segunda-feira, 7 de novembro de 2011

A indústria automobilística tem motivos para comemorar a década

Nos últimos meses a indústria, e em particular o setor automobilístico, tem adotado um discurso um tanto exacerbado quanto ao mau desempenho em 2011. Na realidade, ainda que o ano termine com crescimento muito modesto da indústria, o resultado é pontual e não deve ser encarado como o início de um processo de desindustrialização nacional. Claro, o exagero de linguagem usada tem serventia na hora de se fazer pressão sobre o poder público. Não desconhecemos as dificuldades de todos os empresários no Brasil, inclusive da indústria. São tributos demais, serviços de menos, insegurança, falta de infraestrutura e todo o rosário de dificuldades que sempre desfiamos e o leitor já conhece muito bem. No caso da indústria, nesse momento, pesa mais a valorização cambial, pois encarece produtos nacionais e estimula a importação de similares concorrentes. Vale só lembrar um ponto importante: a indústria é também o setor que mais importa, portanto, se do lado do ativo está ruim trabalhar com a valorização de nossa moeda, o passivo está sendo favorecido pelo dólar barato.

A indústria automobilística tem tido desempenho espetacular no Brasil, registrando recordes múltiplos de produção e vendas. Estudo mais detalhado e não casuístico dos resultados desde 1999 mostra que, em resumo, o avanço da produção e das vendas é inegável e invejável. Talvez nenhum outro setor tenha tido tamanho desempenho acumulado em mais de uma década. Evidentemente, em alguns momentos (poucos, conforme se mostrará) houve retração, desempenho negativo, mas a média do longo prazo é excepcional, e surpreende que o País continue a bater recordes de vendas e produção. Mesmo com a importação crescendo, a absorção do produto nacional continua a crescer de forma muito evidente. A tabela a seguir vale mais do que mil palavras:



Estudamos a produção nacional de veículos (leves, motos, ônibus e caminhões), as vendas de produto nacional, de produto importado e as exportações. Os números marcados em vermelho são os anos de retração das variáveis estudadas e em azul o número recorde. Como se pode notar, os recordes estão quase todos marcados no ano de 2010, e provavelmente muitos vão migrar para 2011, por conta do desempenho das variáveis estudadas até o momento e das projeções. Como se percebe, as exportações caíram entre 2005 e 2009, mas tiveram boa recuperação em 2010, apesar do câmbio. Ou seja, a taxa cambial não pode ser responsabilizada isoladamente pelo desempenho das exportações. Mais do que isso, a absorção interna (aquisição de nacionais e importados) e a absorção de veículos nacionais (venda interna de nacionais somadas às exportações de nossa produção) estão crescendo desde 2004, consecutivamente. A produção nacional vem crescendo, a importação também, mas os estoques não estão se acumulando.
Tudo indica, inclusive, que as exportações são variáveis estratégicas para a indústria que avança mais sobre o mercado externo quando o mercado interno não vai tão bem, provando que exportar também é uma questão de opção, em grande medida. Claro, vender ao mercado interno é a melhor opção para a indústria, até porque o cliente já é um velho conhecido e o grau de exigência ainda não se compara com o internacional. Até mesmo por isso a briga contra os importados extrapola o problema imediato de desovar a produção nacional. Pode ser simplesmente uma estratégia para que o consumidor não fique muito acostumado com veículos importados de preço competitivo, com características melhores e atendimento ao cliente diferenciado. Vale mencionar que os dados acima são todos da ANFAVEA, o que torna oficial para contrapor a posição de que há risco de encalhe da produção nacional. Na realidade, a variação de estoques (produção nacional + importação – vendas internas de nacionais – exportações) tem sido negativa nos últimos anos. Como essas vendas são no atacado, quem poderia reclamar são as concessionárias, pois parte do estoque ainda pode estar parado nas lojas, mas mesmo isso é duvidoso que tenha sido recorrente durante os últimos 12 anos. Antes disso um ajuste teria sido feito, com encomendas menores o que faria a indústria reduzir o ritmo. Abaixo a tabela de variações ano a ano e da variação acumulada e a média anual dos 12 anos, de cada variável, para completar o raciocínio.


Assessoria técnica

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