quinta-feira, 16 de junho de 2011

China desacelera e nos enche de inveja

O PIB chinês está crescendo um pouco mais de 10%, abaixo dos 11% que vinha se expandindo. A produção industrial aumentou 13,3% em maio em relação ao mesmo mês do ano passado. Em abril, o crescimento era de 13,4%. As vendas no varejo em maio subiram 16,9% e, em abril, a taxa foi de 17,1%. Com tudo isso acontecendo e as “evidências” de desaquecimento, a inflação não cedeu e, ao contrário, o acumulado em 12 meses encerrados em maio ficou em 5,5%, acima dos 5,3% de abril. O Banco Central da China tomou providências para conter ainda mais o crescimento e a inflação, elevando os depósitos compulsórios dos bancos de 21% para 21,5% e mantendo a taxa de juros em 4,5%.
O parágrafo acima parece ser um escárnio perante nossa economia. O chamado desaquecimento do país prevê crescimento de 11% neste ano, sendo que a produção industrial deve atingir uma taxa ainda maior (13% a 14%) e o consumo quase 20%. Tudo isso com uma inflação “indomável” de 5,6%, mesmo com as altas taxas de juros e os compulsórios elevados! Essas taxas de juros e esses compulsórios chineses seriam motivo para comemoração épica no Brasil, sem contar o crescimento de dois dígitos e a inflação que estaria dentro da meta brasileira.
Para que um cenário tão distinto seja aceito, algo deve estar muito errado aqui, ou muito certo no equilíbrio macroeconômico chinês. Podemos dizer que, de fato a lógica do crescimento chinês é mais bem acabada do que a nossa. Em primeiro lugar, a dívida pública chinesa é inferior a 20% do PIB, enquanto a brasileira ronda os 45%. Os custos de juros sobre o PIB no país oriental são inferiores a 1% e aqui maiores do que 5%. Para completar, nossa taxa de poupança (portanto de investimento) não chega a 20% do PIB enquanto na China é superior a 40% de todo produto nacional. Esses fatores são suficientes para explicar o fantástico desempenho chinês.

Dá para atingirmos esses patamares de crescimento?
A resposta seca é não. Até mesmo porque para atingirmos uma taxa de crescimento chinesa sem criarmos outros desequilíbrios sérios na economia, teríamos que emular algumas das condições lá existentes. Para começar o nível de consumo das famílias teria que cair bruscamente. A dívida pública teria que ser drasticamente reduzida, e, consequentemente, isso deveria ser feito com cortes profundos de gastos do governo, e não com elevação da carga tributária. Ou seja, a poupança do País teria que mais do que dobrar. Para que isso ocorra é necessário de que ao menos uma geração abra mão de uma boa parte do conforto de consumo hoje obtido. Também é necessária uma reforma fiscal quase bíblica. Portanto, não é factível vislumbrarmos taxas de crescimento chinesas no Brasil, até porque o esforço seria mesmo sobre-humano.

A resposta mais palatável é não, porém, podemos melhorar, muito, o que temos. Se não é razoável imaginarmos uma redução drástica do consumo das famílias, é possível, através de mecanismos adequados, estimularmos a poupança das famílias e os investimentos de empresas. Para tanto, a carga tributária deve privilegiar a poupança e estimular o investimento e o reinvestimento. Também é necessário que o governo corte gastos gradativamente para que a dívida pública se reduza e com ela a taxa de juros média no País. Não se espera uma dívida pública de 20% do PIB, mas é razoável algo pouco abaixo de 40% do PIB. Também é razoável pleitearmos déficit nominal zero, que também somente virá gradativamente com cortes de gastos. Esse cenário é complexo, de difícil execução, porém possível. Se o País não saltará para taxas de crescimento de 12% a 15% ao ano, atingirá certamente 5% ou 6%, muito melhor do que a média que presenciamos hoje.
Assessoria Técnica

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