quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sigilo nos gastos nas obras da Copa do Mundo

Transparência e sigilo são palavras que não combinam, são antagônicas. Tudo que tem que ser sigiloso (e existem assuntos que devem ser) não pode, por definição, ser transparente. Quando o Brasil foi definido como sede da Copa do Mundo de 2014, o então presidente Lula garantiu que não haveria superfaturamento e que todas as obras e gastos seriam transparentes. Na ocasião, foi até informado que todos os gastos seriam divulgados na internet, para que não houvesse desconfiança. Daquele momento para cá, muita coisa mudou – e para pior.
Antes mesmo das obras, os orçamentos começaram a pipocar, e a cada nova estimativa, mais algumas dezenas ou centenas de milhões eram adicionadas a cada estádio. Isso apenas para se falar de estádios, que não são as únicas obras que o Brasil precisa para receber o evento. Quanto mais atrasadas as obras parecem, mais o montante de dinheiro necessário cresce, aumentando a disposição dos anfitriões em fechar um pouco os olhos para acelerar o processo. Coincidência ou não (preferimos acreditar que sim), surgem as alternativas heterodoxas, como aprovar em caráter de urgência um Projeto de Lei que cria o sigilo sobre o andamento e custos das obras.
Ou seja, quanto mais atrasado estivermos, mais urgência teremos e mais reféns de empreiteiras e negociantes seremos. Vamos dar um prêmio cada vez maior a quem atrasar mais. Parece estranho, mas no fundo estamos gerando um bônus, um adicional de performance, para quem justamente não tem bom desempenho até o momento. O país do futebol não tem condições hoje de receber um evento dessa magnitude, ao menos de forma adequada. E, por isso, vai pagar mais para quem se mantiver muito aquém das expectativas e atrasando o cronograma. Resumindo, o país com mais títulos de futebol do mundo pode realizar uma das Copas menos atraentes, um evento pouco memorável. Sem contar que, sem planejamento, vai gastar muito, fazer pouco e deixar praticamente nada de legado.

Justamente para garantir que se gaste o mínimo possível e se deixe o máximo de benefícios à população, ao menos nas cidades-sede, o controle social deveria ser ampliado, e não suprimido. Deve-se sempre lembrar que a Copa do Mundo dura um mês e que cada estádio – que custará entre R$ 500 milhões e R$ 1,2 bilhão, com tendência de alta – vai receber apenas quatro ou cinco jogos. Não é um grande negócio edificar um estádio de milhões para quatro semanas de uso, sabendo que no entorno falta metrô, segurança, educação. Pior é que, se o mundo notar (e deve estar cada vez mais atento aos preparativos) que o País não está preparando sua infraestrutura de forma adequada, a Copa tende a ser um fracasso de público também, pelo menos em termos de receitas de turistas estrangeiros.
A Copa da África do Sul padeceu desse problema, pois não atraiu turistas como se pensava. Muitos jogos tiveram ingressos distribuídos às pressas para evitar um vexame de estádios caros e vazios. Se em 1994 os Estados Unidos deram um show na realização de um evento esportivo do qual eles pouco conhecem, se na Alemanha a Copa foi um sucesso muito além da beleza dos seus magníficos estádios, na África do Sul o evento teve de diferente apenas o continente de realização. O Brasil vai receber uma Copa do Mundo após 64 anos, e não podemos mostrar um amadorismo digno de 1950 e instituições fracas como nos tempos de Getúlio Vargas e Gaspar Dutra. A vergonha de perder um título em casa não se compara à vergonha de deixarmos passar mais essa oportunidade de fazermos as coisas certas e provarmos ao mundo que o País mudou, e que desponta como uma opção de super economia ocidental viável e confiável. Mais, não menos, transparência!

Assessoria Técnica

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