terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sob o signo grego ou italiano?

A última semana terminou sob o signo da boa esperança, a partir do acordo entre credores (bancos franceses e alemães principalmente) e devedores gregos (dívida soberana). Pelo acordo, a Grécia aceita fazer um esforço fiscal relevante e por outro lado, os credores aceitaram um deságio de 50% no valor das dívidas. Ainda assim a Grécia teria um volume de dívida superior a 120% do PIB, mas muito melhor que os quase 200% que estava sendo atingido.

Essa notícia de quase acordo, que levou a Europa também a elevar o volume de recursos no fundo de resgate da União Europeia de € 440 bilhões para mais de € 1 trilhão, fez com que os mercados ao redor do mundo beirassem a euforia, inclusive o Brasil. Por aqui o Ibovespa subiu forte ao mesmo tempo em que o real voltou a se valorizar, com o dólar novamente abaixo do patamar de R$ 1,70. Esse acordo é muito importante para que o rescaldo dos problemas econômicos não se torne insolúvel com um eventual calote de dívida soberana. O risco mais iminente estava na Grécia.
O lado complicado dessa história é que Portugal, Espanha, Irlanda e Itália vão exigir tratamento semelhante de suas dívidas. Não há porque imaginar que o benefício dado aos gregos fosse ficar restrito a um episódio apenas e os outros endividados não fossem pleitear algo semelhante também. É de tal forma improvável que o blog aposta que já houve conversações com os outros devedores e credores. Um passo, importante, foi dado na solução da crise europeia. Mais do que o acordo em si, a sinalização de que os governos, bancos, credores e devedores vão fazer de tudo para minimizar os efeitos da crise, é muito positiva, daí as reações do mercado.

Se a semana passada terminou sob o signo grego da bonança, essa semana começa sob o signo italiano da encrenca. A Itália teve que emitir novos títulos de dívida para garantir o pagamento ou a rolagem de seus vencimentos. Essas emissões saíram muito caras: 6% ao ano, ou algo como 500 pontos base acima dos juros dos títulos americanos. Isso significa que a Itália hoje paga mais caro do que o Brasil para financiar suas dívidas se emitir papéis em dólar ou euros. Esse custo elevado mostra que, se de um lado os mercados se sentiram aliviados com o resultado das negociações entre gregos e credores (mais difícil do que com os troianos), de outro mostra que ainda há forte desconfiança na capacidade de pagamento de algumas economias, notadamente a italiana, a espanhola, a irlandesa e a portuguesa. O mundo tem liquidez, mas está ficando caro para europeus, e barato para brasileiros, chineses e coreanos, quem diria que isso iria acontecer um dia? Se formos cautelosos, podemos surfar essa onda maravilhosa de oportunidades para nos mantermos crescendo mais do que o mundo por muitos anos.

Prognóstico: o acordo deu alento de médio prazo para os mercados, ou seja, a tendência de apreciação das bolsas ainda deve persistir, com solavancos (quando as novas negociações de dívidas europeias acontecerem) no caminho. O câmbio também pode ficar volátil, mas a tendência média é de se manter valorizado, pois o Brasil continua a ser um bom porto para investimentos na situação atual, e deve se manter assim por um bom tempo. Nesta semana, especificamente, a bolsa tende a ficar ruim por realizações de lucros e pelos problemas da Itália, desta vez, mas isso é ajuste, nada mais.




Assessoria Técnica

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