A Fecomercio vem alertando para o fenômeno desde que o Banco Central (BC) começou a elevar a Selic e adotar medidas restritivas ao consumo. O diagnóstico de inflação de demanda é falho, em nossa opinião. Portanto, o remédio é pouco eficiente e traz muitos efeitos colaterais. Evidente que o BC deveria mesmo adotar medidas para conter a inflação, e certamente dentre as medidas o alívio da pressão de consumo seria importante. Acontece que essa foi, na prática, a única medida, quando a Fecomercio via outras hipóteses adjacentes e complementares.
Um dos erros que verificamos na ação de combate à inflação está calcado sobre a política cambial. Sob o fogo da indústria, o governo começou a conter a valorização do real. O problema é que a moeda nacional tem trajetória de desvalorização por conta dos preços internacionais das commodities. Essa valorização de nossa moeda funcionou por quase dois anos como a válvula de escape para que a pressão dos preços internacionais de commodities importantes não contaminasse o ambiente interno. A partir do momento em que o governo interferiu para conter a valorização da moeda, internalizou-se a inflação mundial dos preços básicos. Esse erro custou caro em pressão de alimentos e está custando caro em juros.
Não nos iludamos: as taxas de juros elevadíssimas que temos no Brasil condicionam nosso crescimento de longo prazo. São fortes obstáculos ao consumo e ao investimento, e não estamos só falando da Selic, mas das taxas praticadas para a Pessoa Física e Jurídica. Se no momento o consumo ainda cresce modestamente, o desemprego é baixo e a inadimplência controlada, isso não garante que essas variáveis não venham a nos incomodar ainda em 2011. Ao contrário, a Fecomercio mostra sua preocupação já neste ano:
1. O segundo semestre terá crescimento abaixo das projeções;
2. O consumo deste ano pode surpreender negativamente;
3. A inadimplência por hora controlada deve se elevar até o final do ano;
4. O ritmo de investimentos que vinha se elevando desde 2009 vai retroceder em 2011, o que prejudica o desempenho de 2012;
5. Todo benefício que o País teve com a alta dos preços das commodities – que somos grandes produtores e exportadores – estamos jogando fora com políticas equivocadas. Talvez esse bom momento para nossos produtos demore muito a acontecer novamente.
A inadimplência ainda está abaixo da média do mesmo período do ano passado (se bem que para a PJ já começou a subir), mas o desenho é de elevação no médio prazo, bem como os custos dos financiamentos que devem espantar cada vez mais o consumidor e restringir a taxa de crescimento da economia.
As medidas adotadas desde o final de 2010 estão ainda surtindo efeito, até porque em média as taxas de juros vão subindo gradativamente porque parte dos financiamentos já estavam acertados com taxas menores. Na medida em que novos financiamentos mais caros vão sendo feitos e os antigos pagos, essa taxa média tanto para PF quanto para PJ sobem. Portanto, o que estamos vendo ainda não é o pior momento dessa história. Os juros à pessoa física atingiram em abril 46,8% ao ano em média, saltando do patamar de 39% ao ano em novembro. Essa taxa é 14% maior do que a de abril de 2010 e é a maior dos últimos 23 meses.
Se hoje inadimplência, emprego, renda e crescimento do consumo não preocupam, sendo apenas a inflação o foco de problemas, acreditamos que no final de 2011 essa lógica possa estar invertida, e o grande problema do País volte a ser o baixo crescimento. Na realidade, a Fecomercio não defende trocar um pouco de inflação por um pouco de crescimento, pois sabe que essa receita não é boa, mas também sabe que o combate à inflação da forma que vem sendo feito é ineficiente e muito custoso para a sociedade como havemos de ver em breve.
Assessoria Técnica
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