terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Uma semana de boas notícias, mas cuidado, nada está definido

Numa semana em que os europeus deram um forte sinal de que entenderam que vão ter de sujar as mãos para sair do atoleiro, o mercado recebeu essa notícia com otimismo. Bom, pelo menos algo será feito. Só por isso a bolsa em São Paulo subiu 5,5% e o dólar caiu 5,2% na semana. Basicamente o que mudou é que se iniciaram algumas conversas a respeito do papel do Banco Central Europeu (BCE) e também é oficial a possibilidade de alguns dos mais importantes bancos centrais do mundo, inclusive o Fed dos Estados Unidos e o BOJ do Japão, atuarem em conjunto. Essa atuação era chamada de orquestração. Ainda pairam muitas dúvidas sobre os rumos da Europa e sobre os efeitos dessas novas metas de atuação conjunta. As principais dúvidas são:
1.         Os Bancos Centrais vão de fato adotar medidas que aumentem as linhas de crédito de imediato para as necessidades urgentes?
2.         O acordo é factível ou não existem condições de operacionalização para linhas de crédito e de empréstimos flexíveis inter Bancos Centrais?

3.         Os europeus entenderam de fato o risco de deixar desmoronar o Euro?

Para nós, em geral as chances de funcionamento são grandes e amplas, porém, não sem antes muitos meses de ajustes e resgates de emergência à moda antiga ao longo do caminho. O fato de terem essas economias percebido a necessidade de firmarem um acordo mais explícito de colaboração em que constassem ações efetivas para que não haja falta e/ou empoçamento de liquidez, é o diferencial neste momento. Conforme estamos alertando há tempos, nenhuma solução será indolor ou incontestável. Também a hipótese de que os ajustes fiscais na Europa sejam feitos sem problemas políticos sérios internos a cada país, é nula.
A retomada do crescimento na Europa pode demorar alguns anos e nos Estados Unidos deve começar em 2012, porém ainda lentamente. A redução do desemprego é ainda mais problemática e demorada. Na realidade os problemas sociais e políticos internos de cada país são função direta da taxa de desemprego, ou seja, medidas de ajuste, tradicionalmente recessivas, serão fortemente contestadas e isso deverá gerar o crescimento dos movimentos de oposição na Europa. Também é esperado um acirramento dos movimentos nacionalistas, outro efeito colateral muito normal. Neste momento o nacionalismo que deve se exacerbar é o de direita, visto que em sua maioria foram os governo de orientação de esquerda que levaram a Europa a esse momento.

Na realidade foram medidas de esquerda de pouco controle de gastos e exagero de benefícios sociais (welfare) que trouxe a Europa para essa posição. A contraposição com os Estados Unidos não é bem válida, pois foram as mesmas famílias de medidas que complicaram a equação em uma economia pujante. Foram gastos enormes em um esforço de guerra que completa quase 10 anos. A grande diferença é que nos Estados Unidos foi a direita que exagerou nos gastos. Neste momento, um governo democrata não está tendo muito clara essa visão de que o ajuste deve ser feito com a redução do Estado, o que retarda a resolução da questão. Ironicamente têm sido governos Republicanos que atuam para descontrolar as contas públicas (Bush pai, por exemplo) e Democratas para organizar a casa fiscal (Clinton, por exemplo). O presidente Obama tinha tudo para repetir a receita de sucesso, mas preferiu alguns caminhos mais demagógicos como culpar os ricos e o mercado financeiro unicamente e projetar mais gastos pagos com mais tributos sobre fortunas. Caminho errado, se for definitivamente adotado, e essa pode ser a diferença de uma recuperação mais rápida e robusta e um martírio mais prolongado das economias globais.



Assessoria Técnica

Nenhum comentário:

Postar um comentário