sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Existe um pacto contra o liberalismo no Brasil?

Em recente entrevista o renomado economista Pérsio Arida, que já foi presidente do Banco Central e hoje comanda algumas das maiores operações bancárias do País, alegou existir um pacto antiliberal no Brasil. Ao longo da entrevista, o economista explica que a palavra pacto talvez não seja a ideal, pois acredita que não há um acordo, e sim uma percepção comum, um comportamento natural antiliberal no Brasil.

De qualquer forma, a opinião de um dos economistas mais bem formados do País, um técnico de capacidade irrefutável, que participou da extinção da inflação no Brasil (o Plano Real na realidade tem suas origens no plano Larida, de Pérsio Arida e Lara Resende) deve ser levada em conta. Além de suas credenciais como técnico e de sua formação que inclui doutorado pelo MIT, hoje no controle de operações muito complexas no mercado financeiro, conseguiu uma façanha: juntar uma vasta gama de conhecimento teórico a um grau de experiência prática quase única no País. Tudo isso para mostrar quão importante é entender o que pensa esse brasileiro um tanto especial. Concorde-se ou não com Arida.
Ao acompanhar seu raciocínio em textos e mais recentemente em sua entrevista para a Folha de S. Paulo, a FecomercioSP pode dizer que coaduna em grande parte dos conceitos e  visões do economista. Especificamente na visão de que hoje a antipatia contra a economia de mercado está arraigada ideologicamente e carece de racionalidade. Essa mentalidade média pode ser o entrave para o avanço de políticas modernas e para a distribuição de renda.

O economista discorda, por exemplo, das políticas industriais da forma em que estão sendo feitas. Acredita serem concentradoras de renda, pontuais e casuísticas. Também não vê como algo estratégico a defesa de mercado para algumas multinacionais em detrimento de outras, no caso do setor automobilístico. Lembra que o BNDES jamais empresta para quem não tem acesso a capitais fartos e baratos, o que é em si um contrasenso: o BNDES deveria exatamente emprestar a bons projetos de empresas que não tenham acesso ao mercado externo de financiamento ou ao mercado de ações, e ocorre exatamente o contrário. Ou seja, deixa à míngua quem não consegue capital e empresta a juros subsidiados a quem conseguiria financiar seus projetos no mercado. Talvez bons projetos e mais empregos tenham deixado de ser criados e, certamente, a renda se concentrou nas mãos de poucas empresas, sob o véu do nacionalismo e da falta de espírito de mercado dos brasileiros.
A FecomercioSP aproveita a tese e a excelente companhia de visão estratégica para adicionar: em uma economia que se desenvolve e distribui renda, é essencial que, ao se fazer uma política de incentivo ao crescimento, o acesso a crédito seja cada vez mais democrático, e quando houver necessidade de direcionamento que o governo faça por meio da redução de carga fiscal e da política monetária correta. Também é bom lembrar que não faz nenhum sentido o BNDES atuar prioritariamente (para não dizer completamente) no setor industrial (e para grandes indústrias) quando o setor de serviços hoje gera 65% do PIB e do emprego no País. Não se quer que o BNDES passe a definir campeões no varejo e nos serviços, mas que atue de forma democrática, respeitando minimamente a contribuição que cada setor dá ao produto nacional e à geração de novos empregos.

Abaixo, link da entrevista do economista Pérsio Arida, divulgada na Folha de S. Paulo nesta semana.
http://www1.folha.uol.com.br/poder/1034168-pais-tem-pacto-antiliberal-entre-elites-e-governo-diz-persio-arida.shtml

Assessoria Técnica

Nenhum comentário:

Postar um comentário