sexta-feira, 10 de junho de 2011

Falta de informações (ou comodismo em excesso) onera o bolso do consumidor

Entra a taxa básica de juros (a já elevada Selic) e os juros praticados no mercado, a distância é muito grande. Em média, segundo o Banco Central (BC), as taxas de juro ao consumidor pessoa física estão ao redor de 47% ao ano, ou seja, 3,3% ao mês. Esse diferencial, chamado de spread bancário, engloba tributos, custos administrativos, risco e o lucro bancário (que não é exatamente pequeno). Ou seja, quando se compra a prazo, deve-se ter em mente que os bancos e as financeiras não são casas de caridade e parte do que é pago se destina a juros e não ao produto. Em outras palavras, quando um bem é adquirido a prazo, o total pago excede, e muito, o valor à vista desse produto ou serviço.

Isso não é nenhuma novidade e – espera-se – muito provavelmente o consumidor sabe disso. Tem ciência que, quando paga parcelado está gastando mais, muito mais, do que quando pagaria à vista. É verdade também que às vezes não é possível quantificar em dinheiro o prazer de comprar hoje ao invés de esperar e poupar. Essa pressa é diretamente proporcional à taxa de juros. Se o brasileiro fosse um povo de perfil mais poupador, certamente as taxas de juros seriam menores no mercado. Outro aspecto impossível de quantificar é a necessidade. Muitas vezes o consumidor quer poupar, sabe que é a melhor solução, porém se vê diante de algum problema que exige gastos de recursos que ele não dispõe na hora. Um acidente de carro, uma enfermidade na família, a quebra de um eletrodoméstico importante como um refrigerador. Nesses casos, o consumidor se vê obrigado a recorrer ao financiamento. Portanto, quanto maior a pressa e/ou a necessidade, maior a taxa de juros que está disposto a pagar, maior a renúncia que faz do dinheiro em prol do imediatismo.

Tudo é compreensível, inclusive a pressa. Mas ainda que se considere que o consumidor sabe que paga juros, sabe das vantagens e desvantagens de poupar, e também sabe mensurar necessidade e prazer, não é uma tarefa fácil explicar por que existem tantas discrepâncias entre as taxas de juro cobradas por diversos bancos, financeiras e administradoras de cartões. Não dá, efetivamente, para entender por que alguém escolhe pagar mais, quando pode pagar menos. Nesse caso não é uma questão de pressa ou necessidade, é apenas de escolha, em muitos casos. A tabela abaixo ilustra bem essas situações:

Como se pode notar, as carteiras têm taxas de juros muito distintas entre si. Enquanto o cartão de crédito chega a cobrar mais de 240% ao ano para financiar os consumidores um tanto apressados – e certamente acomodados –, existem carteiras que custam oito vezes menos. A simulação da tabela comprova que, entre ir ao banco pegar um financiamento de Crédito Direto ao Consumidor (CDC) ou escolher pelo meio mais rápido e cômodo, a diferença é muito grande, e não há racionalidade que explique esse padrão de comportamento. Até porque não é pequeno o número de consumidores que se endivida com cartão de crédito ao invés de ter um pouco mais de trabalho para pesquisar alternativas muito melhores.

Vale lembrar que não se trata de decidir entre comprar a prazo ou poupar, e sim de comprar a prazo da melhor maneira possível. Os jornais e a mídia em geral estão cheios das reclamações dos abusos de financeiras e das redes de cartão de crédito. Indignados estão muitos consumidores com sua sorte, mas lamentamos dizer que, em parte, a culpa é, nesse caso, de quem se faz de vítima. Ao invés de reclamar, o consumidor muitas vezes poderia ter optado por não se render ao comodismo e à tentação do segundo, e esperar não meses, mas talvez um dia ou dois a mais para fazer um negócio bem melhor. Quem está disposto a gastar R$ 2.800 ao invés de R$ 1.460 deveria receber um cartão de natal em agradecimento das administradoras de cartão de crédito ou dos gerentes das pessoas que abusam do cheque especial.

Assessoria Técnica

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