terça-feira, 14 de junho de 2011

Cenários político e internacional sufocam notícias da economia brasileira

A semana passada foi marcada por notícias relativamente positivas no cenário econômico nacional. Os indicadores de inflação começaram a mostrar desaceleração, as tendências de acomodação de preços estão ficando mais evidentes e o consumo, renda e emprego das famílias parecem preservados até o momento.

Existem indícios de desaquecimento em alguns setores do varejo e da indústria, uma leve tendência de alta da inadimplência, segundo dados do Banco Central (BC) e as projeções de crescimento do PIB foram levemente ajustadas para baixo. Todavia, essas notícias de tendência média ruins já estavam “precificadas” pelos agentes econômicos. A rigor, a expectativa era de números um pouco piores para o varejo, conforme o IBGE, e uma pressão mais forte do IPC Fipe e do IGP-M prévios de junho. Portanto, a semana trouxe, relativamente, boas notícias. Não para quem investe na bolsa, e vamos tentar entender o que está por trás de semanas de mau humor.
Os desafios de 2011 eram e são muito grandes para que não criem dúvidas sobre as condições de sairmos “do outro lado do rio” intactos após a travessia turbulenta. Além desse aspecto, havia também a percepção – acertada, como depois vimos – de que a coordenação política e o ambiente institucional em geral não iam tão bem. A intervenção na Vale e o péssimo ambiente regulatório criado para o Pré-sal também trouxeram muitos maus resultados para as duas maiores empresas em volume de negociação (e lucro real, e produção, e geração de caixa e ativos etc.) da bolsa. O fator inflação, que começa a deixar as manchetes, também perturbou e provocou equívocos de ação e comunicação da equipe econômica.

Tudo isso passado, o cenário externo voltou a recrudescer com o agravamento da crise na Grécia, em Portugal e com a percepção de que a recuperação americana e europeia vão ser mais lentas do que se gostaria. Para completar, o Japão está de fato entrando em uma recessão. Provavelmente no ano que vem esse cenário externo seja muito melhor, principalmente por conta dos ajustes que devem ser feitos na Europa, pela necessidade de reconstrução de parte do Japão e pela retomada americana, que pode vir de fato já neste final de ano.
Para completar, o BC deu pouca atenção aos indicadores de desaceleração da economia, menos ainda para as projeções da inflação nos próximos meses e elevou a Selic de 12% para 12,25%, ou seja, o que já era alto está atingindo a estratosfera. Para completar, a redução da expectativa inflacionária das últimas semanas combinada com a alta da Selic elevou fortemente a taxa real de juros nos mercados futuros de 180, 360 e 720 dias. Como se vê, tinha tudo para a semana ficar agitada no mercado acionário.

O Ibovespa caiu 2,6% na semana e voltou aos patamares de quase um ano atrás. No ano, a queda é de 9,5%, e nada indica uma recuperação rápida, principalmente enquanto a renda fixa se mantiver tão atraente e o ambiente político não se consolidar definitivamente com a percepção de que de fato existe uma “marca Dilma” no governo e que essa marca tem controle, comando e conteúdo.

Os mercados não são contra ou a favor deste ou daquele presidente ou partido político, mas são muito cruéis quando consideram que não há o devido direcionamento das políticas econômicas. Não poupam ninguém e o custo sempre é alto quando se tenta subverter essa lógica.

Assessoria Técncia

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