a China vai ultrapassar a economia americana, não haverá comoção. Essas hipóteses são muito prováveis, e, na realidade, nada mais dizem do que: países com renda per capita baixa tendem a crescer mais, dentro das atuais circunstâncias econômicas, do que países desenvolvidos.

Enquanto o mundo crescer e privilegiar preços de commodities e países ainda periféricos conseguirem competir por meio de baixos custos de mão de obra, a tendência de crescimento da periferia é maior que o centro. Essa visão é muito racional e tem grandes probabilidades de se cumprir pelos próximos anos. No entanto, dificilmente ao longo desse percurso as coisas se manterão exatamente como estão. Aliás, a própria caminhada nesse caso, é um fator que vai mudar o desenho das trilhas.
Por exemplo: quando o argumento leva em conta que o baixo custo da mão de obra nestes países se configura em uma vantagem comparativa que vai acelerar seu crescimento econômico, não podemos esquecer que o crescimento econômico ao longo do tempo vai necessariamente elevar o custo relativo da mão de obra e, portanto, reduzir essa vantagem comparativa. Exatamente por isso, as taxas de crescimento se desaceleram. Dessa maneira a Europa cresce menos do que o Brasil que, por sua vez, cresce menos do que a China ou a Índia. Claro, os modelos de políticas econômicas adotados podem acelerar ou retardar um pouco o crescimento, mas não vão se sobrepor nunca ao fundamental: o estágio econômico e social dos países comparados. Ou teríamos que acreditar que ninguém na Europa é competente para fazer o continente crescer como a China. Bastaria então que se importassem os modelos e economistas chineses para França, Alemanha ou Itália. Mas só funcionaria se também fossem importados trabalhadores chineses com remuneração inferior a US$ 50 por mês.

A Goldman Sachs, em 2003, por meio de um trabalho de Jim O’Neil, foi muito feliz em não só identificar e popularizar esse fenômeno de crescimento acelerado de países periféricos, como também por ter gerado o famoso acrônimo BRIC. Neste estudo se revelou que, em 2050, as quatro economias do BRIC (Brasil, Rússia, índia e China) estariam ao lado dos Estados Unidos entre as cinco maiores do mundo. Novamente, isso não deveria surpreender muito, pois essas economias, todas, têm em comum o fato de possuírem grandes populações, muitas riquezas naturais e cada uma, a seu modo, vantagens competitivas em áreas distintas como commodities no Brasil e Índia, mão de obra barata na China e também na Índia, tecnologia mais avançada como nos Estados Unidos e em menor escala na Rússia, fonte de energia exportável como a Rússia e o Brasil. Nenhum outro país do mundo reúne as condições como esses cinco. A grande sacada do estudo, além de popularizar o tema, que já era corriqueiro entre analistas, foi o de criar o termo BRIC para designar as economias que seriam os motores – como estão sendo – do crescimento do PIB e, mais ainda, do consumo mundial.

Mesmo que, tudo correndo exatamente como proposto nessas hipóteses, sendo a China a maior economia global em 2050, é necessário perguntar se dado a um indivíduo a chance de escolher se ele quer nascer na China, na Noruega ou nos Estados Unidos, acreditamos que a primeira alternativa será rapidamente descartada. Um país  com muitos milhões de habitantes tem que ter uma produção absoluta maior do que países de populações muito menores, e para chegarmos a essa conclusão não precisamos de grandes modelos matemáticos ou econométricos.

Assessoria Técnica

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