Esse comportamento do governo se justifica por conta da situação externa. Crescimento baixo dos Estados Unidos e do Japão, adicionados a uma das mais complexas crises na Europa e que ameaça a moeda comum podem trazer ventos pouco suaves e bastante desagradáveis para o Brasil e outras economias. A grande probabilidade é de que essas economias saiam de suas crises e retomem seu crescimento ao longo dos próximos anos, mas sem que ocorram movimentos “tectônicos” ao longo do percurso. Mesmo sob esta hipótese o Banco Central e o governo estão certos em agir preventivamente.
Existem duas formas principais de contágio dessas crises de confiança, liquidez e crescimento que podem e devem atingir outras economias, inclusive o Brasil: em primeiro lugar, a queda da projeção da demanda global, o que depreciaria os preços de commodities, hoje uma grande fonte de renda e reservas internacionais para alguns países como Brasil, Índia ou África do Sul; em segundo lugar, a crise de liquidez e de confiança torna os mercados financeiros mais ariscos, e muito pouco confortáveis em manter o atual nível de liquidez para outros países.Esses fenômenos externos vão certamente pressionar a economia brasileira de forma negativa, arrefecendo o setor produtivo por conta da queda da liquidez internacional e da redução das receitas cambiais. No curto prazo, a solução é apelar para o mercado interno, que, no caso do Brasil, é excepcionalmente grande e se mantém em crescimento. Essa estratégia funcionou em 2008, quando a crise e os receios sobre seus efeitos eram bem maiores do que neste momento. O artifício não foi suficiente para resguardar todo e qualquer setor ou empresa, mas funcionou de forma a que o tamanho do ajuste interno fosse minimizado.
Neste final de 2011 e início de 2012, não será diferente. Vamos fechar o ano crescendo cerca de 3% e iniciar 2012 com uma taxa média de crescimento menor, por volta de 1,5% a 2%, ao menos no primeiro trimestre. Como o mercado interno deve dar conta de grande parte do recado em termos de consumo agregado, a tendência é de que os ajustes serão relativamente pequenos e que não haja perda de postos de trabalho. Esse fôlego inicial para atravessar o mar turbulento é muito importante, porque permite ultrapassar a pior sequência de ondas e encontrar condições para se recuperar ao longo do resto do percurso. Para a FecomercioSP é isso que deve acontecer: o BC vai injetar ânimo por meio da redução de juros e dos compulsórios, e ao mesmo tempo, o crescimento do salário mínimo acima da inflação vai manter uma base de consumo crescente. Parece que o Brasil está fadado a crescer nesta década mais do que a média mundial. Imaginem se estivéssemos preparados para isso.Assessoria Técnica
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