sexta-feira, 17 de junho de 2011

O mundo de cabeça para baixo

O Brasil tem um dos menores riscos de crédito do mundo. Alguns países da Europa estão às voltas com as pressões do Fundo Monetário Internacional (FMI), e muitos à beira de dar um calote em suas dívidas. Os Estados Unidos continuam registrando fraco crescimento e com problemas no setor bancário. China, Rússia, Índia e Brasil a caminho de serem as maiores economias globais em uma ou duas décadas. Esse cenário, se descrito há 20 anos, seria alvo de piada, e o seu autor talvez tivesse sido internado em manicômio. Mas esse relato é factual, não uma hipótese.
A Grécia, país da moda para os arautos da crise perpétua, está passando por situações que os brasileiros com mais de 40 anos de idade são bastante familiarizados. O FMI ditando regras, distúrbios políticos, greves, colapso do sistema público e risco de desmantelamento das instituições. O desfecho desse turbilhão será demorado e certamente custoso. Não haverá vida fácil para o governo grego e os próximos anos serão de fraco desempenho econômico. As receitas do FMI também são velhas conhecidas: corte de gastos públicos, aumento de impostos e remodelação da dívida. Esse episódio histórico prova que a exigência de austeridade e de equilíbrio macroeconômico não eram apenas exigências vãs dos países ricos para com os países mais pobres. As leis da economia também se impõem para os ricos. Na realidade, para todos.
O episódio grego também é fonte de nervosismo nos mercados internacionais. Em parte, o mau humor deve persistir enquanto o cenário europeu não dissipar certas dúvidas como a capacidade de voltar a crescer ainda nesta década. Não é brincadeira: a percepção de mercado é de que a Europa deve sentir os efeitos do exagerado gasto do well-fare state (estado de bem-estar social) durante muitos anos. Assim como o Japão, não será surpresa se o velho continente ficar estagnado por mais de uma década. Vale ressaltar que a alta das commodities no mercado internacional da mesma maneira que contribui para o crescimento dos emergentes, restringe o desenvolvimento dos países mais ricos.  Ou seja, o cenário não é bom para a “Eurolândia”.
Na realidade, se existe uma economia rica que pode voltar a crescer ainda em um prazo relativamente curto é a norte-americana. As condições para crescimento ainda são mais abundantes nos Estados Unidos do que na Europa ou no Japão. A distribuição etária da população, a disponibilidade de recursos naturais e o fato de a moeda ser a principal nas trocas internacionais garantem condições excepcionais aos americanos que não são facilmente encontradas no restante do Hemisfério Norte. Além disso, a relação comercial entre Estados Unidos e os BRICs é bastante intensa e deve ser decisiva na recuperação da maior nação do mundo. Nesse aspecto, o Brasil terá papel muito importante, pois além da proximidade geográfica com os Estados Unidos, tem uma identidade cultural e institucional muito maior com os americanos do que Rússia, China ou Índia (ou outros países emergentes relevantes, que são poucos).
O caso grego é também muito importante para nos lembrar de uma falácia que está sendo propagada sobre eventos que o Brasil irá receber. O “início do fim” da Grécia foi exatamente a malversação de recursos públicos e os pesados gastos demandas para a organização das Olimpíadas de 2000. Se aumento voluntário de gastos públicos pudesse ser a solução eterna para o desenvolvimento de um país, por que esperar uma Copa ou uma Olimpíada? Os gastos públicos devem sempre privilegiar setores considerados investimentos. Se a construção de estádios for paralela à construção de metrô, ampliação da capacidade de transmissão de dados, melhorias estruturais no entorno, o legado terá um custo, porém também benefícios por muitos anos. Um estádio ermo e ocioso não é um legado do qual devamos nos orgulhar.
Assessoria Técnica

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